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Estado de Minas

Estudos questionam ideia de que c�rebro entra em decl�nio ao passar dos anos


postado em 17/05/2015 14:20 / atualizado em 17/05/2015 14:37


(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)
Eles trocam os nomes dos filhos e est�o sempre esquecendo onde colocaram as chaves. �s vezes, confundem as datas e, n�o raramente, t�m de recorrer aos netos para ajud�-los com o controle remoto. Por causa desses comportamentos t�o comuns entre os idosos, sempre se acreditou que, com o tempo, o c�rebro v� perdendo a for�a. Como o corpo, que enfraquece com o passar dos anos, a mente tamb�m entraria em decl�nio a partir da meia-idade. Ainda hoje, � a vis�o que prevalece entre leigos e m�dicos. Mas alguns cientistas come�am a desafiar essa l�gica.

Nas �ltimas d�cadas, as pesquisas melhoraram muito o conhecimento que se tem sobre o c�rebro, ainda t�o misterioso. H� at� muito pouco tempo, por exemplo, acreditava-se que n�o existia reposi��o de neur�nios. Agora, j� se sabe que, at� o fim da vida, novas c�lulas cerebrais s�o produzidas, mesmo que em menor quantidade. Outro conceito importante que vem mudando a neuroci�ncia � o da plasticidade, ou seja, a capacidade do �rg�o de se reorganizar, compensando fun��es comprometidas.

Essas descobertas come�aram a p�r em d�vida diversas cren�as. Um dos cientistas que questionam o lugar-comum do envelhecimento da mente � Joshua Hartshorne, p�s-doutorando do prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. Com a colega Laura Germine, da Universidade de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, o neurocientista resolveu investigar se o decl�nio cognitivo vem, necessariamente, com a idade avan�ada. O resultado, publicado na revista Psychologycal Science, foi surpreendente.

O desempenho de 50 mil pessoas de 10 a 89 anos em uma bateria de testes cognitivos on-line levou Hartshorne e Germine � conclus�o de que, enquanto algumas fun��es diminuem com a idade, outras melhoram – e muito. Determinadas habilidades v�o atingir o pico somente entre os 60 e os 70 anos. Para os neurocientistas, essa � mais uma evid�ncia de que a dicotomia velho/novo est� ultrapassada e precisa ser adaptada aos conhecimentos atuais sobre o funcionamento do c�rebro. “Os efeitos do envelhecimento sobre a cogni��o t�m muito mais nuances do que sugere a simples divis�o entre intelig�ncia cristalizada e intelig�ncia fluida”, afirma Hartshorne.

Complexidade Segundo essa classifica��o, existem dois tipos de habilidade cognitiva. A cristalizada refere-se a conhecimentos s�lidos, adquiridos ao longo do tempo. N�o h� d�vidas de que, com o tempo, tende-se a saber mais. Dentro de uma mesma realidade socioecon�mica e cultural, uma pessoa mais velha muito provavelmente se sair� melhor em testes de vocabul�rio e conhecimentos gerais, por exemplo, que a mais nova. Isso apenas por ter vivido mais tempo. J� a intelig�ncia fluida est� associada � capacidade de resolu��o imediata de problemas — ou seja, ser esperto, sagaz e de racioc�nio r�pido. Ela � mais pr�tica e mais afiada em jovens.

O problema com essa divis�o et�ria simples, segundo Hartshorne, � que ela n�o leva em considera��o a complexidade das fun��es cognitivas. “De fato, muitas habilidades, especialmente a rapidez no processamento de informa��es e a mem�ria, atingem o �pice nos primeiros anos. Enquanto isso, a capacidade de utilizar todo o conhecimento acumulado s� vai chegar ao topo muito depois disso”, afirma. Mas alguns experimentos est�o demonstrando que a quest�o � bem mais heterog�nea — uma mesma habilidade pode ter picos em momentos diferentes da vida.

