Mujer en la calle

Pesquisa do Instituto Patr�cia Galv�o indica que 81% das mulheres j� sofreram viol�ncia em seus deslocamentos pelas cidades brasileiras

Getty Images

"Ele estava a uns tr�s ou quatro passos atr�s de mim e tentou entrar pela porta da minha casa quando tirei as chaves, mas quando perguntei o que ele estava fazendo e disse que meu namorado estava l� dentro, ele fugiu."

Em Glasgow, na Esc�cia, mulheres est�o coletando dados sobre suas experi�ncias de viol�ncia e ass�dio nas ruas. Um mapa online permite que as mulheres incluam seus relatos de ass�dio, incluindo amea�as, intimida��o e agress�o sexual.

Esse projeto � dirigido pela rede de seguran�a comunit�ria Wise Women e tem como objetivo identificar os principais lugares onde ocorrem os incidentes de ass�dio. Dawn Fyfe, profissional de desenvolvimento estrat�gico da Wise Women, espera influenciar os pol�ticos e planejadores urbanos para fazer com que a cidade seja um espa�o mais seguro para as mulheres.

"Sabemos que o ass�dio e o abuso das mulheres ocorrem em espa�os p�blicos", declarou Fyfe � BBC. "Podemos usar isso para contribuir com informa��es sobre os enfoques estrat�gicos da viol�ncia contra as mulheres e influenciar a realiza��o de algumas mudan�as."

Os dados de Glasgow est�o sendo coletados por tr�s meses at� 1° de mar�o e as conclus�es iniciais ser�o publicadas no Dia Internacional da Mulher (8 de mar�o). As respons�veis pelo projeto esperam que, no futuro, o sistema possa ser ampliado e at� implementado em n�vel nacional no Reino Unido.

Diversos projetos em v�rias partes do mundo est�o usando a tecnologia para mudar pol�ticas, acabar com o ass�dio e tornar as ruas mais seguras para as mulheres.

Mapeamento do ass�dio

A coleta de dados geogr�ficos das pessoas para criar um mapa digital atualizado - chamado em ingl�s de crowdmapping - j� foi utilizada no passado para combater o ass�dio nas ruas.

Em 2010, um grupo de volunt�rias no Egito criou o HarassMap, que permite �s mulheres fazer den�ncias an�nimas sobre incidentes de abuso em espa�os p�blicos. Uma pesquisa da �poca, realizada pelo Centro Eg�pcio para os Direitos das Mulheres, concluiu que 83% das mulheres eg�pcias e 98% das estrangeiras haviam sofrido algum tipo de ass�dio em p�blico.


harassmap

O HarassMap, no Egito, fui uma das primeiras plataformas para informar sobre experi�ncias de ass�dio

HarassMap

"Antes de n�s, n�o havia ningu�m que vinculasse o trabalho tradicional comunit�rio ao digital neste setor", afirma Rebecca Chiao, uma das fundadoras do HarassMap. "Acho que fomos as primeiras a fazer isso."

O HarassMap foi lan�ado pouco antes da Primavera �rabe, em 2011, que coincidiu com grande aumento da participa��o nas redes sociais em todo o Egito. Segundo Chiao, isso colaborou para o sucesso da sua plataforma.

"Ver as rea��es das pessoas ao lerem os relatos an�nimos foi incr�vel", recorda ela. "Alguns relatos eram muito emotivos ou visuais e n�o era algo que as mulheres eg�pcias tivessem comodidade para falar abertamente - talvez com amigos, mas certamente n�o com a fam�lia, nem publicamente."

"Estava caminhando sozinha e um oper�rio n�o parava de me chamar, olhar para mim e tentar chamar minha aten��o. Seus colegas tamb�m riam e me olhavam", escreveu uma usu�ria.

Outra usu�ria relatou uma experi�ncia de exposi��o indecente e intimida��o: "estava indo a p� para casa � noite e um motorista de t�xi parou na minha frente, saiu do carro, abriu as cal�as e come�ou a tocar-se. Dobrei a esquina e fingi entrar em um dos edif�cios. Ele passou lentamente com o carro para ver se eu havia entrado."

Mas o HarassMap n�o coleta mais relatos an�nimos porque as leis eg�pcias relativas � coleta de dados foram alteradas. Por isso, seu bra�o internacional agora assessora e apoia a instala��o de plataformas em outros pa�ses e compartilha sua experi�ncia para atingir toler�ncia zero com o ass�dio em locais p�blicos e privados.

Chiao afirma que uma das hist�rias de sucesso apoiadas pelo HarassMap � o SafeCity, que come�ou na �ndia e j� se expandiu para outros pa�ses, como o Nepal, Qu�nia e Nig�ria.


