Arte coletiva

Exposição 'Marabunta' reúne obras de artistas latino-americanos

Com curadoria de Paulo Nazareth, evento na Mitre Galeria é uma reflexão sobre o cenário político e social, com pinturas, esculturas e instalações

Publicidade
Carregando...

 
Marabunta é um tipo de formiga muito voraz, comum no Brasil e em outros países da América Latina. Também é o nome da exposição coletiva recém-inaugurada na Mitre Galeria, com obras de 13 artistas de diferentes países, principalmente Brasil e Guatemala. A curadoria é de Paulo Nazareth, que também expõe seu trabalho. Por meio de suas criações, o grupo propõe leituras viscerais sobre a condição latino-americana em tempos de crise, ruína e reinvenção.

Adán Vallecillo, Alejandro de la Guerra, Ana Tomimori, Aníbal Lopez, Bruno Baptistelli, Carolina Cordeiro, Edgar Calel, Jennifer Paiz, Jorge de Leon, Luana Vitra e Marcel Diogo, além do curador, são os nomes presentes em “Marabunta”.

Nazareth explica que é um grupo que vem se correspondendo e atuando em conjunto há cerca de 15 anos. Ele diz que a conexão entre as obras em exposição na Mitre vem justamente desse intercâmbio e dos interesses e olhares convergentes dos artistas.

“É uma conexão latino-americana que mantém o diálogo que se constrói a partir de pontos em comum de um certo cenário continental. Costumo apontar a Guatemala como um estopim, o lugar de onde se alastraram os golpes e as ditaduras no século 20”, diz. Ele se refere ao regime militar instaurado naquele país em 1954 – uma resposta estadunidense à revolução socialista ocorrida em 1944. Tratou-se, conforme aponta, de um movimento autoritário que foi se alastrando por toda a América Latina.

Nazareth observa que o momento atual, marcado pela violência cotidiana, pela expropriação de territórios, pelas heranças coloniais, pela desigualdade social e pela crise ecológica, é um reflexo desses movimentos ditatoriais.

“Este é o ponto central da conversa entre esses artistas, sobre como fazemos para seguirmos vivos, resistirmos e mantermos o sorriso no rosto. Tem obras que falam de inúmeras violências, contra o corpo humano e contra a Terra”, ressalta.

Homem está de lado, com o braço levantado e sem camisa em quadro do artista Marcel Diogo
Trabalho de Marcel Diogo na exposição 'Marabunta' remete ao guerrilheiro Carlos Marighella, que lutou contra a ditadura militar no Brasil Marcel Diogo/reprodução

Crise, ruína e reinvenção

O texto de apresentação de “Marabunta” fala em tempos de crise e ruína, mas também em reinvenção, reconstrução social, formas de resistência e reorganização. Nazareth afirma que, apesar do cenário desolador, consegue ver uma luz no fim do túnel.

“Enquanto estamos respirando, acreditamos que há possibilidade de seguir em frente. Trabalho para me manter e para manter o entorno vivo. É difícil, mas não podemos baixar a guarda. Temos que acordar acreditando que o dia vai terminar melhor”, diz.

Ele entende que o caminho é sempre a cooperação e a conversa com o próximo.

“O mundo inteiro está de assustar, mas a gente vai criando esses lugares seguros, seja no Brasil, na Guatemala, na fronteira Norte do México ou mesmo dentro dos Estados Unidos, que é hoje a grande ameaça à soberania de outros países mundo afora. Todos os dias temos que lidar com isso, mas vamos nos juntando, dando as mãos. É uma cooperação entre vizinhos de casa, de bairro e de países”, pontua.

Arte, política e justiça

O artista e curador ressalta que “Marabunta” fala precisamente de encontrar o vizinho, ter essas conversas com ele e se ajudar. Ele chama a atenção para as distâncias geográficas e culturais entre América do Sul e América Central, mas salienta que são muitos os pontos em comum, os desejos e os sonhos.

Nazareth destaca que a mostra apresenta esculturas, pinturas, instalações e intervenções que tensionam os limites entre arte, política e justiça.

Ele pontua que algumas das obras foram criadas especialmente para a exposição na Mitre Galeria e que outras já foram vistas em coletivas realizadas por esse mesmo grupo de artistas na Nicarágua, na Guatemala e em São Paulo.

O número de criações com que cada artista comparece varia, de acordo com o curador. “Alejandro de la Guerra, por exemplo, está presente com um vídeo e uma pintura, duas peças em dois suportes diferentes. Paula Tomimori também está com duas peças, mas que conversam entre si”, diz.

Perseguição a imigrantes

Jorge de Leon expõe uma série de pinturas pequenas, que tanto podem ser vistas como um conjunto quanto individualmente.

“São imagens que retratam acontecimentos em toda a América, como a repressão que os imigrantes vêm sofrendo nos Estados Unidos ou fatos ocorridos no Rio de Janeiro”, diz Paulo Nazareth.

Outro exemplo que ele dá é a mineira Luana Vitra, de Contagem, que apresenta duas esculturas que, explorando a matéria bruta do mineral, tratam de questões específicas do estado.


"Macaúba"

Paulo Nazareth está presente em “Marabunta” com um desenho, logo na entrada da galeria, intitulado “Macaúba”, e bordados em flanelas que trazem palavras, expressões e desenhos. O desenho, ele explica, alude ao seu território, o Bairro Palmital, em Santa Luzia, onde vive e trabalha, que, no passado, foi uma fazenda escravista e é pródigo no tipo de palmeira denominada macaúba.

Suas folhas servem para cobrir o telhado das casas de pau a pique e de cujo fruto se faz suco e vinho. Uma das flanelas traz o nome da exposição bordado.

“A marabunta é essa formiga que vai comendo tudo, em bando, devastando tudo o que tem pela frente. Esse nome permite uma corruptela, porque 'mara' é como se referiam às gangues na Guatemala em décadas passadas. Hoje, o sentido mudou, diz respeito a um grupo de amigos, um coletivo que age e trabalha junto. Precisamos ser marabunta neste momento político, agir coletivamente para nos protegermos”, diz Paulo Nazareth.

“MARABUNTA”

Exposição coletiva com curadoria de Paulo Nazareth, em cartaz até 27 de setembro na Mitre Galeria (Rua Tenente Brito Melo, 1.217, Barro Preto). Abre de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 10h às 16h. Entrada gratuita.

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay