Um feirante é encontrado morto sob circunstâncias suspeitíssimas. Justo ele, que devia dinheiro a quase todos da feira, aparece morto – com uma facada na barriga – no dia em que ganha uma bolada no jogo do bicho.


O caso é, no mínimo, estranho. E quem resolve investigar é um policial inexpressivo, que faz a segurança do local nas horas vagas. Como de praxe, todo mundo é suspeito, até que se encontre o culpado.


Essa é a trama de “O rei da feira”, filme de Felipe Joffily, estrelado por Leandro Hassum e Pedro Wagner; que chega aos cinemas nesta quinta-feira (4/9).


“É uma espécie de Agatha Christie do Brasil. Um Poirot dos trópicos”, brinca Hassum, citando o detetive mais famoso da escritora britânica. “Apesar de que as histórias da Agatha Christie são mais sérias. [E “O rei da feira”] É meio clown”, comenta.


Paranormal medroso

O alívio cômico vem do humor físico de Hassum, que interpreta o investigador Monarca. Ele é paranormal, mas morre de medo de espíritos. Para piorar, Bode, o feirante morto (papel de Pedro Wagner), fica em sua cola para descobrir o assassino.


Bode é um malandro tapado que vive em encrencas. Como se não bastasse dever a Deus e ao mundo, compra fiado um carregamento inteiro de carne de boi para se antecipar aos concorrentes e vender mais no feriado. O que ele ignora é que é Sexta-feira da Paixão, dia em que a venda de carne despenca…


Tirando a asneira feita, nada de diferente acontece na rotina de Bode no dia de sua morte. Chega antes do amanhecer, cumprimenta o tio Gaguinho (Everaldo Pontes) e vai armar sua banca. Na hora do almoço, segue para o bar da ex-amante Amoroso (Dani Fontan), que todos os feirantes frequentam. Come buchada com pimenta servido pelo provável filho dele com Amoroso e faz sua “fezinha” no bicho, apostando o único dinheiro que tem. Volta para a feira, passa pelo rival Hiroshi (Yuri Yamamoto) – que já foi chifrado por Bode – e vai trabalhar.

Porre de Rabo de Galo

É quando chega a notícia do resultado do bicho. Pra comemorar, toma um rabo de galo atrás do outro até perder a consciência. Só é encontrado já morto. Sem ter ideia de quem o atacou, seu espírito cola no detetive Monarca.


“Pedro faz o Bode de forma brilhante”, elogia Hassum. “É um ator que não tem o vício da comédia, vem de uma escola dramática de Pernambuco e que trabalha num humor totalmente diferente”, afirma.


O pernambucano ganhou projeção ao interpretar o presidiário Carniça na série “Irmandade” (2019), da Netflix. De lá pra cá, esteve em vários projetos, quase sempre interpretando personagens violentos, como o psicopata Osvaldo na série “Justiça” e o cangaceiro Pente Fino, de “Guerreiros do Sol”, ambas produções do Globoplay.


Mas é em “O rei da feira” que ele revela um lado cômico. Pedro não recorre ao humor físico, tampouco aproveita da estupidez de seu personagem para cair em estereótipos. Vai além: dá vida a um homem simples e ingênuo, que é engraçado involuntariamente e sequer sabe que tem graça.


“Esse filme é uma comédia profundamente humana. Começa com todo mundo julgando o Bode, falando que ele é um vagabundo e tal. Mas, ao longo da história, você vai vendo que ele é um brasileiro nato, uma pessoa que dá conta das dificuldades que a vida impõe (nem Hércules conseguiria dar conta de ser brasileiro!). E isso eu acho bonito”, diz o ator pernambucano.

Filmagens no necrotério


Quem também ajuda no alívio cômico é a legista Angelita (Talita Younan). Pseudo-influencer, ela transmite, ao vivo, pelas redes sociais, as autópsias. Manda beijinhos com a luva encharcada de sangue e se anima com a ideia de ir a campo ajudar Monarco a investigar o crime. Angelita, no entanto, não é má profissional. É por causa de suas informações preciosas que a investigação caminha.


“As cenas mais desafiadoras e as mais divertidas foram as do necrotério. Porque é um lugar muito escroto. Os equipamentos eram os mesmos que são usados para fazer perícia”, conta Hassum.


Era divertido, ele acrescenta, “porque a Talita fazia de forma muito divertida essa menina meio louquinha, que fazia quase que um vlog dela ali como legista. Mas, ao mesmo tempo, era desafiador porque, pensando bem, a gente estava dentro de um ‘açougue’. Depois da gravação, as pessoas voltariam a trabalhar ali normalmente, separando por pedaços os corpos que estivessem ali”.


Transitando bem entre a comédia, o suspense e a emoção – há toda uma contextualização de quem é o Bode que faz emocionar –, “O rei da feira” procura ser um filme que provoque identificação com os brasileiros.


“Sabíamos que estávamos fazendo uma comédia falando de feira, com o Hassum no elenco, etc. Mas não podíamos perder a vocação essencial que era fazer um filme sobre as relações humanas”, diz o diretor Felipe Joffily.


“Então tivemos um cuidado muito grande para dar toda a liberdade que o Leandro precisava para fazer o humor e também para o Pedro colocar as experiências humanas e pessoais do personagem”, conclui.


“O REI DA FEIRA”
(Brasil, 2025, 87 min.) Direção: Felipe Joffily. Com Leandro Hassum e Pedro Wagner. Em cartaz nos shoppings BH, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Itaú, Minas, MonteCarmo, Partage, Pátio, Ponteio e Via

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