Em 1803, Friedrich Wilhelm Sert�rner deparou-se com um anest�sico poderoso, capaz de amenizar dores intensas e colocar algu�m para dormir em pouco tempo. Decidiu batiz�-lo de morfina, em homenagem ao deus grego do sono, Morfeu. A descoberta do farmac�utico alem�o se mostrou uma das maiores revolu��es da medicina. At� hoje, a droga � essencial para amenizar o sofrimento de pacientes que enfrentam, por exemplo, est�gios muito avan�ados de enfermidades. Mais de 200 anos depois, a subst�ncia est� prestes a ser o centro de outra revolu��o. Em um estudo publicado na revista Science, cientistas brit�nicos revelam ter desvendado o processo bioqu�mico de forma��o do medicamento, o passo que faltava para que o homem n�o dependa mais da folha da papoula para obt�-lo.
H� anos, pesquisadores buscam produzir morfina e outras drogas derivadas da planta, como a code�na, com a ajuda de leveduras (fungos) em laborat�rio. Alcan�ar o objetivo significaria um grande avan�o porque a fabrica��o do anest�sico se tornaria mais controlada e muito mais barata. O novo trabalho deixa a ci�ncia a um passo de realizar esse feito.
O grupo respons�vel pelo estudo come�ou as investiga��es a partir de folhas de papoula que n�o s�o capazes de produzir a morfina. A an�lise desses vegetais ajudou a equipe a chegar a uma pe�a essencial para a produ��o da subst�ncia. “Vimos que essas plantas t�m um defeito em um gene chamado STORR”, conta ao Estado de Minas Ian Graham, um dos autores do estudo e pesquisador do Departamento de Biologia da Universidade de York, na Inglaterra. A partir desse achado, a investiga��o se concentrou no papel desse gene.
Enzima O grande obst�culo que faltava ser superado para a produ��o da morfina com leveduras era compreender como a papoula reconfigura um composto chamado (S)-reticulina, transformando-o na variante (R)-reticulina. Os pesquisadores conseguiram ver que esse processo � possibilitado por uma enzima expressa pelo STORR, respons�vel por desencadear todo o processo de reconfigura��o.
“A descoberta do STORR completa o conjunto dos genes necess�rios para a engenharia gen�tica de produ��o de morfina em micr�bios, tais como leveduras, que pode competir comercialmente com a produ��o baseada em vegetais”, afirma o autor. Para isso, bastar� agora criar cepas de leveduras capazes de recriar o processo bioqu�mico desvendado.
Graham tamb�m acredita que a nova descoberta possa render a produ��o de outras drogas m�dicas, como a code�na, da mesma classe da morfina, e a noscapina, composto usado no tratamento de c�ncer. “Essa descoberta pode permitir tamb�m a cria��o de variedades de papoula sob medida, incluindo aquelas que produzem a noscapina”, destaca.
Segundo L�cia Pinheiro Santos Pimenta, professora do Departamento de Qu�mica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho mostra um processo antes desconhecido que pode, realmente, fazer diferen�a na produ��o do medicamento. “� um estudo muito interessante, no qual foi utilizada a engenharia gen�tica para determinar a enzima respons�vel pela produ��o da morfina”, avalia a especialista, que n�o participou do estudo.
Pimenta tamb�m acredita que os resultados trar�o novas estrat�gias de fabrica��o. “Com certeza, essa pesquisa vai abrir as portas para a obten��o da morfina utilizando micro-organismos por meio de fermenta��o biol�gica. Isso trar� grandes implica��es no processo produtivo do medicamento. No entanto, n�o podemos dizer ainda se ser�o leveduras ou outro tipo de organismo”, ressalta a brasileira.
Deixar de depender da papoula deve tornar a produ��o mais barata porque o cultivo da planta exige um grande investimento.
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Pesquisadores descobrem novo modo de fabrica��o da morfina
A nova droga troca o uso da papoula por plantas como a code�na. A descoberta promete tornar a fabrica��o do anest�sico mais controlada e barata
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