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Estado de Minas TECNOLOGIA

Huawei, Trump, Bolsonaro e China: o que o Brasil tem a ganhar e perder se ceder aos EUA no 5G?

Brasil ter� que decidir sobre como implementar o 5G em meio a uma das disputas mais acirradas da guerra comercial entre Estados Unidos e China


21/10/2020 14:09 - atualizado 21/10/2020 17:30

A Huawei é a maior fornecedora de equipamentos para redes de telecomunicação do mundo(foto: Reuters)
A Huawei � a maior fornecedora de equipamentos para redes de telecomunica��o do mundo (foto: Reuters)

Em meio a tantos acontecimentos neste ano pode at� ser dif�cil de se perceber, mas os governos de diversos pa�ses — entre eles o Brasil — est�o em meio a discuss�es e decis�es que v�o revolucionar a forma como as pessoas trabalham, se relacionam e vivem.

Trata-se da implementa��o da tecnologia de quinta gera��o de telecomunica��es (5G). � primeira vista, o 5G � apenas uma atualiza��o dos sistemas de 4G j� existentes no Brasil — o uso de frequ�ncias de r�dio outorgadas pelo governo a operadoras de telefonia m�vel para transmiss�o de dados digitais.

Mas na pr�tica o 5G ser� muito mais do que isso. A velocidade esperada nas conex�es � da ordem de 10 a 20 vezes maior do que a tecnologia do 4G. Esse salto de efici�ncia permitir� mudan�as dr�sticas na forma como a sociedade funciona.

Um exemplo, entre centenas de possibilidades, � o desenvolvimento de carros aut�nomos — guiados por rob�s e sem motoristas — que � uma das maiores apostas da ind�stria automotiva para o futuro.

A tecnologia 5G permitiria interligar os carros em rede, organizando todo o tr�fego de ve�culos de forma segura e sem a necessidade de motoristas para tomarem decis�es.

Press�o sobre o Brasil

Em qualquer cen�rio, as decis�es sobre um leil�o dessa magnitude — que ser� o maior j� realizado no Brasil e um dos maiores do mundo — j� seriam pol�micas e dif�ceis.

Mas para piorar, o Brasil ter� que decidir sobre como implementar o 5G em meio a uma das disputas mais acirradas da guerra comercial entre Estados Unidos e China.

O governo do presidente Jair Bolsonaro vem sendo pressionado pelas duas superpot�ncias mundiais. O presidente americano, Donald Trump, chegou a falar abertamente, em julho, que est� em campanha contra os chineses na quest�o.

O centro da disputa � uma empresa chinesa, a Huawei, que � hoje l�der global na tecnologia 5G.

O mercado de telecomunica��es brasileiro � dominado por quatro operadoras gigantes (Vivo, Claro, TIM e Oi) que oferecem servi�os de celular aos brasileiros. Mas por tr�s desses servi�os, h� uma rede de equipamentos tecnol�gicos que s�o fornecidos �s operadoras por apenas tr�s empresas: a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e a Huawei. No Brasil, como em diversos pa�ses do mundo, a rede de 4G conta com tecnologia destas tr�s empresas.

Mas nos �ltimos anos os EUA iniciaram uma ofensiva contra a Huawei, que segundo os americanos representa um perigo de seguran�a nacional aos pa�ses que comprarem seus equipamentos.

A acusa��o � baseada na seguinte l�gica: se toda a sociedade estiver interconectada usando equipamento de uma empresa chinesa — o que incluiria sistemas de tr�nsito, de comunica��o ou at� mesmo de eletrodom�sticos "inteligentes" dentro dos nossos lares — todos n�s estar�amos vulner�veis a espionagem pelo governo da China.

A Huawei � uma empresa privada, mas uma lei de seguran�a aprovada pela China em 2017 permite, em tese, que o governo de Pequim exija dados de companhias privadas, caso a necessidade seja classificada como importante para soberania chinesa.

Os americanos querem que o Brasil adote uma licita��o que exclua o uso de equipamentos da Huawei por parte das operadoras — algo que j� foi adotado em outros pa�ses do mundo, como Reino Unido, Jap�o e Austr�lia.

A China nega todas as acusa��es e diz que o �nico interesse dos EUA � minar o crescimento tecnol�gico chin�s, que vem fazendo face aos americanos.

