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Estado de Minas QUILOMBOS DE BRUMADINHO

Territ�rios sagrados pr�ximos de BH s�o ref�gios de paz e uni�o

Com o intuito de preservar as tradi��es e promover a valoriza��o de sua identidade cultural, quatro quilombos est�o de portas abertas para receber os visitantes


11/10/2023 06:14 - atualizado 11/10/2023 07:51
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Bem pr�ximo de Belo Horizonte, o Circuito de Quilombos de Brumadinho � uma das 40 experi�ncias tur�sticas do cat�logo C�u de Montanhas. No in�cio do m�s de setembro, visitamos a regi�o e, no turismo de hoje, vamos mostrar a viv�ncia sensorial nas comunidades. S�o lugares sagrados, abertos ao p�blico mediante agendamento pr�vio, que proporcionam aos visitantes uma experi�ncia repleta de m�sica, religiosidade, boa comida e hist�rias fascinantes. 
 
Quilombo do Sapé
No Quilombo de Sap�, a apresenta��o do Grupo Sorriso Negro mostra que a cultura ancestral � passada para novas gera��es (foto: Carlos Altman/EM)
 
A programa��o d� in�cio no Quilombo de Sap�, com direito a um caf� da manh� feito pela comunidade, com apresenta��o de dan�a e muita m�sica.  A segunda parada do circuito foi no Quilombo de Rodrigues, onde o grupo de percuss�o Negro por Negro recebe os visitantes com muita anima��o. L�, o visitante vai aprender passos de dan�a, conhecer a hist�ria da comunidade e experimentar drinks preparados com ingredientes locais pela Chef Marcela Azevedo. No Quilombo do Ribeir�o, os turistas s�o recebidos por Jaime Ferreira, um morador local e guia tur�stico. Ali, eles mergulharam na cultura quilombola atrav�s da m�sica, da dan�a e de uma tradicional feijoada. Em Marinhos, o mais antigo dos quatro quilombos, uma roda de b�n��os conduzida pela matriarca Dona Nair, os visitantes se despedem dos quilombos. 
Esse evento tur�stico � uma iniciativa de turismo rural e comunit�rio desenvolvida pela Vale em parceria com o designer Ronaldo Fraga e a especialista Miriam Rocha. Segundo Daniele Teixeira, analista de Sustentabilidade da Vale e coordenadora do projeto C�u de Montanhas, o cat�logo foi pensado para diversificar a oferta da regi�o e facilitar o acesso do turista aos atrativos. “Essa a��o busca aumentar o tempo de perman�ncia do visitante que vai a Brumadinho e fortalecer a contribui��o do turismo para a economia local”.  

As viv�ncias do cat�logo C�u de Montanhas s�o comercializadas pelo receptivo HT Happy Travel ou diretamente no site do C�u de Montanhas

Caf� da irmandade

"Somos todos uma fam�lia. Que se cuida, protege, e acolhe. Uma irmandade que tem as ben��os de Nossa Senhora do Ros�rio e S�o Benedito nos guiando. T� bonito de ver o terreiro daqui em festa. Que venham todos tomar o caf� com a gente. A casa sempre estar� aberta"

V� Elza, matriarca do Quilombo de Sap�


quitanda mineira
Caf� da manh� no Quilombo de Sap�, com o melhor da quitanda mineira, d� as boas-vindas aos visitantes (foto: Carlos Altman/EM)


Sentada debaixo de uma grande �rvore bem ao lado do sino da Igreja de S�o Vicente de Paula, Dona Elza, acompanha a chegada dos visitantes. Diante dela, uma mesa com quitutes genu�nos mineiros foi delicadamente montada e decorada para celebrar o caf� da manh�. P�o de queijo, kubu ( broa de fub� assado na folha de bananeira), biscoitos de polvilho, bolos de milho e banana, queijadinha de mandioca com queijo. Para beber, caf� coado na hora, ado�ado com garapa e sucos de frutas da regi�o como lim�o-capeta, maracuj� e mexerica. Del�cias feitas por m�os cuidadosas da comunidade para aquele primeiro banquete do dia em parceria com o chef Edson Puiati. Para a matriarca do Quilombo de Sap�, em Brumadinho, o Circuito dos Quilombos � uma oportunidade de reviver a comunh�o em fam�lia. Foi a possibilidade de estreitar os la�os e de se entregar aos abra�os. 

