A 6ª edição do Festival de Cinema de Quilombo terá uma atmosfera especial: será o primeiro do Brasil a ser realizado em um território quilombola. Nos dias 11 e 12 de outubro, o Quilombo do Açude, na Serra do Cipó, na Região Central de Minas, se transformará no palco de um evento que vai unir cinema, música, oficinas, gastronomia, artesanato e moda africana.
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O evento, idealizado pelo cineasta e produtor cultural quilombola Danilo Candombe, contará com sessões de documentários e filmes de realizadores quilombolas de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro.
O idealizador conta que a ideia do festival surgiu da vontade de aproximar sua comunidade ao universo cinematográfico, assim como proporcionar para os visitantes a experiência de ver de perto a realidade retratada nas obras.
“Um dia eu pensei: ‘O povo lá em casa precisa de vivenciar isso’. Esse projeto surgiu para trazer essa experiência de um festival de cinema para dentro do quilombo. A ideia é trazer o luxo, a diferença é que nosso tapete vermelho vai continuar sendo o chão de terra”, diz Candombe.
No dia 11, a abertura solene do evento estará nas mãos do artista mineiro Sérgio Pererê. A programação contará com sessões de documentários e filmes de cineastas quilombolas de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro. Entre as atrações musicais estão o grupo cultural Ponto BR e a sambista mineira Adriana Araújo.
O festival é realizado pelo Cinema dos Quilombos, com apoio da Prefeitura Municipal de Jaboticatubas e parceria do Circuito Serra do Cipó, além de integrar as ações da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), com apoio do Ministério da Cultura e do Governo Federal.
Programação
O produtor revela que as obras exibidas do Festival vão retratar desde as brincadeiras das crianças, com "Disque Quilombola", de David Reeks, até a tradicional forma de fabricar adobe, tijolo feito de barro e fibras naturais, em "Adobe: habilidades tradicionais da construção Kalunga", do diretor Carlos Pereira, um tributo à resiliência e criatividade de transformar um saber ancestral em um futuro sustentável.
O primeiro dia será marcado por homenagens a nomes importantes para a arte negra: o ator e escritor Lázaro Ramos, o cineasta mineiro Gabriel Martins ("Marte um") e o multiartista Mauricio Tizumba.
“Me sinto completamente orgulhoso e honrado de ser visto por esse grupo como uma referência. Receber essa homenagem principalmente ao lado de outros artistas maravilhosos, para mim, é grande honra. Vejo também como um chamado para cada vez mais trabalhar em prol do cinema quilombola e do cinema negro”, declara Martins sobre a homenagem.
Já no dia 12, Dia das Crianças, a programação será dedicada aos pequenos com brinquedos, pula pula, pipoca e exibição de filmes infantis.
Além disso, nos dois dias estão previstos uma roda de conversa sobre a mulher no cinema mediada por Benilda Brito e a participação de Marta Kalunga, assim como uma oficina de audiovisual com Fábio Martins.
“Quando pessoas de fora fazem filmes sobre nós, quase sempre colocam a gente dentro de uma caixinha, ou da religião, ou do tambor, ou da capoeira. Isso também é nossa riqueza, mas a gente não é só isso. É legal quando os nossos começam a ter acesso a essa ferramenta, a entender esse universo do registro, e começam a produzir filmes de dentro do quilombo”, reflete Candombe.
Importância da representatividade
Gabriel Martins, que exerce a profissão de cineasta há 20 anos, afirma que o cinema brasileiro está cada vez mais diverso, em especial depois da criação das leis Paulo Gustavo e Audir Blanc. Entretanto, ainda traz desafios para aqueles que querem seguir carreira na área, em especial em Minas Gerais.
“Acho que existe muita vontade, temos a oportunidade de ver o cinema que a gente nunca viu em tal volume. É um momento histórico mesmo muito importante, que acho que o poder público, em todas as instâncias precisa abraçar mais frontalmente e ajudar a construir essas histórias junto com os artistas”, diz Martins.
O cineasta, que já frequenta o Quilombo do Açude há alguns anos, ressalta que o festival é uma grande oportunidade de dar visibilidade ao cinema quilombola e aproximar o público de novas produções. “Quero reforçar para os leitores a importância de, para além esses eventos localizados, seguir pesquisando a produção negra e indígena brasileira, ficar bem atento assim aos eventos, porque são produções maravilhosas”, afirma.
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SERVIÇO
Festival Cinema dos Quilombos
Data: 11 e 12 de outubro de 2025
Horário: das 12h às 00h
Local: Quilombo do Açude – Serra do Cipó, Minas Gerais
Entrada gratuita para a programação de cinema e atividades culturais
Ingressos para os shows disponíveis no Sympla
Mais informações: @cinemadosquilombos | @quilombodoacude