Chinelo sustent�vel � produzido a partir do �leo de algas marinhas
Cientistas americanos criam cal�ado sustent�vel. Material desenvolvido na Universidade
de San Diego � resistente e male�vel, e se degrada na natureza em apenas 16 semanas
Stephen Mayfield, professor de biologia da Universidade de San Diego e um dos respons�veis pela nova tecnologia (foto: Eric Jepsen/UC San Diego publications)
Os chinelos s�o um dos produtos mais populares no mundo e, assim como canudos e sacolas, se tornam um problema para o meio ambiente quando perdem a utilidade. Por serem feitos de pl�stico, eles demoram, em m�dia, quatro s�culos para se decompor quando descartados em aterros, lix�es e oceanos.
Para evitar esse ac�mulo de lixo, pesquisadores americanos desenvolveram um material feito a partir de �leo de algas marinhas que tem as mesmas propriedades da mat�ria-prima original dos famosos cal�ados e se degrada na natureza em poucos meses. O projeto foi publicado na revista especializada Bioresource Technology Reports.
Segundo os autores do estudo, 3 bilh�es de chinelos � base de pl�stico s�o produzidos a cada ano. “Mesmo que pare�a algo menor, � um produto descart�vel que todos usam. � o cal�ado n�mero um do mundo”, contextualiza, em comunicado, Stephen Mayfield, professor de biologia da Universidade de San Diego e um dos respons�veis pela nova tecnologia.
“S�o os sapatos de um pescador, de um agricultor, entre outros. Eles est�o presentes em centenas de pa�ses. E, de fato, um dos maiores poluentes do oceano � o poliuretano de chinelos e de outros sapatos que s�o jogados nos rios e fluem para o oceano”, detalha.
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Stephen Mayfield, professor de biologia da Universidade de San Diego e um dos respons�veis pela nova tecnologia
Mayfield e sua equipe trabalharam em parceria com uma f�brica de pranchas de surfe que constr�i os produtos esportivos com base em �leo de algas. Os pesquisadores desenvolveram uma espuma semelhante ao poliuretano, um pol�mero com textura parecida � de uma espuma.
“Dependendo de como voc� faz a qu�mica, pode fazer espumas duras ou macias usando �leo de alga. Muito do petr�leo que usamos hoje veio de algas antigas, e o �leo de algas rec�m-colhido � quimicamente semelhante”, explica Mayfield.
Os cientistas concentraram-se em atender �s especifica��es comerciais de sapatos de sola intermedi�ria, que precisam ser male�veis, fazendo movimentos de vai e vem, como os chinelos. Os resultados surpreenderam: a equipe conseguiu imitar as mesmas caracter�sticas da borracha.
Espumas utilizadas na produ��o de chinelos s�o 52% recicl�veis e a expectativa � chegar a 100% (foto: Eric Jepsen/UC San Diego publications)
“Nosso artigo mostra que temos espumas de qualidade comercial que se biodegradam no ambiente natural. Depois de centenas de formula��es, finalmente alcan�amos uma que atendia �s especifica��es comerciais. Essas espumas s�o 52% recicl�veis e, eventualmente, chegaremos a 100%”, diz Mayfield.
CICLO DE RE�SO Mas t�o importante quanto fazer os chinelos sustent�veis � desmanch�-los. Para evitar a cria��o de mais res�duos de pl�stico, o produto precisa ser biodegrad�vel em condi��es de compostagem tradicional por um curto per�odo de tempo.
Mayfield explica que poli�steres, biopl�sticos e pl�sticos de combust�vel f�ssil, entre outras op��es tradicionais, podem se biodegradar, mas apenas dentro de laborat�rio ou em compostagem industrial.
O pesquisador e sua equipe alteraram as liga��es qu�micas do biopl�stico de algas para que os sapatos desenvolvidos com o material permanecessem resistentes enquanto est�o nos p�s, mas se degradassem rapidamente quando descartados.
Em testes, eles emergiram a espuma feita de algas em um composto tradicional (solo) e descobriram que o material se degradou ap�s 16 semanas. Al�m disso, observaram que os subprodutos decompostos poderiam ser usados para criar materiais pl�sticos.
