Rapper carioca Delacruz volta hoje a BH com o show do disco "Vinho"
Depois de fazer show n’A Autêntica, em março, artista se apresenta neste sábado (12/7) no Terrazzo, no Olhos d’Água, que tem capacidade para até 3 mil pessoas
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Siga noEm tempos em que números nas plataformas de streaming e nas redes sociais são tratados como sinônimo de sucesso mesmo quando o artista não consegue converter isso em público real e lotar shows, o rapper Delacruz diz seguir na contramão. Ele não faz música pensando em hits.
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Nascido em Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Daniel Azevedo da Cruz escreveu seus primeiros versos aos 11 anos, mas a fama só chegou uma década depois, com a participação na segunda edição do projeto Poesia Acústica, fenômeno do rap nacional que já impulsionou carreiras como as de Xamã e MC Cabelinho.
Ele diz que a opção por não seguir a lógica das músicas que estouram nas plataformas vem do desejo de construir uma trajetória mais duradoura. “A ideia do hit funciona bastante, só que eu sou um cara preguiçoso. A música com o assunto e os artistas do momento te dá muito dinheiro, mas por pouco tempo. E, no meu caso, eu penso em fazer músicas que me deem um pouco de dinheiro para todo o sempre”, afirma.
“Dá um pouco mais de trabalho na fase de produção, mas eu também não tenho que ficar fazendo toda hora”, comenta. Porém, não fazer as músicas pensando nessa lógica não significa que ele não tenha alcançado o sucesso dos números. No último ano, emplacou a sensual faixa “Afrodite” com a cantora Iza entre as mais ouvidas do Spotify.
O sucesso de público também parece acompanhar a trajetória do rapper. Delacruz volta neste sábado (12/7) a Belo Horizonte com o show da primeira turnê de sua carreira, “Vinho”. É um sonho que ele só conseguiu concretizar no ano passado, depois do adiamento imposto pela pandemia.
O primeiro show de “Vinho” na capital mineira foi n’A Autêntica, em março. Hoje ele se apresentará em um espaço novo, o Terrazzo, no bairro Olhos d’Água, com capacidade para até 3 mil pessoas.
Corações partidos
Delacruz promete uma apresentação dançante e vigorosa, sem deixar de lado os blocos das músicas românticas que “pegam no coração”. “Quem terminou um relacionamento recentemente tem que vir preparado”, avisa, durante chamada de vídeo com a reportagem enquanto aguardava o embarque de um voo de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Lançado em outubro do ano passado, “Vinho” reflete, como o próprio nome sugere, o amadurecimento musical de Delacruz. Segundo ele, o álbum representa um ponto de equilíbrio entre diferentes fases de sua carreira. “Já tive uma fase mais popular, no início, quando meu nome começou a circular. Era um estilo mais simples, com músicas feitas no violão e uma roupagem mais pop”, diz.
Com o tempo, veio a vontade de aprofundar-se musicalmente. Estudou teoria, experimentou arranjos mais complexos e lançou em 2019 “Nonsense”, álbum marcado por uma sonoridade mais elaborada. “‘Vinho’ nasce justamente do desejo de unir essas duas partes de mim. É um trabalho com musicalidade, mas com o papo direto. Acho que essa é a ideia de maturidade: encontrar o equilíbrio, nem muito pra mais, nem muito pra menos.”
Estética
O palco, decorado com plantas, tapetes e luminárias, amplia o universo visual criado pelo álbum e tem cenografia assinada por Carol Agya. “Trouxemos essa estética de um bom lugar para tomar vinho”, resume Delacruz. As cores da bebida também aparecem no cenário e na iluminação. O repertório inclui as sete faixas do novo projeto, além dos sucessos do artista, incluindo “Sobre nós”, que o revelou em Poesia Acústica.
Na conversa com o Estado de Minas, Delacruz falou também sobre o momento atual do rap. O carioca destaca como pontos positivos o aumento da presença feminina no gênero, citando a amiga Budah, e o crescimento da musicalidade nas produções.
Segundo ele, há cada vez mais artistas se apresentando com banda ao vivo, ao invés de apenas com um DJ soltando os beats, algo que já é comum no exterior há bastante tempo. “Estamos colocando um pouco mais de musicalidade e de informação musical nas músicas”, avalia.
Como ponto negativo, ele lamenta o que considera um ciclo de retrocesso, com tentativas de silenciar o rap e perseguição a artistas. Delacruz compara o cenário atual a períodos do passado em que o gênero também foi alvo de repressão. Ele cita casos recentes, como o de Oruam, alvo de um projeto de lei apelidado de “lei anti-Oruam”, e a prisão de MC Poze do Rodo, solto depois de cinco dias.
“A gente fala hoje sobre leis que tentam silenciar o rap, como já aconteceu anos atrás. Vários artistas já passaram por isso. Essa é a parte lamentável, nosso estado, nossa situação governamental. É a mesma merda de sempre”, afirma.
DELACRUZ
Show da turnê “Vinho”. Neste sábado (12/7), no Terrazzo (Rua Gabriela de Melo, 367 - Olhos D'água). Abertura dos portões às 20h. Ingressos no Sympla. Masculino R$ 100 e feminino R$ 85.