Em 2010, Laura Germine conduziu um estudo com o colega Ken Nakayama, tamb�m de Harvard, sobre a capacidade de reconhecer faces e se recordar delas ao longo da vida. “Muita gente — incluindo cientistas — acredita que o �pice dessa habilidade seja atingido na faixa dos 20 anos. O que n�s conseguimos mostrar em um estudo com 44 mil volunt�rios de 10 a 70 anos � que, na verdade, isso ocorre entre os 30 e 34 anos, uma d�cada depois do imaginado”, afirma Germine.

A neuropsic�loga conta que outras tarefas que exigem habilidades de mem�ria, como relembrar nomes, realmente atingem o pico aos 23, 24 anos. Contudo, o reconhecimento de face come�a a se afiar aos 10 e continua em uma curva ascendente vagarosa nos 20, chegando ao topo aos 30, quando, no estudo, foram obtidos 83% de acertos. Aos 65, a habilidade j� n�o � t�o boa, ficando semelhante � de um jovem de 16. Germine afirma que isso � uma demonstra��o de que o desempenho de uma mesma fun��o cognitiva pode flutuar dependendo da idade, indicando que a teoria da intelig�ncia fluida e da cristalizada precisa de uma revis�o.

Voc�bulos Agora, na pesquisa que a psic�loga fez com Joshua Hartshorne, essa ideia se consolidou. A cren�a convencional, baseada nas teorias sobre QI, � a de que o conhecimento de vocabul�rio chega ao m�ximo no fim dos 40 anos. “O que vimos foi que, na verdade, o pico ocorre por volta dos 70. Essa � uma habilidade, ali�s, que atinge o �pice cada vez mais tarde com o passar das gera��es. Ou estamos ficando melhores para lembrar e aprender palavras ou estamos encontrando novos voc�bulos muito mais tarde na vida do que pens�vamos”, diz Hartshorne. Ele acredita que isso seja resultado da melhoria da educa��o, do fato de o mercado de trabalho exigir, cada vez mais, que se leia muito e da preocupa��o, cada vez maior, de os idosos estimularem a mente.

Outra habilidade que melhora com o tempo � a percep��o social, a capacidade de decifrar e compreender o outro, por comunica��o verbal ou n�o verbal (gestos e express�es faciais). “Ela continua muito bem na meia-idade e n�o h� sinais de grandes decl�nios depois. Isso sugere que os adultos mais velhos podem, particularmente, ler e entender melhor os outros do que as pessoas mais novas”, afirma Hartshorne.

Na opini�o de Denise Park, professora de ci�ncias do comportamento e do c�rebro da Universidade de Texas em Dallas, o artigo � “provocativo”. Mas ela acredita que seja preciso aprofundar mais a investiga��o desse tema. “Um problema com o m�todo usado foi que, para conseguir abranger um n�mero t�o grande de participantes, os pesquisadores utilizaram resultados em testes feitos em sites de jogos on-line. Eles n�o acompanharam a evolu��o cognitiva dos participantes ao longo dos anos, ent�o, isso pode diminuir o efeito que as experi�ncias culturais diferentes t�m sobre o desempenho nos testes”, acredita Park, que n�o participou do estudo.

 

Palavra de especialista

Angela Gutchessangela, pesquisadora de envelhecimento e cogni��o da Universidade de Brandeis, nos EUA

 

Plasticidade permanente

“T�cnicas da neuroci�ncia cognitiva para o estudo do envelhecimento t�m revelado, de forma surpreendente, que, ao contr�rio do que se imaginava previamente, os c�rebros de idosos continuam male�veis e pl�sticos, de alguma maneira. A plasticidade � a habilidade de recrutar com flexibilidade diferentes �reas do c�rebro para executar diversas tarefas. Diferentemente de uma vis�o anterior e extremamente pessimista da velhice, os estudos de neuroimagem sugerem que o c�rebro dos mais velhos pode se reorganizar e mudar, e n�o necessariamente para pior. O c�rebro envelhecido � muito mais din�mico do que se pensava. Avan�os nos m�todos de pesquisa e uma boa quantidade de quest�es sob investiga��o v�o melhorar nosso conhecimento sobre as mudan�as cerebrais e as adapta��es do �rg�o ao longo  da vida.”

 


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