LITERATURA

‘Ler só o que aparece no Instagram pode empobrecer’, diz escritor da AML

Ocupante da cadeira número 8 da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares diz que a leitura ‘amplia horizontes’ e que ‘o Brasil é um país que lê pouco’

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Duas vezes por mês, os integrantes da Academia Mineira de Letras (AML) se reúnem para tomar o tradicional chazinho. Quem conta é Rogério Faria Tavares, presidente emérito da instituição, que atualmente ocupa a cadeira 8. Ele foi o convidado deste sábado (11/10) do “EM Minas”, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai.


Durante a conversa com o jornalista Ricardo Carlini, Tavares falou sobre o baixo índice de leitura entre os jovens brasileiros, a vocação literária de Belo Horizonte e as ações que têm feito a AML se abrir para a sociedade – como as visitas guiadas à sua sede e a possibilidade de acessar o acervo, que conta com as bibliotecas de Eduardo Frieiro, Maria José de Queiroz e Olavo Romano.


A íntegra da entrevista está disponível no canal de YouTube do Portal Uai.


Quando a gente fala “Academia Mineira de Letras", as pessoas pensam num monte de velhinhos, né? E você, um menino…


Isso me permite esclarecer um ponto fundamental. A academia foi fundada em 1909, em Juiz de Fora, por um grupo de intelectuais de todas as partes do estado. A maioria com cerca de 50 anos. Com o tempo, a academia foi ganhando um ar mais grave, mais circunspecto.

Hoje, recebe pessoas de qualquer idade, entusiasmadas pela cultura, educação e literatura. É claro que essas pessoas precisam querer trabalhar pela casa, querer contribuir. Mas, de fato, entre os 40 membros da academia, hoje eu sou o mais jovem. Tenho 54 anos. O decano é o professor Fábio Lucas, que fez agora 94 anos, sendo mais de 50 como acadêmico. Temos também a Yeda Prates Bernis, que completou 99 anos.


Posso afirmar que literatura aumenta a expectativa de vida?


Tem muita pesquisa dizendo que a leitura favorece a atividade cerebral, previne contra doenças como o mal de Alzheimer. Ela é boa em todos os sentidos, amplia horizontes.


A juventude brasileira está lendo?


Acredito que o Brasil é um país que lê pouco. As pesquisas mostram isso. Sou usuário de redes sociais, mas acho importante que a nossa vida não seja entregue para as tecnologias digitais de modo excessivo. Ler só o que aparece no Instagram, no Facebook ou no WhatsApp pode empobrecer um pouquinho.

Você está lançando um livro novo…


O mais recente é esse aqui: “Os elefantes viriam pela manhã”, lançado pela Autêntica. Chamei 13 contistas do Brasil para inventarem histórias que dialogam com a obra do Dalton Trevisan, que morreu ano passado, aos 99 anos.


Estou vendo Portugal aqui neste outro livro. O que que tem aqui de Portugal?


Esse é da comunidade da língua portuguesa. É um livro (“Nos vinte e cinco anos da CPLP – Estudos em homenagem a José Aparecido de Oliveira e Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza”) que organizei pela editora Del Rey num projeto da Academia Mineira de Letras junto com o embaixador Lauro Moreira.

Essa organização reúne nove países que têm o português como língua oficial. Então, quando a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que tem sede em Lisboa, completou 25 anos, resolvemos fazer um livro e chamar autores dos nove países.


E, aqui, temos a revista da Academia Mineira de Letras…


Essa revista é uma joia valiosa. Foi fundada em 1922 e até hoje é editada. É uma edição anual, com ensaios qualificados e dossiês temáticos. Um deles é a literatura e a cidade natal. A gente explora a relação dos escritores com as cidades em que nasceram.

Tem ensaios sobre Pedro Nava e Juiz de Fora, Lúcio Cardoso e Curvelo, Conceição Evaristo e Belo Horizonte, e assim por diante.


Os imortais ainda tomam chá?


Sim, duas vezes por mês.


A sede da academia é aquele palacete na Rua da Bahia. Pode visitar?


Pode. É só entrar no nosso site e buscar pelo programa de visitas guiadas.


É próxima ao Edifício Maletta, um caldeirão pulsante de novos autores, que passam vendendo seus livros…

Acho Belo Horizonte impressionante. Carlos Marcelo (diretor de Redação do Estado de Minas), num romance recente, fez referência a Belo Horizonte como a cidade dos escritores. E, olha, foi assim desde a fundação da capital, em 1897.

Nós tivemos aqui o nosso primeiro cronista, Alfredo Camarate, depois o primeiro romancista, Avelino Fóscolo, e não paramos mais. No modernismo, demos ao Brasil nomes estelares. E, em toda geração literária do Brasil, Minas Gerais e Belo Horizonte entraram no primeiro time.


Talvez por que as montanhas levam à introspecção e à escrita?


Pode ser. Quem não tem praia caça com livro, não é? Quem não tem praia caça com boteco, com mesa de bar, com conversa, com diálogo e com o culto da palavra.

Daí pra pegar uma folha de papel e rabiscar alguns poemas é um passo. Você vê no panorama da literatura brasileira atual, grandes nomes mineiros: Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo, Ana Martins Marques, Paula Pimenta, Carla Madeira… É uma lista que não para de crescer em todos os estilos.

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  • O acervo da academia é acessível? A gente pode ler?


Totalmente. Nós temos ali mais de 40 mil itens, entre livros raros, cartas, manuscritos com decorações. Temos documentos, coleções de escritores importantes de Minas que faleceram e doaram as suas bibliotecas para a academia. É claro que nós não fazemos empréstimo, mas é possível ler e consultar lá. 

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