
Uma ex-funcion�ria do Facebook, respons�vel por uma s�rie de vazamentos bomb�sticos da empresa, prestou depoimento nater�a-feira (05/10) ao Senado americano.
Como era esperado, ela fez um apelo aos parlamentares pela regulamenta��o da rede social.
Frances Haugen, de 37 anos, revelou sua identidade no �ltimo domingo (03/10), quando foi entrevistada pela rede americana CBS.
Ela afirma que os documentos vazados — publicados pelo Wall Street Journal — provam que o Facebook priorizou repetidamente o "crescimento em detrimento da seguran�a" dos usu�rios.
"O Facebook percebeu que se mudar o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas v�o passar menos tempo no site, v�o clicar em menos an�ncios, e eles v�o ganhar menos dinheiro."
O Facebook afirma, por sua vez, que os documentos vazados s�o enganosos e camuflam pesquisas positivas conduzidas pela empresa.
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Quem � Frances Haugen
Natural de Iowa, nos EUA, Haugen � formada em engenharia el�trica e de computa��o pelo Olin College em Massachusetts.
Com um MBA pela Universidade de Harvard, ela diz em seu site pessoal ser "especialista em gerenciamento algor�tmico de produtos".
Em 15 anos de carreira, ela teve passagem por grandes empresas de tecnologia e rede social, como Pinterest e Google, onde trabalhou por quatro anos como engenheira de software e gerente de produto.
Em 2019, foi contratada pelo Facebook, segundo seu site pessoal, para ser "gerente de produto l�der da equipe de desinforma��o c�vica, que lidava com quest�es relacionadas � democracia e desinforma��o, e mais tarde tamb�m trabalhou em contraespionagem".
Mas com o passar do tempo, foi ficando "cada vez mais alarmada com as escolhas da empresa".
Na entrevista ao programa 60 Minutes da CBS, ela contou que decidiu deixar o Facebook em maio deste ano depois de se irritar com a companhia.
Antes de partir, ela copiou uma s�rie de memorandos e documentos internos. E compartilhou esses documentos com o Wall Street Journal, que publicou o material ao longo das �ltimas tr�s semanas.
Entre as revela��es, est�o documentos que mostram que celebridades, pol�ticos e usu�rios de grande visibilidade da rede social eram tratados de forma diferente pela empresa.
De acordo com os dados vazados, as pol�ticas de modera��o eram aplicadas de maneira distinta, ou nem sequer eram aplicadas a essas contas — um sistema conhecido como XCheck (ou cross-check , que significa verifica��o cruzada).
Outro vazamento mostrou que o Facebook tamb�m enfrentava um processo judicial complexo por parte de um grupo de seus pr�prios acionistas.
O grupo alega, entre outras coisas, que o valor de US$ 5 bilh�es que o Facebook pagou � Comiss�o Federal de Com�rcio dos EUA para resolver o esc�ndalo de dados da Cambridge Analytica foi t�o alto porque foi destinado a proteger Mark Zuckerberg de responsabilidades pessoais.
Mas s�o as acusa��es sobre o Instagram que t�m sido particularmente preocupantes para os parlamentares americanos.
Uma pesquisa interna do Facebook (dono do Instagram) mostrou que o Instagram estava impactando a sa�de mental dos adolescentes, mas a empresa n�o compartilhou essas descobertas quando sugeriram que a plataforma era um lugar "t�xico" para muitos jovens.
De acordo com slides de apresenta��o publicados pelo Wall Street Journal, 32% das adolescentes entrevistadas disseram que quando se sentiam mal com seus corpos, o Instagram as fazia se sentir pior.
O que esperar do depoimento
� sobre este tema que Haugen vai prestar depoimento nesta ter�a-feira a um subcomit� do Senado americano durante uma audi�ncia intitulada "Protegendo Crian�as Online".
A expectativa � que ela fa�a um apelo aos parlamentares para regulamentar o Facebook, que ela planeja comparar �s empresas de tabaco que por d�cadas negaram que fumar faz mal � sa�de, de acordo com uma vers�o impressa do depoimento que a ag�ncia de not�cias Reuters teve acesso.
"Quando percebemos que as empresas de tabaco estavam escondendo os danos que causavam, o governo tomou uma atitude. Quando descobrimos que os carros eram mais seguros com cintos de seguran�a, o governo tomou uma atitude", diz um trecho do depoimento preparado.
"Eu imploro que voc�s fa�am o mesmo aqui."
Haugen dever� destacar ainda que os executivos do Facebook costumam optar pelo lucro em detrimento da seguran�a do usu�rio.
"A lideran�a da empresa conhece maneiras de tornar o Facebook e o Instagram mais seguros, e n�o far� as mudan�as necess�rias porque colocou seus lucros imensos antes das pessoas. � necess�ria uma a��o do Congresso", diz outra parte do texto obtido pela Reuters.
"Enquanto o Facebook estiver operando no escuro, n�o prestar� contas a ningu�m. E continuar� a fazer escolhas que v�o contra o bem comum."

Na semana passada, um executivo do Facebook afirmou em depoimento aos senadores que os vazamentos n�o destacavam o impacto positivo que a plataforma tinha sobre os adolescentes.
Mas Haugen tem sido contundente na avalia��o de seu antigo empregador.
"Havia conflitos de interesse entre o que era bom para o p�blico e o que era bom para o Facebook", disse ela.
"O Facebook repetidamente escolheu otimizar a favor de seus pr�prios interesses, como ganhar mais dinheiro."
J� o Facebook nega veementemente a acusa��o, dizendo que gastou quantias significativas de dinheiro em seguran�a.
"Dizer que fechamos os olhos ao feedback ignora esses investimentos, incluindo as 40 mil pessoas que trabalham na �rea de seguran�a e prote��o no Facebook e nosso investimento de US$ 13 bilh�es desde 2016", afirmou Lena Pietsch, diretora de pol�ticas de comunica��o do Facebook.
Haugen tamb�m mencionou em entrevista � CBS a invas�o do Capit�lio por uma multid�o de apoiadores do ex-presidente Donald Trump em janeiro deste ano, que acabou com cinco mortos — alegando que o Facebook ajudou a fomentar a viol�ncia.
Segunda ela, a rede social ativou os sistemas de seguran�a para reduzir a desinforma��o durante as elei��es nos Estados Unidos — mas apenas temporariamente.
"Assim que a elei��o acabou, eles desativaram ou mudaram as configura��es para o que era antes, para priorizar o crescimento em vez da seguran�a, e isso realmente parece uma trai��o � democracia."
� rede americana CNN, o vice-presidente de Assuntos Globais do Facebook, Nick Clegg, disse que era rid�culo sugerir que a empresa era respons�vel pelo motim.
"Acho que d� um falso conforto �s pessoas supor que deve haver uma explica��o tecnol�gica ou t�cnica para as quest�es de polariza��o pol�tica nos Estados Unidos", afirmou ele.
A senadora democrata Amy Klobuchar, que faz parte do subcomit� que vai ouvir Haugen nesta ter�a-feira, adiantou, no entanto, que perguntaria a Haugen sobre a invas�o do Capit�lio.
"Estou particularmente interessada em ouvir dela se ela acha que o Facebook fez o suficiente para alertar a pol�cia e o p�blico sobre 6 de janeiro, e se o Facebook removeu as salvaguardas eleitorais de desinforma��o porque estava sendo um custo financeiramente � empresa", disse Klobuchar em coment�rio � Reuters por e-mail.
A senadora tamb�m acrescentou que gostaria de discutir os algoritmos do Facebook — e se eles "promovem conte�do prejudicial e divisivo".
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