Rebecca Chiao

Rebecca Chiao assessora mulheres em outras partes do mundo para que relatem o ass�dio nas ruas

Rebecca Chiao

'Problema mundial'

SafeCity foi fundada por ElsaMarie D'Silva e seus amigos em dezembro de 2012, em resposta ao estupro coletivo e assassinato brutal da estudante Jyoti Singh em um �nibus de Nova D�li, na �ndia.

"Quer�amos fazer alguma coisa imediatamente", conta D'Silva. "Trata-se de um problema global com subnotifica��o em todos os lugares. Ferramentas como SafeCity s�o uma excelente forma de denunciar sua experi�ncia de forma an�nima e acreditamos que document�-la � o primeiro passo para fazer justi�a."

O mapa coleta casos de ass�dio, incluindo fotografias, assobios, exibi��o indecente e masturba��o p�blica.

"As mulheres muitas vezes sabem instintivamente que o que foi feito com elas � errado, mas nem sempre sabem que t�m direito a denunci�-lo", ressalta D'Silva. "SafeCity estabelece uma comunidade de apoio e compartilhamento de experi�ncias. � algo curador, que desenvolve a capacidade de consci�ncia da situa��o."

D'Silva afirma que os dados foram levados �s autoridades, com rea��o positiva com vistas ao aumento da seguran�a das mulheres em �reas problem�ticas, por meio de novas medidas que incluem aumento das patrulhas policiais e instala��o de circuitos fechados de televis�o.

"As mulheres e meninas sentem-se mais seguras informando e acionando o alarme. Assim, podem ficar fora at� mais tarde e aproveitar mais o seu tempo", destaca ela. "O mundo n�o para �s 7 horas da noite."

� exatamente por isso que, em resposta �s liga��es das suas usu�rias, o aplicativo global de mapeamento de rotas Citymapper agora oferece trajetos que podem n�o ser necessariamente os mais r�pidos, mas sim os mais povoados ou mais bem iluminados. A fun��o "ruas principais" fornece op��es espec�ficas para quem viaja depois do anoitecer.

"Ruas mais movimentadas e bem iluminadas, f�ceis de memorizar e evitando parques e ruas sem sa�da", afirmou Gilbert Wedam, chefe de projeto do Citymapper. "A 'melhor' rota nem sempre � a mais r�pida, dependendo, em grande parte, do contexto em que se encontrem as pessoas."


Mural de SafeCity

SafeCity financia murais para incentivar as pessoas a relatar incidentes

SafeCity

Uma iniciativa no Brasil

Paralelamente �s iniciativas internacionais, uma empreendedora do Recife procurou preencher a enorme lacuna de dados sobre den�ncias de ass�dio no Brasil e encontrar uma solu��o para tornar as ruas mais seguras.

Simony C�sar � fundadora e diretora-executiva de NINA, uma tecnologia que pode ser integrada a outros aplicativos, incluindo os de mapeamento de rotas e transporte compartilhado, para permitir den�ncias de ass�dio.

A m�e de C�sar trabalhava em um �nibus urbano e comentava como era dif�cil para as mulheres deslocar-se para o trabalho e de volta para casa. Quando Simony cresceu, ela mesma observou e sofreu a realidade do ass�dio no transporte p�blico.

"Conheci muitas mulheres que abandonariam a escola ou seu trabalho, simplesmente para evitar o medo do transporte p�blico", afirma ela. Mas "nos dados oficiais do governo, � como se o problema n�o existisse".

Em uma pesquisa recente realizada por uma rede de seguran�a de mulheres - o Instituto Patr�cia Galv�o/Locomotiva -, 81% das mulheres informaram ter sofrido algum tipo de viol�ncia nas cidades brasileiras. J� a ONG F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica estima que haja um caso de ass�dio a cada quatro segundos no transporte p�blico brasileiro.


Simony Cesar

Simony C�sar criou uma tecnologia que pode ser integrada a outros aplicativos para relatar ass�dio

Simony Cesar

NINA funciona integrando-se a outros aplicativos e fornecendo um bot�o para denunciar facilmente os incidentes de ass�dio ou agress�o, fornecendo dados a Simony e sua equipe.

"Os dados que coletamos s�o utilizados para demonstrar que existe um problema real", afirma ela. "Levamos essas informa��es para as autoridades e promovemos o desenvolvimento de pol�ticas que tornem as cidades mais seguras, inclusivas e habit�veis, especialmente para as mulheres."

Na Esc�cia, Dawn Fyfe destaca a mesma necessidade de escutar mais as vozes das mulheres. Segundo ela, "queremos que as mulheres sejam inclu�das na tomada de decis�es para que suas experi�ncias sejam o centro das solu��es de planejamento urbano. Isso � misoginia pura e simples e precisamos reagir para cort�-la pela raiz".

"Queremos fazer a mudan�a agora. Chega!", conclui Fyfe.

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