Ambos os lados da disputa sugerem que o Brasil poderia ser v�tima de san��es de um lado ou de benesses do outro, dependendo de como o pa�s decidir se posicionar.


Bolsonaro e Paulo Guedes receberam o assessor de segurança dos EUA, Robert O'Brien, esta semana(foto: Reuters)
Bolsonaro e Paulo Guedes receberam o assessor de seguran�a dos EUA, Robert O'Brien, esta semana (foto: Reuters)

O Brasil pretende realizar a licita��o do 5G em maio do pr�ximo ano. E o presidente Jair Bolsonaro declarou esta semana que ser� ele quem decidir� sobre a quest�o da Huawei e "ponto final".

Mas o que o Brasil tem a ganhar ou a perder, caso ceda �s press�es americanas?

Ganhar

At� agora, o principal incentivo para banir a Huawei � o alinhamento com os EUA.

Tamb�m est� subentendido que junto com esse alinhamento poderia vir algum tipo de ganho financeiro na rela��o bilateral.

Na ter�a-feira, autoridades brasileiras receberam uma delega��o do governo americano em Bras�lia para assinatura de uma carta de inten��es na qual o EximBank, o Banco de Exporta��o e Importa��o dos Estados Unidos, sinaliza que poder� investir mais de R$ 5 bilh�es em projetos de diversas �reas — "especialmente em telecomunica��es", segundo um comunicado do governo americano.

Outras duas coisas chamaram aten��o no evento. Primeiro a presen�a do assessor de Seguran�a Nacional dos EUA, Robert O'Brein, em Bras�lia, em um evento que deveria ser apenas, em tese, entre autoridades do setor econ�mico e financeiro.

Outro ponto foi o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, na cerim�nia da assinatura dos acordos. Ap�s frisar que o Brasil comercializa tanto com EUA como com a China, o ministro fez men��o direta � preocupa��o com seguran�a: "Ent�o n�s sabemos quem s�o nossos parceiros geopol�ticos e, ao mesmo tempo, praticamos com�rcio com todo mundo. A nossa aproxima��o com os americanos foi sempre, est� sendo, com base n�o s� em resultado econ�mico, mas tamb�m em seguran�a".

Em outro evento em Bras�lia esta semana, o assessor econ�mico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que Washington "encoraja o Brasil a observar a China com aten��o em rela��o a todo tipo de tecnologia, de telefonia e de 5G".


Executivos da Huawei se encontraram com Bolsonaro no ano passado(foto: Presidência da República)
Executivos da Huawei se encontraram com Bolsonaro no ano passado (foto: Presid�ncia da Rep�blica)

Os americanos n�o fazem nenhuma sugest�o expl�cita sobre apoio financeiro ao Brasil caso Bras�lia opte por banir a Huawei da sua rede de 5G.

Mas em fevereiro deste ano, o vice-presidente americano, Mike Pence, sugeriu que a quest�o Huawei pode trazer preju�zos econ�micos aos que tomarem posi��es contr�rias a Washington.

Naquela ocasi�o, o Reino Unido havia anunciado que seguiria trabalhando com a Huawei na ado��o do 5G. Pence disse que a Casa Branca estava "profundamente desapontada" com a decis�o brit�nica, e lembrou que EUA e Reino Unido estavam em vias de come�ar negocia��es para um tratado de livre com�rcio, agora que os brit�nicos deixaram a Uni�o Europeia.

Perguntado sobre se a quest�o da Huawei colocaria um fim nessas negocia��es, Pence respondeu: "Veremos".

Em julho, o Reino Unido acabou revertendo sua decis�o, o que agradou os americanos. N�o s� a Huawei ser� banida da rede de 5G, como o pa�s prometeu retirar todos os equipamentos da gigante chinesa de sua rede de telecomunica��es at� 2027.

Existe tamb�m uma grande inc�gnita sobre o futuro da guerra comercial entre EUA e a China que s� come�ar� a se resolver ap�s novembro. At� agora a briga contra a Huawei tem sido uma bandeira do presidente Donald Trump. Mas analistas n�o t�m clareza sobre como Joe Biden se posicionaria em rela��o � Huawei caso ele ven�a as elei��es de novembro, j� que o democrata n�o sinalizou qual � sua posi��o em rela��o ao tema.