“Mostramos, ent�o, que poder�amos isolar os produtos despolimerizados, que se transformam em mol�culas menores, chamadas mon�meros, e us�-los em outras aplica��es, completando, assim, um ciclo de re�so”, diz o cientista. A equipe planeja que, a partir do pr�ximo ano, as pessoas poder�o “entrar na loja e comprar um
Jos� Tavares Araruna J�nior, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Centro T�cnico Cient�fico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), acredita que o projeto americano mostra dados iniciais animadores, mas precisa evoluir para que possa ser usado com seguran�a.
“A pesquisa � interessante e muito relevante ao buscar uma solu��o para a redu��o da utiliza��o de pl�sticos oriundos de combust�veis f�sseis. Ainda � cedo para afirmar que o biopl�stico desenvolvido venha a substituir os pol�meros atualmente empregados em sand�lias e chinelos. Faz-se necess�rio uma an�lise do ciclo de vida desse biopl�stico para evidenciar as suas vantagens e desvantagens”, explica.
Segundo o especialista, esse tipo de trabalho � uma tend�ncia mundial, que pode crescer ainda mais nos pr�ximos anos, proporcionando mais op��es de materiais sustent�veis. “H� v�rios grupos de pesquisa em engenharia de materiais e �reas afins que se dedicam ao desenvolvimento de pol�meros que sejam mais amig�veis ao meio ambiente e que permitam manter as caracter�sticas intr�nsecas a um cal�ado de boa qualidade: maciez, maleabilidade, durabilidade e resist�ncia”, enumera.
Skip Pomeroy, professor do Departamento de Qu�mica da universidade americana e tamb�m autor do estudo, enfatiza que a pr�pria sociedade tem demandado mais esse tipo de solu��o, o que estimula cientistas a buscar as inova��es.
“Felizmente, as pessoas est�o se preocupando com a polui��o do oceano por pl�stico e come�ando a exigir produtos que possam lidar com o que se tornou um desastre ambiental. E acreditamos que esse � o caminho a ser seguido daqui para frente.”
Mayfield lembra ainda que h� um grande descompasso entre o tempo de exist�ncia de algumas mat�rias-primas e o de seu uso.“A vida �til do material deve ser proporcional � vida �til do produto. N�o precisamos de um material que fica por 500 anos em um produto que voc� s� usar� por um ou dois anos.”
Composi��o complexa
Chinelos geralmente s�o feitos de materiais derivados do petr�leo, ou seja, de pl�sticos. Esses t�m a forma de pol�meros, uma estrutura complexa composta por milhares de micromol�culas. Alguns dos pol�meros usados como mat�ria-prima dos chinelos s�o poliuretanos, acetatos de vinila (EVA) e estireno butadieno (SBR).
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Vania Zuin, professora do Departamento de Qu�mica da Universidade Federal de S�o Carlos, em S�o Paulo
Mudan�as tamb�m em outras etapas
“Esse � um exemplo de algo que vem sendo muito buscado na �rea de pesquisa ambiental: o uso de biopol�meros feitos a partir de biomassas que podem ser biodegrad�veis. A pesquisa mostra um produto que pode ser produzido de forma sustent�vel, prejudicando menos o meio ambiente, e que pode se decompor apenas com a ajuda de micro-organismos do solo. Ainda n�o � uma tecnologia 100% renov�vel, como destacam os criadores, mas, ainda assim, esse � um passo importante e que pode evoluir para ser totalmente renov�vel.
� importante garantir que n�o s� a mat�ria-prima do produto seja sustent�vel, mas tamb�m a forma como ele � feita e o fim que ele vai levar. Todas essas etapas precisam ser consideradas. Essa � uma �rea de pesquisa tamb�m explorada por muitos cientistas brasileiros, mas temos sofrido com cortes de financiamento. Desenvolver trabalhos semelhantes a esse � uma tarefa dif�cil, e que se torna ainda �rdua com a falta de investimento. Precisamos de apoio para competir com projetos internacionais como essa pesquisa americana.”