Um aviso para quem está encantado com as paisagens de “Indomável”, a minissérie que chegou ao topo do ranking da Netflix nesta semana. Não há nenhuma cena nos seis episódios da produção que tenha sido rodada em Yosemite, um dos parques nacionais mais importantes e populares dos Estados Unidos. Todas as locações são canadenses, parques na região de Vancouver, na Colúmbia Britânica.

Isso é muito importante, já que todo o enredo – um misto de policial e drama, tal qual um faroeste dos tempos atuais – se desenrola dentro do parque na Califórnia. O “Yosemite” da Netflix é incrível, com vales, cachoeiras, animais, tudo de encher os olhos. E é realmente um personagem da história, aqui protagonizada por Eric Bana.

“Indomável” começa em alta rotação. Dois alpinistas estão no meio da escalada do El Capitán, uma formação rochosa a quase mil metros de altura. No passado considerado impossível de ser escalado, é hoje um desafio e tanto para os amantes do gênero. O mais jovem quase cai montanha abaixo, quando um corpo feminino que vem do cume se enrosca nas cordas que sustentam a dupla.


Trauma familiar

Terminada a introdução, conhecemos o nosso herói. Como um caubói moderno, ele chega a cavalo. Kyle Turner (Eric Bana) é um agente especial do Serviço Nacional de Parques. Não é exatamente muito querido entre os guardas florestais. Gosta de trabalhar sozinho, dá muitas ordens, mal fala com os outros. Por trás de tanta rabugice, logo saberemos, há um grande trauma: a morte de seu filho, Caleb (Ezra Wilson), cujo corpo foi encontrado em um lago do parque.

Kyle logo vê que a jovem cujo corpo jaz no cume da montanha não caiu acidentalmente – há muitas escoriações pré-queda e a marca de uma bala que ele, como um bom rastreador, descobre numa rocha. Para ajudá-lo na investigação, ele vai contar com uma novata, a guarda florestal Naya Vasquez (Lily Santiago). Ex-patrulheira da polícia de Los Angeles, ela se mudou para o parque com o único filho, por causa de uma relação abusiva com o pai da criança.

Esse é só o início do drama, pois “Indomável” intercala sequências da investigação com a turbulenta vida pessoal dos protagonistas. Kyle vive numa cabana no parque e, até hoje, sabe-se lá quantos anos depois da mudança, as caixas com objetos continuam dominando o cenário. A morte de Caleb, com quem ele conversa quase diariamente, o levou à bebida. E a telefonemas de madrugada para sua ex-mulher, Jill (Rosemarie DeWitt), hoje casada com o afável dentista Scott (Josh Randall).

Seu grande amigo é o guarda florestal chefe, Paul Souter (Sam Neill), um homem que já teve também algumas perdas na vida. A cada novo episódio, outros personagens vão chegando, como um grupo de hippies que vive seguindo as próprias leis (ou a falta delas) numa região remota de Yosemite, e Shane Maguire (Wilson Bethel), ex-guarda florestal que atua como agente da gestão da vida selvagem.

A narrativa segue muito bem até o terceiro episódio. Na metade final, “Indomável” padece do mesmo mal que muitas outras séries de suspense. Cria tantas subtramas que acaba sem tempo para resolver as histórias, que ficam mal costuradas.

Há ainda algumas situações bastante improváveis que envolvem um laboratório de drogas em pleno parque à la “Breaking bad”. É aquele tipo de produção ruim mas boa, que a gente vai até o final só para ver o que acontece. E tem ainda as paisagens – mesmo sendo de um falso Yosemite, elas enchem os olhos.

“INDOMÁVEL”
• A minissérie, em seis episódios, está disponível na Netflix.

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