(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas VIAGEM

4 fatores que impedem que Brasil vire pot�ncia no turismo apesar do potencial

Estudo analisou fatores que emperram o desenvolvimento nacional do setor, que poderia dar contribui��o na cria��o de empregos.


24/11/2022 12:13 - atualizado 25/11/2022 08:52


Cataratas do Iguaçu
As Cataratas do Igua�u representam apenas um dos grandes ativos do turismo brasileiro, mas pa�s segue com n�meros modestos para o potencial (foto: Arterra/Universal Images Group via Getty Images)

Alguns dos elementos mais associados ao Brasil — belezas naturais, grande diversidade cultural, calend�rio rico em festas nacionais e regionais — valem ouro em qualquer roteiro de viagem. Mas o grande potencial do pa�s n�o se traduz em n�meros de destaque no mercado mundial de turismo. Um estudo analisou fatores que emperram o desenvolvimento nacional da �rea.

O futuro do turismo no Brasil a partir da an�lise cr�tica do per�odo 2000-2019 contou com 23 pesquisadores de 17 institui��es brasileiras.

A investiga��o observa que, mesmo durante o boom do turismo internacional na d�cada passada, o Brasil estacionou em pouco mais de 6 milh�es de visitantes estrangeiros por ano.

Nesse per�odo, o pa�s ainda teve a rara oportunidade de sediar uma Copa do Mundo e uma Olimp�ada no espa�o de dois anos, mas o crescimento entre 2014 e 2019 foi �nfimo: uma alta ligeira (que tamb�m pode ser vista como estagna��o) de 6,31 milh�es para 6,35 milh�es.

O Brasil n�o figura nem na lista da Organiza��o Mundial de Turismo dos 50 pa�ses com mais chegadas de turistas.

Os dados s�o relativos a 2019, ou seja, antes da chegada da pandemia de covid. Em todo o mundo, o setor sofreu fortemente os impactos da quarentena e tenta agora ensaiar uma recupera��o.

Para efeito de compara��o, uma �nica localidade do Vietn�, a Ba�a de Ha Long, recebeu quase o equivalente aos n�meros totais do Brasil: 6,2 milh�es, de acordo com o Euromonitor. O Vietn�, como um todo, contabiliza 18 milh�es de viajantes internacionais anualmente.

Outro exemplo, e de maior proximidade, � o M�xico.

De limita��es socioecon�micas como o Brasil, o pa�s se firmou como um dos mais importantes destinos do turismo mundial, com 45 milh�es de turistas estrangeiros.

Os mexicanos s�o muito beneficiados pela proximidade com os Estados Unidos, mas deram prioridade ao setor em sua estrat�gia econ�mica na �ltima d�cada, segundo observa relat�rio da Organiza��o para Coopera��o e Desenvolvimento (OCDE).

Compara��es podem ser relativizadas pelas condi��es espec�ficas dos pa�ses, mas o mercado brasileiro, com trunfos tur�sticos bem conhecidos como o Rio de Janeiro e as Cataratas do Igua�u e dezenas de lugares com grandes possibilidades de desenvolvimento, est� claramente aqu�m do seu potencial.

Isso � admitido em um relat�rio do governo federal.

"O Brasil n�o faz parte das rotas do turismo global", diz uma an�lise feita pela Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade, vinculada ao Minist�rio da Economia, no ano passado.

O texto cita que "no Brasil, 93% dos visitantes s�o locais" e "[em 2019] a participa��o no PIB era de 7,7% e com alta empregabilidade, mas com um crescimento estagnado".

A perman�ncia de velhos problemas e o aparecimento de novos levam o Brasil a deixar de aproveitar um setor que poderia ter um impacto positivo de forma consider�vel na economia, na melhoria dos servi�os, na conserva��o dos espa�os nas cidades, entre outros ganhos.

Para Alexandre Panosso Netto, coordenador de p�s-gradua��o em Turismo da Universidade de S�o Paulo (USP) e um dos autores da pesquisa, esse caminho de desenvolvimento n�o se torna uma pol�tica s�ria de Estado por algumas raz�es.

"A concorr�ncia de v�rias �reas e a incompreens�o dos pontos positivos do turismo como vetor e alavanca de inclus�o social, de valoriza��o da cultura e de diversifica��o de pensamentos e aprendizado".


Museu do Amanhã, no Rio
Museu do Amanh� tornou-se uma das principais atra��es tur�sticas do Rio (foto: T�nia R�go/Ag�ncia Brasil)

"O turista estrangeiro gastava por volta de US$ 110 por dia no Brasil at� a pandemia. Em 2019 foi por volta de US$ 6 bilh�es que os estrangeiros trouxeram ao pa�s. Ent�o dobrar ou triplicar o n�mero de visitantes representaria dobrar ou triplicar esse montante."

O mercado de trabalho tamb�m teria a ganhar com o turismo.

"N�o � s� financeiro, o aumento do n�mero de empregos gerados e o efeito multiplicador do turismo seriam grandes."

Veja abaixo alguns fatores que prejudicam que o turismo brasileiro decole:

1) Imagem ruim no exterior


Mulher viaja sozinha
Brasil foi considerado segundo pa�s mais perigoso para mulheres que viajam sozinhas em ranking (foto: Getty Images)

Viol�ncia, corrup��o, ambiente hostil para mulheres e para o p�blico LGBTQ+, somados � deteriora��o nos �ltimos anos da imagem do pa�s em campos como meio ambiente e a gest�o da pandemia do coronav�rus, n�o criam um cen�rio muito atraente para turistas considerarem o Brasil como destino, afirma Panosso Netto.

