Entre as 15 obras da mostra, a "Aqu'omanik paruwi juyu' (Cura sobre as montanhas)" aproxima as paisagens de Comalapa e Brumadinho - (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)
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A distância de aproximadamente 4.100 quilômetros entre San Juan Comalapa, na Guatemala, e Brumadinho, na Grande BH, foi suprimida com a inauguração da mostra “Ru jub'ulik achik' – Aromas de um sonho”, de Edgar Calel, no Instituto Inhotim. A mostra, a maior do artista guatemalteco já realizada no Brasil, reúne 15 obras, sendo 12 delas comissionadas. O conjunto, aberto ao público na Galeria Lago, ontem (18/10), transporta o visitante para o ateliê familiar de Calel em sua cidade natal.
O artista de origem kaqchikel-maia desenvolve uma prática que transita entre desenho, pintura, escultura, fotografia, bordado, instalação, performance, vídeo e poesia, em profunda conexão com a ancestralidade e a espiritualidade de seu povo. “Ru jub'ulik achik' – Aromas de um sonho” é a exata expressão do fazer de Calel, com obras criadas em diversas formas e suportes que, no todo, reproduzem o ambiente em que ele vive e trabalha, em Comalapa.
Em frente à entrada da Galeria Lago, o visitante se depara com a primeira obra, “Rajawal Rama (Dono do tempo)”, uma pedra de quatro toneladas, cuja forma lembra uma tartaruga, com um olho desenhado na parte que corresponde à cabeça do animal. No interior do prédio, o público é convidado a atravessar uma paisagem com obras feitas de folhas, pedras, madeira e terra, elementos naturais que narram histórias e testemunham cosmologias dos povos originários.
Edgar Calel passou 40 dias em Brumadinho criando e montando a exposição
Leandro Couri/EM/D.A Press
Paisagens similares
Logo na entrada, três grandes amontoados de terra, com jarros que contêm pétalas de flores, compõem a obra “Aqu'omanik paruwi juyu' (Cura sobre as montanhas)”, que aproxima as paisagens de Comalapa e Brumadinho. Mais adiante, o visitante se depara com “Kej chi’ch’ (Veado de metal)”, uma escultura que reproduz, em tamanho real, a caminhonete da família, com 18 esculturas de pessoas, também em tamanho real – trabalho produzido pelo Ateliê do Inhotim, em colaboração com o artista.
O percurso culmina em um ambiente doméstico imersivo, evocando o espaço de convívio, devoção e criação de Calel e sua família. Da janela desse cenário íntimo, avista-se outro trabalho situado na área externa da Galeria – “Tab'el (Lugar sagrado para não esquecer)”, obra que complementa a atmosfera de religiosidade e memória kaqchikel-maia que atravessa toda a exposição: um altar de pedra com velas e outros objetos religiosos.
A concepção curatorial, assinada por Beatriz Lemos e Lucas Menezes, é fruto de muitas trocas e de uma pesquisa extensa que se intensificou com a primeira visita do artista a Brumadinho, em julho do ano passado. “Essa é nossa vocação, receber os artistas e planejar juntos a melhor maneira de exibirmos seu trabalho”, diz a diretora artística do Inhotim, Júlia Rebouças.
Visita a Comalapa
Como parte do processo de desenvolvimento da mostra, as equipes de curadoria, ateliê e educação do centro de arte contemporânea visitaram a Guatemala para compartilhar o cotidiano de Calel e de sua família. Beatriz Lemos destaca que essa experiência foi determinante para moldar a exposição, na medida em que assegurou uma apresentação conectada às práticas do artista.
A temporada em Comalapa proporcionou uma atuação antecipada do Ateliê Inhotim, no sentido de iniciar a produção das obras, prescindindo da presença do artista, que passou apenas os últimos 40 dias em Brumadinho, criando e trabalhando na montagem da exposição.
Essa foi a primeira vez que Calel autorizou que parte de sua obra fosse produzida fora de seu ateliê. “Ao falar da minha família, reconheço também a importância da conexão entre ela e toda a equipe que se dedicou a produzir as ideias nos ateliês do Inhotim. Há uma conexão profunda entre um ponto e outro, entre um povo e outro”, diz o artista.
Prestígio internacional
Produzindo sempre a partir de sua cidade natal, Edgar Calel circula em diferentes contextos internacionais. Em 2023, ele participou da 35ª Bienal de São Paulo (“Coreografias do impossível”). No mesmo ano, apresentou as individuais “B'alab'aj (Jaguar stone)”, no Sculpture Center, em Nova York, e “Ni Musmut (It's breezing)”, no Bergen Kunsthall, em Oslo, na Noruega.
Em 2020, o artista marcou presença na 11ª Bienal de Berlim. No ano seguinte, participou da 58º Carnegie International, do Museu de Arte de Pittsburgh (EUA), a mais antiga exposição de arte internacional da América do Norte. Suas obras integram coleções como Tate Modern (Londres), Museu Reina Sofía (Madri) e Hammer Museum (Los Angeles).
EXPOSIÇÃO “RU JUB'ULIK ACHIK' – AROMAS DE UM SONHO”
De Edgar Calel. Em cartaz na Galeria Lago, do Instituto Inhotim (Rua B, 20 – Brumadinho), até 2027, com horários de visitação de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30 (em janeiro e julho, o museu funciona também às terças-feiras): Entrada: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Nas quartas-feiras, a entrada é gratuita, assim como no último domingo de cada mês.