Denise Stoklos manda ‘Um fax para Colombo’ a partir de BH
Artista apresenta na capital mineira, nesta quinta (2/10) e sexta-feiras, leitura dramática de texto sobre colonização escrito e montado por ela em 1992
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Siga noDenise Stoklos resolveu reativar alguns espetáculos de sua autoria que estavam há mais de 30 anos longe dos palcos. Esteve no Rio de Janeiro, em junho, com “Elis Regina”, que escreveu em 1983; se apresentou em São Paulo, no mês passado, com “Mary Stuart”, que data de 1987; e chega a Belo Horizonte para fazer, nesta quinta (2/10) e sexta, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil, a leitura dramática de “Um fax para Colombo”, que estreou em 1992.
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Ela diz que estar novamente em circulação com essas obras atende ao desejo de se comunicar com o público de sua geração, que assistiu às montagens originais, e também com novas plateias, que não tiveram contato com esses trabalhos mas, ao ouvir falar a respeito, podem se interessar em conhecer.
No caso de “Um fax para Colombo”, a opção pela leitura dramática do texto em vez da encenação se deveu a questões técnicas, segundo ela. “Na montagem, como foi apresentada há 30 anos, eu derramo líquido e farinha; dá um trabalho de produção que nem todos os teatros disponibilizam, principalmente hoje em dia”, diz.
Ela defende o formato. “Gostei dessa coisa pura. É uma performance também, uma forma de teatro interessante. Por mais que eu esteja sentada em uma cadeira, com o texto na frente, tem a interpretação, tem o mesmo tipo de ligação dramatúrgica e a mesma carga teatral da peça encenada”, afirma.
Convite argentino
“Um fax para Colombo” voltou à baila em razão de um convite que a artista recebeu, em 2023, de um festival de teatro na Argentina. “Fiz a leitura dramática para um público de 2 mil pessoas e teve uma repercussão muito grande. Ali senti que estava muito forte, a comunicação foi perfeita e me senti segura”, diz. O texto é, na definição da artista, “um manifesto contra a colonização, suas consequências e feridas ainda abertas”.
Apesar de ter sido escrito em 1992, o texto trata de questões ainda muito presentes em toda a América Latina, como a opressão, as oligarquias, as diferenças de classe e a presença impositiva da cultura estrangeira, conforme aponta a autora.
Ela diz que, por essa razão, optou por não fazer nenhum tipo de atualização. “Não foi preciso mexer em nada. Queria que ficasse como uma obra marcante daquele tempo e que pudesse repercutir hoje, já que estamos lidando com as mesmas questões.”
Em sua opinião, a permanência de um molde de padrões europeus é a pior e mais enraizada consequência da colonização. “Ainda temos receio de assumir o que seja pessoal nosso, original nosso, nossa cultura, nossos usos e costumes, nossa orientação para a vida. A gente vê isso na indústria da música, por exemplo, e da arte, de um modo geral, que segue impregnada pelo que vem de fora”, diz. Segundo ela, o modelo instaurado pelos colonizadores é uma “lei de vigarice”.
Diferentes camadas
“Colombo chegou trocando espelhinho por ouro. Isso ficou dentro do nosso espírito de concepção do que é certo e do que é lei. Trata-se de algo que se instalou em todas as esferas, inclusive em termos de trocas pessoais ou da nossa relação conosco, porque não aceitamos nossas peculiaridades, nossas idiossincrasias”, observa. Ela afirma que o discurso de “Um fax para Colombo” se dá em diferentes camadas, do político para o íntimo e pessoal.
Denise destaca que o texto pode ser lido e entendido como um libelo político e também como um libelo existencial, na instância pessoal e na coletiva. A leitura dramatizada da obra, avalia, atualiza sua potência poética e política, reafirmando o lugar da arte como ferramenta de emancipação e pensamento. A atriz salienta que as questões relativas aos efeitos da colonização não mudaram ao longo dos últimos 30 anos, mas entende que a percepção que as pessoas têm a respeito, sim, avançou.
“Estamos sempre buscando maior consciência, maior lucidez e maior campo de ação. Muita coisa foi conquistada, o reconhecimento dos direitos, as pautas das mulheres, dos negros, da comunidade LGBTQIA+”, cita.
“Éramos uma terra com milhares de anos de civilização que foi negada e combatida, inclusive, mas todas as conquistas de hoje só nos levam a querer mostrar que é possível ainda mais, com tantos movimentos que estão sendo bem-sucedidos, ganhando espaço.”
Novos projetos
Denise Stoklos diz que a experiência com “Um fax para Colombo” e também com “Elis Regina” e “Mary Stuart” tem servido de estímulo para que volte a circular com outros textos há muito guardados. Ela cita “Calendário de pedra”, “Vozes dissonantes” e “Desobediência civil”.
“Tenho o projeto de remontar meus outros solos, criações de 30 ou 40 anos passados”, conta. Novos trabalhos também estão orbitando seu presente e seu futuro.
“Sempre fiz tudo muito sozinha, mas estou entrando mais num processo de trabalhar com outros atores. Estou com o projeto de fazer com Alessandra Maestrini a peça 'Amanhã', escrita por Miguel Falabella. Nós duas também estamos trabalhando com João Paulo Lorenzon em 'Do cavalo nada se sabe', baseado em Nietzsche.”
“UM FAX PARA COLOMBO”
Leitura dramática com Denise Stoklos, nesta quinta (2/10) e sexta-feira (3/10), às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil (Av. Amazonas, 315, Centro). Ingressos a R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), à venda na bilheteria do teatro e no Eventim.