Outro ganho potencial para o Brasil, caso venha a concordar com a posi��o americana, seria em rela��o � seguran�a nacional — caso as preocupa��es levantadas pelas ag�ncias de intelig�ncia sejam acertadas.

Os EUA n�o s�o os �nicos pa�ses a banir o equipamento Huawei. A preocupa��o com os equipamentos chineses surgiu primeiro em 2018 em um relat�rio da "Five Eyes" — uma alian�a entre as ag�ncias de intelig�ncia de Austr�lia, Canad�, Reino Unido, Nova Zel�ncia e EUA.

Desde ent�o, diversos pa�ses seguiram as recomenda��es de n�o trabalhar com a Huawei. � o caso de Austr�lia, Nova Zel�ndia, Reino Unido, Jap�o, Estados Unidos, It�lia, Fran�a, Rep�blica Tcheca, Pol�nia, Est�nia, Rom�nia, Dinamarca, Let�nia e Gr�cia. A Alemanha e a �ndia tamb�m estariam considerando seguir o mesmo caminho. E a Su�cia (pa�s da Ericsson, rival direta da Huawei) anunciou esta semana que tamb�m vai banir a empresa chinesa da sua rede de 5G.

Nesta semana, um novo relat�rio feito por um comit� do Parlamento brit�nico sugeriu que existe "claro ind�cio de conluio" entre a Huawei e o "aparato do Partido Comunista chin�s". A Huawei criticou as conclus�es do relat�rio brit�nico.

Perder

Mas tomar uma atitude contra a Huawei — mesmo agradando Washington — tamb�m trar� preju�zos para o Brasil.

O mais evidente deles � o preju�zo econ�mico. O Brasil j� est� atrasado no leil�o de sua rede 5G. O atraso foi provocado por um problema t�cnico — algumas das frequ�ncias que ser�o colocadas em leil�o s�o as mesmas de antenas parab�licas, o que gerou um impasse entre empresas de televis�o e telefonia.

Banir a Huawei da rede — ou retir�-la completamente, como os brit�nicos pretendem fazer — custaria tempo e dinheiro. N�o h� estimativas para o caso brasileiro, mas no Reino Unido um estudo indica que o banimento � Huawei poder� retardar a implementa��o do 5G em at� tr�s anos, com custo superior a 18 bilh�es de libras (mais de R$ 130 bilh�es).

Nesta semana, o presidente da Huawei no Brasil, Sun Baochang, disse ao jornal Folha de S. Paulo que os operadores teriam que pagar mais para substituir seus equipamentos, caso o Brasil opte por banir a empresa chinesa, e que esses custos seriam repassados aos consumidores.

Esse atraso tamb�m retardaria a competitividade da economia brasileira, j� que ind�strias e empresas ficariam para tr�s em rela��o aos demais pa�ses que j� teriam o 5G. O Brasil � o quinto maior mercado de telecomunica��es do mundo, e dados oficiais mostram que h� 231 milh�es de celulares no pais — ou 94 celulares para cada 100 brasileiros.

Existe tamb�m o risco de o Brasil desagradar — e at� mesmo receber retalia��es — da China com a decis�o.

A embaixada chinesa em Bras�lia emitiu um comunicado esta semana condenando as declara��es feitas por autoridades americanas em visita ao Brasil.

"Recentemente, um pequeno n�mero de pol�ticos americanos, desprezando os fatos e forjando uma s�rie de mentiras, vem lan�ando ataques difamat�rios contra o 5G da Huawei. Tem utilizado o poder de estado para impedir as opera��es leg�timas das empresas chinesas de alta tecnologia, abusando no pretexto de seguran�a nacional", diz a nota.

A embaixada chinesa tamb�m destacou a import�ncia das rela��es econ�micas.

"A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 11 anos seguidos. � a maior fonte de super�vit comercial e um dos principais investidores do Brasil. (...) Temos a certeza de que as nossas rela��es n�o ser�o desviadas do trilho de desenvolvimento saud�vel e est�vel por qualquer interfer�ncia externa."

A China � hoje a principal fonte de super�vit comercial do Brasil no mundo, com saldo positivo de US$ 3,2 bilh�es at� julho. J� com os Estados Unidos, o Brasil acumula um deficit comercial de US$ 3,1 bilh�es at� julho.


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