Seu estudo cita um �ndice criado pelos jornalistas Asher e Lyric Fergusson que ranqueia os pa�ses mais perigosos para mulheres que viajam sozinhas. O Brasil � listado na segunda posi��o, atr�s apenas da �frica do Sul.

A mudan�a do slogan oficial do turismo brasileiro em 2019 tamb�m n�o ajudou na imagem brasileira. A frase usada para promo��o, "Visit and love us" (Visite e nos ame, em tradu��o literal), foi considerada de pouca flu�ncia e de constru��o pouco usual no ingl�s, al�m de soar com conota��o sexual para alguns turistas estrangeiros.

O pesquisador tamb�m diz que a liga��o do pa�s a hist�rias que envolvem corrup��o "influenciam como o turista nacional e internacional v� o destino Brasil. Se � um destino com not�cias de corrup��o, tamb�m se pode imaginar que � um destino inseguro".

Ele diz que pa�ses com problemas relacionados � corrup��o como M�xico e Turquia, mas com grande n�mero de visitantes, conseguem contornar a quest�o pela proximidade a grandes mercados consumidores internacionais e a cria��o de ilhas de excel�ncia tur�stica.

2) Falta de continuidade em pol�ticas e planejamento

"Pol�ticas de turismo espec�ficas precisam ser baseadas em um processo de planejamento cont�nuo", diz o estudo.

Para um desenvolvimento mais sustent�vel do setor � preciso que o Minist�rio do Turismo e a Embratur tenham grande qualidade t�cnica, com um planejamento de longo prazo.


Gruta do Lago Azul, em Bonito (MS)
Gruta do Lago Azul, em Bonito (MS), cidade que � citada como exemplo de boa estrat�gia de longo prazo, por ter come�ado na d�cada de 1990 a trabalhar o potencial tur�stico e hoje � um destino bastante solicitado (foto: PREFEITURA DE BONITO)

Panosso Netto cita Bonito, em Mato Grosso do Sul, como um exemplo de um destino que vivenciou processo de melhora e desenvolvimento atrav�s dos anos.

"H� �timos exemplos de boas pr�ticas tur�sticas nos interiores do Brasil. Bonito, em Mato Grosso do Sul, com sua diversidade ecol�gica e turismo de alto n�vel, � um exemplo disso. Mas essa qualidade de Bonito n�o foi alcan�ada de uma hora para a outra. Come�ou no in�cio dos anos 1990. Estamos falando, portanto, de mais de 30 anos de trabalho."

Mas problemas com a conserva��o ambiental derivados do desmatamento vem impactando o ecoturismo da regi�o. A abertura de �reas para agricultura impacta na cor das suas �guas, um dos grandes trunfos de Bonito. Cerca de 70% da popula��o local depende do turismo.

Pol�ticas de turismo tamb�m incluem a identifica��o de oportunidades em diferentes mercados, como o latino-americano.

"� preciso se preparar para receber o turista argentino, uruguaio, chileno, peruano, boliviano, paraguaio etc. N�o podemos estar dar as costas � Am�rica Latina."

3) Qualidade dos servi�os varia muito

A falta de maior profissionaliza��o na parte de servi�os � algo constantemente apontado como problem�tico. "Esse � um dos itens mais criticados pelos profissionais do setor", afirma Panosso Netto.

O pesquisador acha que seria tamb�m uma forma de desenvolver a pr�pria �rea de empreendedorismo no pa�s.

"O turismo � a porta de entrada de muitos empreendedores de primeira viagem. Temos que transformar isso em um ponto positivo a nosso favor. O governo pode criar programas de forma��o continuada do turismo, tal como j� existiram no passado, a exemplo do Curso de Forma��o de Gestores de Pol�ticas P�blicas do Turismo Nacional."

Educa��o sobre como funcionam o mercado e o atendimento a turistas dom�sticos e internacionais, al�m do aprendizado efetivo de idiomas, seriam formas de capacita��o.

Mas h� um outro problema estrutural, segundo o professor da USP: "A dificuldade em acessar o cr�dito para o investimento em empreendimentos tur�sticos pequenos tamb�m � imensa".

4) Transporte a�reo e deslocamento


Aeroporto de Guarulhos
Aeroporto de Guarulhos: deslocamentos internos no Brasil s�o caros e complexos para o turista (foto: Ag�ncia Brasil)

Segundo a pesquisa, embora o ambiente entre 2000 e 2019 no mercado a�reo "tenha melhorado a oferta e a competi��o nas rotas principais, especialmente aquelas conectando as capitais dos Estados e grandes centros urbanos, o acesso regional ainda � caro e, na maioria dos casos, insatisfat�rio".

Para Panosso Netto, "o transporte a�reo est� deveras caro pelo pre�o do querosene e a pol�tica de impostos dos combust�veis e taxas aeroportu�rias. Al�m disso, as viagens rodovi�rias s�o prejudicadas pelas condi��es das rodovias; e se as rodovias s�o boas, os ped�gios s�o caros".

O tamanho continental do Brasil, que de uma forma pode ser uma vantagem pela variedade de ofertas, acaba gerando um problema pelo deslocamento.

"Acredito que os destinos regionais devam se unir mais para compartilharem os turistas que por eles passam. Ou seja, a gest�o regional do turismo deve ser fortalecida, junto com a cria��o de roteiros regionais com produtos e servi�os de alta qualidade", diz o professor da USP.

O estudo defende "alinhar o ambiente regulat�rio, jur�dico e tribut�rio que rege a avia��o brasileira, ao ambiente internacional. A evolu��o que viveu o setor nestes 20 anos n�o permite que sigamos admitindo que o Brasil tenha s�rias diferen�as e distor��es entre nossas regras nacionais, que acabam gerando ofertas e produtos mais caros aos consumidores, e o que se pode ofertar no exterior".

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63671736


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)