O líquido de uma taça de coquetel se mistura às ondas do mar enquanto um senhor saboreia a bebida e observa à distância uma jovem de biquíni vermelho se banhar. Assim começa “O brilho do diamante secreto”, novo filme do casal de diretores Bruno Forzani e Hélène Cattet, que teve estreia mundial no Festival de Cinema de Berlim e estreia nesta quinta (17/7) nos cinemas.  

O homem em questão é John D. (Fabio Testi), um ex-espião na casa dos 70 anos que se hospeda em um hotel de luxo na Riviera Francesa. A presença da jovem, que é também sua vizinha de quarto, desperta nele sensações que o transportam de volta ao seu passado glorioso, quando era um espião internacional.

Enquanto o passado se impõe, Testi dá lugar a Yannick Renier, que interpreta a versão jovem de John D. em uma série de flashbacks. Neles, vemos o espião na missão de proteger Marcus Strand (Koen De Bouw), um importante empresário do ramo da eletricidade, descrito no filme como alguém que vale mais do que 1 milhão de barris de petróleo por dia.

Strand está na mira de diversos inimigos e deve ser protegido a todo custo. “Proteja-o como se fosse o que você mais preza no mundo”, ordena o chefe da missão a John. Entre os principais perigos está Serpentik (Thi Mai Nguyen), uma misteriosa mulher vestida com traje de couro e visual de Mulher-Gato. Ela protagoniza a cena de ação mais eletrizante do filme, vale dizer.


Alucinações

John revive suas memórias por meio de imagens fragmentadas e alucinações. Com poucos diálogos, o filme aposta na construção de uma atmosfera sensorial, onde passado e presente, realidade e ficção se entrelaçam.

A influência de James Bond na trama é clara. A começar pelo título, que remete ao de “Os diamantes são eternos”, de 1971, da franquia 007. Estão presentes também os equipamentos mirabolantes, como um carro equipado com metralhadoras nos faróis, um relógio que funciona como detonador ou até um anel que lê pensamentos, numa tecnologia que parece mais ter saído da animação “Três espiãs demais”.

Se os filmes de Bond são ambientados em cenários glamourosos, como Tailândia, Suíça, Egito e Mônaco, aqui a Riviera Francesa não fica atrás, com seus teatros, hotéis e carros de luxo. Mas enquanto Bond é o herói idealizado, invencível, sedutor e eficaz, John D. é o oposto. Um sujeito quebrado, assombrado por um passado que ele não conseguiu resolver. É um espião que não cumpriu a tarefa de salvar o mundo.

Os diretores Hélène Cattet e Bruno Forzani são franceses radicados na Bélgica e trabalham juntos desde o ano 2000. “O brilho do diamante secreto” é o quarto longa-metragem da dupla. Eles estrearam no cinema com “Sofrido” (2009), seguido de “A estranha cor das lágrimas do seu corpo” (2012). Em 2017 lançaram “Cadáveres bronzeados”, adaptação do livro homônimo de Jean-Patrick Manchette e Jean-Pierre Bastid.

Durante a Berlinale, Hélène descreveu o novo trabalho como um “orgasmo cinematográfico.” “Queríamos falar não apenas com o cérebro, mas com o corpo. Nossa intenção era ser visceral”, disse à Euronews.

Na mesma entrevista, Bruno comentou sobre a escolha do título. “Queríamos a palavra ‘diamante’ porque construímos o filme como um diamante. Quando se olha para um, há várias facetas e quando você assiste ao filme, também encontra diferentes camadas e significados.”

À medida que a trama avança, ela se torna cada vez mais labiríntica. A história é narrada de forma frenética, assumindo um papel secundário diante da força das imagens, que parecem importar mais que o fio da narrativa. Assim como a mente confusa do protagonista, o espectador fica em dúvida sobre o que é real, o que é alucinação e em qual tempo aquilo que está vendo se passa.

Visualmente, o filme é impactante. Destaque para o uso das cores e a movimentação inteligente da câmera diante das memórias distorcidas do protagonista. Algumas cenas parecem ter sido criadas sob efeito de entorpecentes, com imagens que beiram o surrealismo. Embora o filme nem sempre sustente todas as ideias que apresenta, oferece uma experiência estética interessante.


“O BRILHO DO DIAMANTE SECRETO”
(Bélgica, Luxemburgo, Itália, França 2025, 87 min.) Direção: Bruno Forzani e Hélène Cattet. Com Fabio Testi, Yannick Renier, Koen De Bouw e Thi Mai Nguyen. Estreia nesta quinta-feira (17/7) no Pátio Savassi, Centro Cultural Unimed BH Minas e no UNA Cine Belas Artes.

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