(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas REDES SOCIAIS

Exposi��o de crian�as em redes cresce na pandemia e vira at� fonte de renda

Explos�o de contas ligadas a beb�s e crian�as na pandemia levantou o debate sobre sharenting, nome dado ao h�bito de publicar imagens de crian�as na internet


12/09/2021 17:00 - atualizado 13/09/2021 09:12

None
(foto: LIONEL BONAVENTURE/AFP)
O �lbum de fotografias, � m�o sempre que uma visita surgia, mudou de forma e ganhou as redes sociais. Por l�, sobram fotos do beb� dormindo, comendo, brincando. O h�bito de publicar imagens de crian�as na internet ganhou at� nome: sharenting, jun��o dos termos em ingl�s share (compartilhar) e parenting (paternidade). Na sociedade das plataformas, n�o demorou para que os "�lbuns digitais" fossem vistos por centenas e at� milh�es de usu�rios.

A explos�o de contas ligadas a beb�s e crian�as nas redes sociais durante a pandemia levanta o debate sobre o sharenting. Quase toda fam�lia faz e mesmo quem n�o tem filho se derrete quando v� fofuras dos beb�s alheios nas redes. Em jogo est� o direito das crian�as � privacidade. Por outro lado, h� a liberdade de express�o dos pais e a vontade de se conectar com os outros. O fen�meno fica mais complexo quando associado � propaganda de itens infantis.

Longe dos parentes, com um beb� nascido pouco antes da pandemia, a dona de casa Thain� Barbosa, de 32 anos, resolveu contar ao mundo os feitos de Rafael, de 2 anos. Criou um perfil s� para ele no Instagram, que, no in�cio, era restrito � fam�lia. "Eram s� umas dez pessoas, mas voc� vai compartilhando, as pessoas v�o seguindo, e gostando", diz a m�e, que publica fotos dos passeios do menino, dan�as e roupinhas.

O perfil p�blico pode ser visto por qualquer um - e o uso de hashtags como #digitalinfluencer permite encontrar a conta (e outras do tipo) na busca do Instagram. A m�e diz tomar cuidado para n�o publicar fotos do filho sem roupa, a fim de evitar que caiam em redes de pornografia. Mas n�o tem medo de ganhar alcance. "Se viralizar uma brincadeira, uma foto bonita, � fant�stico", diz ela, que aponta benef�cios da troca de experi�ncias com outras m�es.

Para a psic�loga Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da SaferNet, o isolamento por causa da covid fez aumentar a pr�tica de publicar fotos de crian�as na internet - o que tamb�m faz crescer o volume de debates sobre o tema em entidades ligadas aos direitos da crian�a, � seguran�a na rede e entre juristas. "As crian�as deixaram de conviver com parentes e uma das pontes para o contato foi as redes." Juliana n�o v� a situa��o como um problema, a princ�pio, mas diz que o fen�meno pode esconder riscos.

Para a empres�ria Vict�ria Xavier, de 29 anos, uma das consequ�ncias incontrol�veis � viralizar - coisa que ela tenta impedir, na contram�o da maioria. Dona de uma conta sobre maternidade com 47 mil seguidores, Vict�ria posta fotos do filho de 1 ano acompanhadas de receitas e sugest�es de brincadeiras. "Tenho cuidado de n�o produzir nada que acho que vai viralizar. Beb� gordinho, fazendo dancinha no TikTok, viraliza."

Promover sorteios tamb�m � estrat�gia para atrair seguidores - e por isso Vict�ria diz "passar longe", apesar de aceitar fazer propaganda para marcas de m�es empreendedoras. Ela recebe uma cota das vendas.

A ideia � manter um p�blico engajado nos temas que ela publica - e n�o curiosos aleat�rios, mas Vict�ria sabe que o alcance da imagem do filho pode ir al�m do previsto. Nas redes, � comum a "pesca" de conte�dos por outras p�ginas, mesmo sem autoriza��o. "Sempre que vou postar, penso: se sair do meu controle, vai me incomodar ou ao meu filho no futuro?"

A reflex�o veta, por exemplo, fotos de momentos �ntimos da crian�a, como birras e o desfralde. Tamb�m impede imagens de nudez. Mas, assim como acontecia quando o �lbum de fotos impressas ganhava a sala de estar, nem sempre o que os pais veem como lindo na inf�ncia agrada aos filhos crescidos.

"N�o tenho como ter certeza se ela vai ou n�o gostar do que escolho mostrar", diz a fot�grafa Morgana Secco, de 38 anos, que alcan�ou 2,6 milh�es de seguidores no Instagram ap�s viralizar com v�deos da filha Alice, de 2 anos, famosa por gostar de ler e falar palavras dif�ceis. Alguns cuidados, diz, previnem embara�os futuros. "Nunca exponho situa��es em que a Alice esteja vulner�vel, chorando ou que possa constrang�-la futuramente", diz Morgana, que aposta na chance de inspirar outros pais para a import�ncia de uma cria��o respeitosa.

Justi�a. Em redes como Instagram e TikTok, � comum encontrar v�deos de crian�as "trolladas" pelos pais - expostas a brincadeiras como provar alimentos azedos ou filmadas enquanto se assustam. Adolescentes pedem aos pais para que n�o postem fotos de quando eram crian�as porque dizem sofrer bullying.

As discuss�es podem chegar � Justi�a quando pai e m�e discordam sobre a exposi��o do filho. O pai de um menino do interior paulista moveu a��o contra a ex-mulher depois que ela publicou texto e foto da crian�a sem o aval dele. Para o pai, a publica��o, sobre um dist�rbio do filho, violou a privacidade da crian�a. J� a m�e disse que a postagem n�o foi ofensiva.

A decis�o deu raz�o � m�e, mas ponderou que ainda � preciso achar a medida justa para preservar tanto o direito � liberdade de express�o dos pais quanto o direito � privacidade e prote��o dos dados de crian�as. "N�o h� regra fixa para definir quando direitos de personalidade das crian�as est�o sendo desrespeitados nas redes", diz a advogada Isabella Paranagu�, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Fam�lia do Piau�.

N�o � o n�mero de seguidores nem o fato de ter se tornado um "influencer digital" que indicam viola��o de direitos, mas situa��es que colocam a crian�a em risco, como neglig�ncia e opress�o nas redes. Embora existam poucos processos de indeniza��o por sharenting em que os filhos acionam a Justi�a, o tema j� faz parte de a��es de div�rcio e disputa de guarda.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)