Documentário conta a vida e obra do compositor carioca Moacyr Luz
Filme dirigido por Tarsilla Alves está em cartaz no UNA Cine Belas Artes, trazendo as parcerias e histórias do sambista defensor do Rio de Janeiro
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Siga noÉ com uma espécie de galhofa que tem início o documentário “Moacyr Luz, o embaixador dessa cidade”, em cartaz no UNA Cine Belas Artes. O músico e compositor de 67 anos é carioquíssimo, defensor do Rio de Janeiro como poucos. Só que o filme tem início em São Paulo, em uma tarde de domingo. A explicação logo chega.
A câmera muito próxima de Tarsilla Alves, aqui dirigindo seu primeiro longa-metragem, acompanha Moacyr, o Moa, numa roda de samba no Pirajá (bar cujo mote é “Um pedaço do Rio em SP). A imagem chega até a calçada, com a câmera acompanhando a fila próxima de dobrar o quarteirão. Moacyr é do Rio, mas seus sambas são de todo mundo.
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A estrutura do documentário separa seus temas a partir dos dias da semana, de domingo a domingo. Faz muito sentido também, já que Moacyr fundou, 20 anos atrás, o Samba do Trabalhador. Desde então, sempre às segundas, a roda de samba leva dezenas de pessoas ao Clube Renascença, no Andaraí, Zona Norte do Rio.
As mãos trêmulas denunciam o Parkinson, mas ele não é citado. A insuficiência cardíaca que levou o músico a uma internação em 2023 tampouco. A hora é de celebração, e nada, mesmo com limitações, parece tirar o sorriso e o bom humor de Moacyr.
O filme o segue em encontros com pessoas e lugares importantes. Nascido em Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste, Moa fez da Zona Norte sua casa. “Hélio Delmiro me ensinou a ouvir e Aldir Blanc a falar”, diz ele a certo momento.
Após perder o pai, aos 15 anos, Moacyr e sua mãe se mudaram para o Méier. Foi ali que ele conheceu Delmiro. O guitarrista, morto em junho, se tornou não somente seu professor. Foi uma espécie de mentor.
As histórias vão se seguindo, na voz dele e de outros. Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Fafá de Belém, Guinga, Jards Macalé, Leila Pinheiro, Teresa Cristina são alguns dos personagens dessa história.
“Dobrando a Carioca” (2016), CD e DVD que reuniu Moacyr, Guinga, Macalé e Zé Renato em uma série de shows, é relembrado por meio de várias passagens. O motorista de uma van que os levou para uma apresentação se recusou a transportá-los na volta por causa dos palavrões e baixarias das conversas.
Aldir Blanc se tornou um de seus principais parceiros após descobrirem que moravam no mesmo prédio. Para o filme, Moacyr retornou ao apartamento do autor de “O bêbado e o equilibrista”. Na biblioteca de Blanc e ao lado da viúva dele, Mary Sá Freire, relembra a amizade daquele que abriu as portas de sua casa e de sua vida. “Aqui tem uns 20 mil livros. Quando cheguei, o Aldir já tinha lido metade. E eu não tinha lido nenhum”.
Há uma ponta de melancolia ao falar de Blanc (com quem compôs “Coração do agreste”, tema de Beth Faria na novela “Tieta” e também uma das melhoras histórias do longa). Outro momento mais introspectivo vem de quem menos se poderia imaginar. Ao lado de Zeca Pagodinho, Moacyr ouve que o samba “Vida da minha vida” (Moacyr e Sereno) faz o ídolo se lembrar do próprio pai, que tomava a canção como autobiográfica.
Boa parte das filmagens foi na rua. Numa feira que Moacyr frequentou por anos, na praia, nos botecos (seu primeiro livro, lançado em 2005, é “Manual de sobrevivência nos butiquis mais vagabundos”), na Mangueira, no bloco de carnaval.
“Falam que a gente perde 15 minutos de vida por comer torresmo. Pelas contas, eu teria morrido em 2014”. É com essa verve, e uma boa tirada após a outra, que Moacyr conduz o espectador para sua vida, seus amigos, sua cerveja e seu samba. Não há tempo para lamentações.
“MOACYR LUZ, O EMBAIXADOR DESSA CIDADE”
(Brasil, 2025, 95min.) Direção de Tarsilla Alves – O filme está em cartaz às 16h40 na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes