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Estado de Minas DISSECA��O DIGITAL

Tomografia permite descobrir segredos que foram enterrados com as m�mias

Equipe brit�nica usa t�cnica em cole��o eg�pcia e detalha como viviam animais que morreram h� mais de 2 mil anos


01/03/2021 07:59

(foto: Mark Lopez / Argonne National Laboratory/Divulgação)
(foto: Mark Lopez / Argonne National Laboratory/Divulga��o)
Os avan�os da medicina de imagem est�o ajudando a revelar segredos que, literalmente, morreram com seus donos. Tecnologias como a tomografia computadorizada s�o capazes de fornecer informa��es preciosas sobre m�mias e esqueletos sem a necessidade de corromp�-los. Com isso, � poss�vel descobrir coisas que v�o da apar�ncia � causa da morte de um fara�.

Isso vale n�o s� para humanos. Com uma tecnologia ainda mais avan�ada que a tomografia computadorizada, que permite imagens tridimensionais, mas tem baixa resolu��o, pesquisadores brit�nicos dissecaram — digitalmente — uma cobra, um p�ssaro e um gato, todos de uma cole��o eg�pcia da Universidade de Swansea, no Pa�s de Gales. Os animais mumificados, que morreram h� mais de 2 mil anos, tiveram revelados detalhes sem precedentes sobre sua vida e morte. O estudo ajuda a compreender melhor a cultura de uma civiliza��o enigm�tica e que sempre fascinou o Ocidente.

Para estudar as tr�s m�mias, os pesquisadores das universidades de Swansea, Cardiff e Leicester utilizaram a tecnologia de micro-TC, tamb�m conhecida como tomografia computadorizada de alta resolu��o. Ela gera imagens tridimensionais com uma resolu��o 100 vezes maior do que as m�quinas usadas nos servi�os m�dicos. Por isso, os pequeninos ossos dos animais puderam ser observados em detalhes imposs�veis de serem registrados por outros m�todos. “Essas s�o as mais recentes t�cnicas de imagem cient�fica. Nosso trabalho mostra como as ferramentas de alta tecnologia de hoje podem lan�ar uma nova luz sobre o passado distante”, diz Richard Johnston, pesquisador da Swansea e l�der do estudo.

Os antigos eg�pcios mumificavam animais como gatos, �bis, falc�es, cobras, crocodilos e c�es. �s vezes, os bichos eram enterrados com os donos. Por�m, as m�mias animais mais comuns eram as oferendas votivas, compradas por visitantes dos templos para oferec�-las aos deuses, como se fossem mediadoras da comunica��o com as divindades. Nesses casos, diferentes esp�cies eram criadas ou capturadas por tratadores, mortas e, ent�o, embalsamadas por sacerdotes do templo. Acredita-se que cerca de 70 milh�es de m�mias animais foram criadas dessa maneira.

Com a micro-TC, os pesquisadores puderam observar que a gata era um filhote com menos de 5 meses — os dentinhos ainda n�o haviam irrompido. A separa��o das v�rtebras indica que, possivelmente, foi estrangulada. O p�ssaro, provavelmente, era um francelho euro-asi�tico, tipo de falc�o. A varredura permitiu fazer a medi��o virtual dos ossos e, por isso, os cientistas conseguiram identificar a esp�cie.

J� a cobra era uma jovem naja e foi sujeita a um tratamento tenebroso. Evid�ncias de danos renais mostram que foi privada de �gua durante a vida. A an�lise de fraturas �sseas indica que o animal foi morto a chicotadas. As imagens tamb�m permitiram verificar que ele passou por um procedimento comum do Reino Antigo ao per�odo romano: a abertura da boca. Realizado durante a mumifica��o, o ritual visava devolver os sentidos ao morto. Essa � a primeira evid�ncia de um comportamento ritual�stico complexo aplicado em um animal.

“Essa sinergia entre alta tecnologia e arqueologia destaca o que � poss�vel quando os limites da pesquisa t�pica s�o ultrapassados”, diz Marc Walton, pesquisador do Centro de Estudos Cient�ficos nas Artes da Universidade de Northwestern, nos EUA. Ele � um dos cientistas que, recentemente, publicaram um artigo na revista Journal of The Royal Society Interface no qual � descrito o uso de uma tecnologia que emite poderosos feixes de raios X para a visualiza��o de uma m�mia de 1,9 mil anos.

Pe�a intacta

Foi a primeira vez que se usou t�cnicas de difra��o de raios X na an�lise de uma m�mia intacta. O exame confirmou v�rios detalhes e acrescentou novos ao que j� se sabia sobre ela. O corpo era de uma crian�a de 5 anos, provavelmente menina, e foi enterrado com um amuleto de escaravelho de calcita — objeto sagrado destinado a proteger a alma na passagem para a vida ap�s a morte. Os cientistas sabiam que havia objetos dentro da m�mia, mas n�o conheciam quais eram nem o material dos quais foram feitos.

Principal autor do artigo, publicado em dezembro passado, Stuart Stock, professor de biologia molecular da Northwestern, conta que a m�mia foi escavada em 1911 e, em 2018, foi exposta no campus da universidade. Na prepara��o da exposi��o, Stock foi convidado a fazer uma pesquisa sobre o seu conte�do. Ele come�ou fazendo imagens com a tomografia computadorizada de uso m�dico, que forneceu uma esp�cie de roteiro para seu trabalho posterior, indicando para onde apontar os poderosos feixes de raios X gerados pela fonte avan�ada de f�tons (APS) do Laborat�rio Nacional de Argonne, que utiliza a radia��o s�ncrotron como fonte de luz.

A equipe da Northwestern teve a ajuda do f�sico da APS Jonathan Almer, integrante da Divis�o de Ci�ncia de Raios X da Argonne e um dos coautores do artigo. Almer lidera a equipe cient�fica do Beamline 1-ID, equipamento que faz uso de raios X de alta energia capazes de penetrar amostras grandes. No artigo, os autores destacam que, normalmente, os objetos buscados nos estudos da APS s�o do n�vel de m�crons, em amostras milim�tricas. Mas, dessa vez, tratou-se de um esquife com cerca de 1m.

A an�lise mostrou que o esqueleto da crian�a est� bem preservado e n�o mostra sinais de trauma, o que significa que ela, provavelmente, morreu de doen�a. O mais surpreendente, segundo os autores, foi a descoberta do amuleto, feito de calcita, um mineral carbonato. Embora n�o seja incomum que esses objetos sejam compostos por esse material, trata-se de um mineral raro.

Nova vers�o sobre morte de fara�

H� cerca de duas semanas, um estudo publicado na revista Frontiers in Medicine tamb�m trouxe mais revela��es do Egito — dessa vez, sobre um famoso fara� cuja morte, indiretamente, levou � reunifica��o do pa�s no s�culo 16 a.C. Trata-se de Seqenenre-Taa-II, o Bravo, que governou, brevemente, o sul do Egito durante a ocupa��o do pa�s pelos hicsos, uma dinastia estrangeira que manteve o poder em todo o reino por cerca de um s�culo (1650 a 1550 a.C.). Na tentativa de expuls�-los, Seqenenre-Taa-II foi morto. Os estudiosos t�m debatido como, exatamente, o rei morreu desde que sua m�mia foi descoberta e estudada, na d�cada de 1880.

Os exames que se seguiram � an�lise inicial indicaram que o rei morto havia sofrido v�rios ferimentos graves na cabe�a, mas nenhum outro no corpo. A teoria prevalecente, com base nas evid�ncias, era que ele havia sido capturado em uma batalha e executado posteriormente, possivelmente pelo pr�prio rei hicso. Outros sugeriram que Seqenenre-Taa-II foi assassinado enquanto dormia, numa conspira��o do pal�cio real. O mau estado da m�mia sugeria que o embalsamamento foi feito �s pressas, longe da oficina real de mumifica��o.

Agora, a tomografia computadorizada dos restos mumificados de Seqenenre revelou novos detalhes sobre os ferimentos na cabe�a, incluindo les�es n�o detectadas anteriormente e que os embalsamadores esconderam com habilidade. Segundo a interpreta��o das imagens de alta resolu��o, Seqenenre foi, de fato, capturado no campo de batalha, mas suas m�os foram amarradas nas costas, evitando que ele se defendesse contra o ataque.

“Isso sugere que ele estava realmente na linha de frente com seus soldados, arriscando sua vida para libertar o Egito”, disse, em nota, Sahar Saleem, professora de radiologia da Universidade do Cairo, especializada em paleorradiologia — t�cnica que emprega tecnologias de imagens m�dicas para estudar, de forma n�o invasiva, uma se��o transversal de vest�gios arqueol�gicos, incluindo corpos. Entre outras coisas, ela pode ajudar a determinar a idade da morte, o sexo e como a pessoa morreu.

Cinco armas

Por exemplo, as tomografias computadorizadas, combinadas com outras evid�ncias, sugerem que a
execu��o do fara� foi realizada por v�rios carrascos, o que os cientistas confirmaram estudando cinco armas hicsas diferentes que combinavam com os ferimentos do rei. “Em uma execu��o normal em um prisioneiro amarrado, pode-se presumir que apenas um agressor ataca, possivelmente de �ngulos diferentes, mas n�o com armas diferentes”, explica Saleem. “A morte de Seqenenre foi, antes, uma execu��o cerimonial.”

O estudo tamb�m determinou que Seqenenre tinha cerca de 40 anos quando morreu — a estimativa mais precisa at� o momento. Saleem e o coautor do estudo, o famoso Zahi Hawass, arque�logo e ex-ministro eg�pcio de antiguidades que participou de in�meras s�ries televisivas, foram os pioneiros no uso de tomografias computadorizadas para estudar os fara�s e guerreiros do Novo Reino, incluindo nomes conhecidos, como Hatshepsut, Tutanc�mon, Rams�s III, Tutmose III e Rams�s II. No entanto, Seqenenre, com base nas evid�ncias dispon�veis, parece ser o �nico entre esse ilustre grupo a estar na linha de frente do campo de batalha.

O estudo de TC revelou detalhes importantes sobre a mumifica��o do corpo de Seqenenre. Por exemplo, os embalsamadores usaram um m�todo sofisticado para esconder as feridas na cabe�a do rei, com uma camada de um material de embalsamamento que funcionava de forma semelhante aos preenchimentos usados na cirurgia pl�stica moderna. Isso implicaria que a mumifica��o ocorreu em um laborat�rio de mumifica��o real, e n�o em um local mal equipado, como interpretado anteriormente.


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