Bertha Maakaroun

Essas formigas respondem por 35% das picadas de insetos em humanos: com a mand�bula cortam a pele da v�tima e injetam veneno com propriedades t�xicas, que provoca dor intensa. Al�m de dolorida, o seu ataque provoca bolhas, alergias e at� choque anafil�tico. As picadas nunca s�o solit�rias. Em quest�o de segundos, sobem rapidamente e em quantidade pelas pernas das pessoas. Centenas de ferroadas atingem principalmente crian�as e idosos distra�dos, que pisaram nos ninhos.
Como combater a praga esta � a quest�o a que se dedica F�bio Prezoto, professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordenador do Laborat�rio de Ecologia Comportamental e Bioac�stica (Labec), desde 2011 investigando o comportamento desses animais em busca de maior efici�ncia para extinguir essas formigas.
Depois de acompanhar por mais de um ano centenas de col�nias de lava-p�s encontradas no pr�prio campus da UFJF, agora Prezoto entra em uma nova fase do projeto “Como reduzir acidentes com formigas lava-p�s”: coleta dados para testar alternativas de combate. At� meados do ano que vem, ele, que j� tem publica��es internacionais sobre o tema, apresentar� nova possibilidade de controle. O projeto envolve colabora��o cient�fica de 12 professores, entre eles Odair Correa Bueno, e alunos de tr�s institui��es: al�m da UFJF, o Centro de Estudos de Insetos Sociais, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, e o Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.
ARQUITETURA DO NINHO “Ainda n�o h� produto espec�fico j� testado para o controle desta esp�cie. Os inseticidas usados para o combate de outras esp�cies nem sempre s�o suficientes para eliminar a col�nia, que � profunda”, explica. Quando aplicado, o inseticida atinge apenas uma por��o do formigueiro. “Ainda n�o conhecemos toda a arquitetura do ninho, mas as col�nias se comunicam. Quando acertamos uma por��o do ninho, verificamos que o restante da col�nia migra e se junta a outra nas proximidades”, afirma Prezoto.

O tamanho das col�nias varia de acordo com a �poca do ano. “No per�odo chuvoso � mais f�cil escavar o solo por causa da umidade. Por isso ficam maiores no ver�o e menores no inverno”, assinala Prezoto, acrescentando que para um combate mais eficiente e menos agressivo ao meio ambiente, a pesquisa indica que o inseticida deve ser aplicado durante o per�odo de seca – de abril a setembro, conforme artigo publicado por ele na revista Florida Entomologist, em junho do ano passado.
INFESTA��O Diferentemente de outras esp�cies, que pela restri��o de recursos e de alimenta��o n�o encontram tudo o que necessitam para a sua sobreviv�ncia em centros urbanos, as formigas lava-p�s apresentam um enorme sucesso em ocupar ambientes alterados, pouco favor�veis � biodiversidade. “Essa esp�cie prospera muito em cidades”, considera Prezoto, lembrando que no Norte, frequentemente, moradores de v�rios munic�pios enfrentam infesta��es, como j� ocorreu em Novo Aripuan�, a 220 quil�metros de Manaus. Quintais que eram utilizados para ro�as foram praticamente abandonados. Grilos, lagartos e ratos desapareceram da cidade e at� atividades rotineiras, como brincadeiras no p�tio e conversas embaixo das �rvores, passaram a representar risco � popula��o. Experi�ncia semelhante j� tiveram no mesmo estado as cidades de Eirunep�, Envira e Novo Air�o.
As formigas lava-p�s s�o predadoras vorazes. “Elas se aproveitam de restos de alimentos variados, � disposi��o no ambiente. O pr�prio lixo gerado � grande fonte de recursos. Nos jardins, elas se alimentam da fauna de insetos”, afirma Prezoto. Elas s�o dif�ceis de controlar. “Nosso objetivo final �, ao compreender a biologia desses animais, entendendo seus h�bitos e comportamentos, tra�ar uma medida de controle o mais perto poss�vel da efic�cia completa.”
Lado ben�fico
A formiga � o bicho mais abundante da Terra. Se for feito um quadrado na floresta amaz�nica de 100x100 metros, ser�o encontradas 8 milh�es de formigas no solo. S�o conhecidas mais de 12.600 esp�cies, mas estima-se que esse n�mero possa chegar a 20 mil esp�cies. Apesar dos danos que causam, as formigas s�o organismos ben�ficos para todos os ecossistemas terrestres. Promovem a aera��o do solo, incorporam nutrientes ao solo, polinizam plantas, s�o eficientes predadoras de outros artr�podes, manipulam sementes para sua alimenta��o, promovendo a germina��o de algumas esp�cies de plantas, que sem esta interfer�ncia n�o germinariam com sucesso.