Na sequ�ncia, o ch�o sagrado se desperta ao som de batuques e tambores. Mulheres do grupo de dan�a Sorriso Negro se apresentam para os turistas, que vieram de v�rias partes do Brasil. O canto de luta e resist�ncia, potencializado pelos movimentos do corpo de uma beleza negra sem igual, � a heran�a ancestral de um povo que chegou escrazidado no Brasil, quebrou correntes e hoje, conquista seu lugar na sociedade atual – s�o, sim, rainhas e princesas que merecem nossos aplausos e rever�ncia. Entre elas, Juliane Aparecida Silva, Michelle Lorraine  Silva, Gisele N�bia Santana e Silv�nia Aparecida Oliveira Pinto que, soltaram a voz e, com um grito de louvor, reafirmaram o orgulho da cor da pele e do cabelo crespo.
 
 
Instagram: @quilombodesape

Negro por Negro


"Antigamente, eu vivia esticando meu cabelo com chapinha. Hoje, tenho orgulho do meu cabelo crespo. Fizemos da dor de nossos antepassados africanos escravizados para escrever letras de m�sicas que glorificam a nossa cor de pele. Somos pretos e temos orgulho disso!"

Dina Braga, l�der do Quilombo de Rodrigues

 
Quilombo de Rodrigues
No Quilombo de Rodrigues, Grupo de dan�a Negro por Negro preserva os c�nticos e tradi��es reafirma a identidade cultural de seu povo (foto: Carlos Altman/EM)
 

Hora de conhecer as tradi��es do Quilombo de Rodrigues. Outro territ�rio negro onde um cuida do outro. Quem vive neste lugar sagrado rever�ncia a fam�lia, a natureza, as tradi��es culturais e religiosas e promove a resist�ncia e tem muito orgulho de ver suas origens preservadas e divulgadas. Reconhecido pela Funda��o Palmares, o quilombo desenvolve projetos culturais de dan�a, m�sica, confec��o de instrumentos musicais como o xequer�( feito de caba�a) e produtos artesanais como pulseiras, ter�os e cord�is feitos com a semente da l�grima de Nossa Senhora. Tudo feito � m�o, e quem visita o local pode confeccionar e levar pra casa sua pr�pria bijuteria.  
O Grupo afro Negro por Negro j� realizou apresenta��es em diversas cidades mineiras, e no ano passado fez um tur pelo Nordeste. Alguns componentes t�m fun��o importante nas guardas de Congo e Mo�ambique da regi�o. Com percuss�o marcante, o grupo usa tambores, xequer�, atabaques, viol�o, cavaquinho e gungas, cantam can��es pr�prias e outras retiradas das tradi��es africanas da Rep�blica Democr�tica do Congo e de Mo�ambique. Se a m�sica encanta, a manh� teve como refresco drinks ( com ou sem �lcool)  preparados pela pesquisadora e mixologista molecular Marcela Azevedo, que h� mais de 10 anos cria bebidas refrescantes com ingredientes colhidos nos quintais, com plantas comuns do dia-a-dia como funcho, alecrim, manjeric�o e os transforma em elixir de pura alquimia de prazer. 

 

Alimento da alma 

"Deus te trouxe aqui/ Para aliviar os teus sofrimento/ � Ele o autor da F�/ Do princ�pio ao fim/ Em todos os seus tormentos/ E ainda se vier noites trai�oeiras/ Se a cruz pesada for, Cristo estar� contigo/ O mundo pode at� fazer voc� chorar/ Mas Deus te quer sorrindo"

Noites Trai�oeiras, na voz das 'cigarrinhas dos quilombo'

 
 
Quilombo do Ribeirão
No Quilombo do Ribeir�o, parada para provar uma deliciosa feijoada para sentir os sabores e temperos da cultura dos quilombos (foto: Carlos Altman/EM)
 

