Cao Guimarães apresenta a exposição 'Um grão de domingo' em Belo Horizonte
Fotografias, vídeos e instalações do artista plástico e cineasta mineiro podem ser vistas na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas
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Siga noEntrar na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas, a partir desta sexta-feira (11/7), será como se desligar do mundo e mergulhar numa espécie de êxtase. É que todo o espaço estará ocupado por obras que apresentam um recorte da produção artística do mineiro Cao Guimarães, da década de 1980 até os dias atuais.
Batizada de “Um grão de domingo”, a mostra é a primeira individual do artista plástico e cineasta desde 2017 (a última ocorreu no Eye Film Museum, em Amsterdã) e marca o retorno de suas obras a BH depois de 10 anos. A curadoria é assinada por Luisa Duarte e Lucas Alberto.
As obras (fotografias, vídeos e instalações) seguem uma narrativa do olhar e da contemplação. Daí o nome da exposição, inspirado no texto homônimo de Walter Benjamin (1892-1940), que compara o domingo à suspensão do tempo, permitindo a percepção mais aguçada do ambiente e das sensações.
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“Benjamin estava pensando em Nápoles quando escreveu esse texto. Porque foi lá que ele teve a percepção de que cada dia da semana tem o seu grão de domingo”, diz Cao.
No caso do artista e cineasta belo-horizontino, é como se toda sua produção funcionasse como uma suspensão temporal dentro de um mundo vertiginoso, acelerado e hiperconsumista. Suas imagens retratam a hipnose e convidam o visitante ao transe, por meio da percepção da realidade através do sonho – e também pela realidade distorcida pelo factual.
O primeiro núcleo da mostra reúne obras que exploram o universo onírico. Logo na entrada, o visitante se depara com o vídeo “Hipnose” (2001), passa pelas séries fotográficas “Cama para sonhar” e “Sonho de bebê”, até chegar à videoinstalação “Guardião do tempo”, um dos três trabalhos inéditos que integram a mostra. Na tela, o rapaz sobe constantemente uma escada, emulando o mito de Sísifo.
No mundo dos humanos
As outras duas obras inéditas são “Rolezinho” e “Clinamen”. A primeira é um registro dos dias em que Cao “adotou” um gusano, verme semelhante a uma larva, no Uruguai. “Ele apareceu no jardim da casa que mantenho lá. Aí, decidi levá-lo para dar um rolê no mundo dos humanos”, conta.
“Levei para dentro de casa, deixei andar pelo computador e escutamos juntos um podcast sobre filosofia com Peter Pál Pelbart. É muito interessante, porque os gusanos são lindos, meio carnavalescos. Juntos, parecem uma ala de escola de samba na Sapucaí. Ficam bailando”, acrescenta.
“Clinamen”, por sua vez, remete ao termo que o poeta romano Lucrécio utilizou para nomear e dar corpo poético à ideia de liberdade e acaso presentes na filosofia de Epicuro (341 a.C./270 a.C.).
De acordo com o pensador grego, o universo não é determinista, formado apenas por átomos que se movem eternamente em linha reta no vácuo, como propunha o filósofo Demócrito (460 a.C./370 a.C.).
Na visão epicurista, podem ocorrer desvios naturais nesse movimento, o que introduz o acaso e a imprevisibilidade na natureza. Com isso, está aberto o espaço para a liberdade do ser humano.
Cao ilustrou essa ideia com fotografias de uma barra de gelo derretendo. As gotas que caem – nem sempre em linha reta – evocam os átomos em movimento, que, eventualmente, saem de sua trajetória.
Gambiarras
As imagens mais chamativas de “Um grão de domingo” estão na série “Gambiarras”, que apresenta soluções caseiras criativas inventadas por brasileiros e cubanos. O bagaço de limão vira cinzeiro; o dado, pelo próprio peso, mantém a agulha da vitrola sobre o disco; o porta-malas do carro abandonado serve de armário; a tábua de bater carne sustenta uma janela guilhotina.
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“Geralmente, as gambiarras são feitas em países de Terceiro Mundo, onde a ideia da descartabilidade não existe. Nesses lugares, você não joga fora as coisas para comprar outras. Tem que resolver o problema. E as soluções são as gambiarras”, afirma.
Com “Um grão de domingo”, Cao pretende desviar o olhar das pessoas para os detalhes, com o intuito de provocar reflexão. “A umidade que se forma ao redor de uma folha caída no chão, as gotas do gelo derretendo ou mesmo as gambiarras… São coisas que passam batido, porque nós estamos vivendo numa velocidade tal que não conseguimos parar para contemplar o mundo. Por isso, quero que as pessoas tenham esse grão de domingo ao entrar na galeria”, conclui o artista.
“UM GRÃO DE DOMINGO”
Exposição individual de Cao Guimarães. A partir desta sexta-feira (11/7), das 10h às 20h, na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Visitação até 29 de setembro, de terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca. Informações: (31) 3516-1000.