Velório do corpo do cantor Arlindo Cruz, morto na sexta, 08/08/2025, começa neste sábado e vai até amanhã crédito: Reprodução/Instagram
Por Cadu Bruno
O corpo do cantor e compositor Arlindo Cruz, que morreu nesta sexta-feira (8) aos 66 anos, será velado neste sábado (9), a partir de 18h, na quadra do Império Serrano, em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. O velório, segundo a agremiação, seguirá o formato de gurufim, tradição afro-brasileira que mistura música e bebida para aliviar o luto.
A cerimônia será aberta ao público até 10h de amanhã, domingo, com um momento reservado para familiares e amigos próximos. O sepultamento está previsto as 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.
O que é o gurufim e como será usado no velório de Arlindo Cruz?
O gurufim é uma prática trazida por africanos escravizados ao Brasil. Trata-se de uma cerimônia fúnebre em que música e confraternização são usadas para celebrar a vida e amenizar a dor da perda.
Estado de saúde e morte de Arlindo Cruz
A morte foi confirmada pela esposa, Babi Cruz, no início da tarde de sexta-feira. O cantor estava internado desde abril no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio, e morreu por falência múltipla dos órgãos.
Arlindo vinha enfrentando problemas de saúde desde 2017, quando sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico. Desde então, lidava com sequelas, passava por internações e já não se apresentava mais.
O filho do sambista, Arlindinho, falou sobre o legado do pai e o sofrimento que acompanhou durante esses oito anos. “Foi um legado de respeito, entrega, amor. Ele me ensinou a amar. Sempre deu o máximo — tudo o que pudesse fazer de melhor, ele faria. Agora ele está descansando. Estava muito difícil para ele.”
Emocionado, Arlindinho contou que a dor de ver o pai debilitado era mais difícil que lidar com a perda. “Ver meu pai sofrendo era muito pior que qualquer coisa. Hoje é um dos dias mais leves. Ver meu pai vivo com dor era algo que me desmontava”, relatou.
A Prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias e anunciou que o futuro Parque Piedade levará o nome de Arlindo Cruz. A homenagem foi publicada em edição extra do Diário Oficial.
Com previsão de inauguração até o fim do ano, o Parque Piedade Arlindo Cruz será construído em uma área de cerca de 18 mil m², onde funcionava a Universidade Gama Filho.
O espaço contará com:
Áreas de lazer
Centro cultural, esportivo e educacional
Parque infantil
Academia e aparelhos de ginástica
Campo de futebol
Parcão para pets
Caetano Veloso resumiu em poucas palavras a importância de Arlindo Cruz para a música brasileira: "Um Deus que cantava as próprias melodias mágicas, o maior sambista moderno". O cantor e compositor de 66 anos morreu em 8 de agosto, 8 anos após sofrer um AVC que o deixou incapacitado de seguir sua incrível produção de arte musical. Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Arlindo passou todos esses anos sob os cuidados da família e de médicos, passando por diversas cirurgias. Um dos nomes mais prolíficos da música mundial, Artlindo deixou 847 composições registradas no ECAD, o escritório de direitos autorais. Ele teve 1.844 gravações cadastradas em seu nome no sistema. Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Suas músicas - muitas delas verdadeiros hinos do samba moderno - foram gravadas por muitos artistas, com enorme popularidade. Sempre com melodias e letras que se afinavam com perfeição. Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Outros artistas também se manifestaram sobre a importância de Arlindo Cruz. Com a voz embargada, Diogo Nogueira disse: "Meus sambas, minhas ideias, meus projetos têm muita influência dele". Reprodução do Youtube
Mumuzinho gravou uma música homenageando Arlindo dias antes da morte do compositor. Abalado com a perda, ele disse: "Conviver com o Arlindo era maravilhoso! Ao mesmo tempo em que a gente olhava o cara e via uma entidade, uma pessoa grandiosa, ele era um cara simples e não tinha vaidade nenhuma". Divulgação
Amigo de Arlindo e parceiro dele em várias músicas, Zeca Pagodinho disse: "Morre hoje meu compadre, meu parceiro, meu amigo Arlindo Cruz. Que Deus receba de braços abertos, sofreu muito e agora precisa descansar um pouco. Vai com Deus!" Reprodução Facebook Zeca Pagodinho
O estado de saúde de Arlindo já vinha se agravando conforme a imprensa divulgou em meados de julho. A família divulgou nota sobre o sambista dizendo que ele estava "estável" sob cuidados e cercado de amor. O filho, Arlindinho, pediu respeito: "Meu pai ainda está vivo", ele disse.
Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Arlindo Cruz nasceu em 14 de setembro de 1958 em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro. Era compositor e torcedor da escola de samba Império Serrano. E emplacou diversos sambas-enredo em carnavais da verde e branca. Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Multi-instrumentista, compositor e cantor, ele começou a tocar cavaquinho ainda na infância, incentivado por seu pai, Arlindão Cruz. Ele ganhou o instrumento com apenas seis anos de idade.
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Na adolescência, ele já atuava como músico profissional e passou a integrar rodas de samba.
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Ele é uma das crias do Cacique de Ramos, um dos mais conhecidos blocos carnavalescos do Rio de Janeiro, ao lado de nomes como Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila.
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Nos anos 1980, ele ganhou notoriedade ao integrar o grupo Fundo de Quintal, um dos expoentes da renovação do samba tradicional com rica instrumentação e levadas mais cadenciadas.
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Durante 12 anos no Fundo de Quintal, Arlindo se destacou também como compositor. Ele saiu do grupo no início dos anos 1990 e seguiu carreira solo, firmando-se como um dos maiores sambistas de sua geração. Sombrinha foi um dos seus parceiros mais frequentes.
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Seus discos solo, como “Pagode do Arlindo” e “Sambista Perfeito”, misturam lirismo, crítica social e celebração da cultura popular.
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Ao longo da carreira, Arlindo Cruz compôs com diversos parceiros. Entre eles, Sombrinha, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e outros ícones do gênero. Reprodução do Instagram @arlindocruzobem
Clássicos como “O Show Tem Que Continuar”, “Meu Lugar” e “Ainda É Tempo Pra Ser Feliz” fazem parte da memória afetiva de milhões de brasileiros.
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Além da carreira solo, Arlindo participou de projetos especiais, como o Sambabook, e de turnês com o filho Arlindinho, com quem vinha dividindo os palcos antes de sofrer o AVC que o afastou da vida pública.
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Mesmo longe dos palcos, Arlindo Cruz permaneceu como símbolo do samba autêntico e do talento generoso. Sua obra continuou e sempre continuará a ser reverenciada e interpretada por novas gerações de artistas.
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Arlindo Cruz era casado com Babi Cruz desde 2012. Dessa união, nasceram os filhos Arlindinho e Flora. Além disso, o sambista tinha outro filho, Kauan Felipe, de um relacionamento anterior.
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