“Sejam bem-vindos… s� estava faltando voc�”. Chegou a t�o esperada hora do almo�o no Quilombo do Ribeir�o. Em um restaurante simples, um caldeir�o de feijoada era colocado na mesa de apoio. Ao lado, outra panelona de arroz e travessas de couve, laranja e farofa. Uma comida brasileira para fazer daquele encontro um dia especial. O tempero estava na medida e as por��es de gordura dos peda�os de porco na quantidade, digamos, recomendada por qualquer cardiologista. O prato, que teve como origem uma iguaria criada por negros escravizados, surgiu em terras brasileiras no Brasil colonial. A cada garfada, sabores ancestrais eclodiram no paladar provocando uma sensa��o de prazer. Alguns visitantes repetiram mais de uma vez e saciaram a vontade de provar a culin�ria simples que toques de amor como tempero. E para fechar a comilan�a, que sobremesa! Convidada para o evento, a renomada chef Tain� Moura deu uma consultoria e preparou uma del�cia levemente adocicada feita com mousse de queijo, mexerica e farofa de rapadura.

Durante todo o banquete no ‘Pal�cio’’ os presentes ouviam, ao lado, as vozes singelas das ‘cigarrinhas do quilombo’. Formado por moradoras da comunidade, as divas cantoras soltavam, � capela, c�nticos tradicionais de Minas e louvores religiosos como Noites Trai�oeiras:. Essa m�sica era o pren�ncio do que estavam todos a experimentar no pr�ximo e �ltimo quilombo visitado.

Ben��os de Maria

"O meu colch�o � areia, meu cobertor, as ondas do mar. Quer escutar a minha ben��o? Para Jesus aben�oar"

Dona Nair, benzedeira do Quilombo de Marinhos

 
 Quilombo dos Marinhos
Benzedeira Dona Nair, do Quilombo dos Marinhos, � vista como a curandeira que, atrav�s de suas rezas, promove cura do corpo e da alma (foto: Carlos Altman/EM)
 

Feche os olhos, respire fundo. Imagine ouvir o som ao redor: assobios e grunhidos de maritacas, bem-te-vis e pica-paus. Tente ouvir o vento balan�ando as folhas. Sinta o cheiro da grama, das flores da grande mangueira e do p� de carambola. Agora, abra os olhos, tente ver o p�r do Sol, se despedindo atr�s das montanhas ap�s um dia intenso de emo��es. Nesse exato momento, naquela hora m�gica, dar� o in�cio do melhor do Circuito dos Quilombos e, tamb�m, o fim de uma maratona que se iniciou em um caf� da manh�, se prolongou por visitas em abrigos fraternos onde cada habitante desses quilombos s�o reis e rainhas do lugar agora, se concretiza, com a ben��o do Maria. 

 Ao lado da Igreja de Nossa Senhora, Dona Nair, m�e-rainha benzedeira do Quilombo de Marinhos, flutua sobre o ch�o sagrado do terreiro do lugar. Em sua apresenta��o inicial, ela fala das dificuldades que o povo da comunidade j� passou e ressalta a import�ncia dos la�os familiares para se manter vivos e unidos: “Teve um tempo que n�o t�nhamos nada pra comer, e a fome era um tormento. Foi ent�o, que percebendo a dor do flagelo que n�o poder levar a comida � mesa, irm�os e irm�s da comunidade se uniram, trouxeram o alimento que tinham em seus quintais como milho, feij�o, quiabo e mandioca e, deste gesto de amor e solidariedade, nasceu a apresenta��o da Dan�a da Colheita, uma forma de agradecer o alimento recebido”.


E nesse terreiro, ela inicia sua benze��o. Mas antes, Dona Nair relembra: “teve o caso de uma mulher em estado terminal de c�ncer, que estava desenganada pelos m�dicos, que ao ouvir a b�n��o, se viu curada. N�o sou eu que promove a cura. Mas, ele, que est� l� no alto, acima de todos n�s. Foi a f� dela em acreditar no poder divino que a fez se curar e hoje ela est� bem”. E como se estivesse em transe, a voz entoa c�nticos reconfortantes que dizem promover milagres. 
 


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