Restaurantes de BH provam que são lugar de criança, sim
Casas belo-horizontinas preparam menus especiais para que os pequenos se sintam tão bem-recebidos quanto os adultos
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As saídas com as crianças, seja em almoços ou jantares, ainda são um dilema para muitas famílias. Os adultos buscam restaurantes que possam, não apenas receber, mas acolher meninos e meninas. Na edição que antecede o Dia das Crianças, celebrado no próximo domingo (12 de outubro), os pequenos são os grandes protagonistas. Destacamos casas belo-horizontinas que servem pratos ou menu infantis perfeitos para agradar qualquer paladar.
O menu infantil do Xapuri, restaurante na Região da Pampulha, busca mostrar para as crianças a comida tradicional de Minas. “Hoje em dia, a concorrência cultural é muito desleal. Concorremos com um bombardeio de culturas externas. As crianças querem pizza, hambúrguer… Muitas vezes acabamos perdendo nossas próprias referências”, destaca o chef Flávio Trombino, proprietário da casa e filho de Nelsa Trombino, figura histórica para a cultura alimentar mineira.
O restaurante oferece três opções de pratos infantis. São eles filé-mignon, arroz, batata frita, feijão, alface e tomate (R$ 39); coxinha de frango cozida, arroz, angu e feijão (R$ 29); e ovo frito, arroz, feijão e legumes cozidos (R$ 27).
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Flávio faz questão de ressaltar que o que serve para as crianças segue a mesma linha do que oferece ao público adulto: pratos e alimentos tradicionalmente brasileiros. “Trabalhar com esses pratos é uma forma de preservar nossa cultura. A base da alimentação brasileira é nutricionalmente muito equilibrada.”
Valor histórico
Na visão do chef, a preservação do passado é essencial para o futuro. “A gente precisa sempre pensar em renovar a casa também. Nossos clientes estão ficando velhos, precisamos cultivar a nova geração.”
Além de servir uma comida simples e de alto valor histórico e nutricional, ele se preocupa em tratar muito bem as crianças, que costumam chegar ao restaurante com mais fome do que os adultos.
“Na nossa área de espera, só servimos alguns petiscos e os pratos infantis. Priorizamos as crianças para que os pais curtam mais também”, destaca Flávio. Segundo ele, a escolha dos componentes leva em consideração a logística, com isso entram alimentos de pratos tradicionais da casa.
Pratos adaptados
No D’Artagnan, bistrô no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul, os clientes mirins podem degustar dois pratos infantis. Arroz branco, filé-mignon e batata chips caseira (R$ 96) e filé com tagliatelle ao molho pomodoro ou creme (R$ 96) são as opções criadas por Marise Rache especialmente para as crianças.
A chef, que comanda a casa ao lado de sua irmã, Denise Rache, destaca, no entanto, que um dos “pilares” é a adaptação. Por isso, os pequenos podem optar, por exemplo, pelo clássico estrogonofe (R$ 98) sem champignon (os netos de Marise comem assim). “Tentamos atender todos os pedidos dos clientes, especialmente do público infantil”, conta.
Duas entradas têm lugar especial no coração das crianças: o bolinho de arroz com queijo meia cura (R$ 45) e os pastéis de queijo meia cura ou linguiça artesanal (R$ 48). “Uma menina chega aqui e pede para reservarmos três porções de bolinho de arroz e esse é o almoço dela”, lembra.
Memórias de infância
Marise e Denise cresceram frequentando restaurantes com os pais. “Nossos pais eram muito ligados no comer e beber, então desde pequenas íamos em restaurantes com eles”. As irmãs enxergam uma tendência cada vez maior de os pais levarem os filhos para jantares em família, afinal, muitas vezes não têm uma rede de apoio para cuidar deles.
Não é só a vivência em restaurantes que as proprietárias da casa prezam e tentam passar para as crianças. Há também muita memória nos pratos servidos. “Os pratos infantis, a massa e o arroz com batata chips servidos com o filé, são coisas que comíamos muito em casa, na nossa infância.”
Uma sobremesa em especial foi destacada por elas, já que era muito comum quando eram crianças mas, por algum motivo, deixou de ser um sucesso há um tempo.
“A nossa banana split (R$ 48), com bananas maçaricadas, sorvete de pistache, chocolate e doce de leite, marshmallow e calda de chocolate, é um prato em que os pais mostram a sua infância para os filhos. Sem falar que é perfeito para a mesa compartilhar”, contam Denise e Marise.
Data centenária
A origem do Dia das Crianças se dá no Congresso Sul-Americano da Criança, realizado no Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1923. O decreto foi assinado pelo presidente Arthur Bernardes em novembro de 2024. Naquele período, o dia era destinado a pensar na saúde, bem-estar, segurança e nos direitos infantis, já que crianças podiam ser presas e as que estavam em situação de vulnerabilidade tinham pouco acesso ao ensino. Em 1955, com a propaganda da marca de brinquedos Estrela, a data ganhou um caráter comercial.
Experiência completa
As crianças que visitam o restaurante O Italiano, no Bairro Olhos D’Água, Região Oeste, contam com um menu de três pratos infantis. É possível escolher entre penne à bolonhesa (R$ 49), escalopinho de filé com arroz e batata sorriso (R$ 49) e parmegiana de frango com espaguete na manteiga (R$ 49). “Resolvemos adaptar o nosso parmegiana de carne para os adultos e o transformamos nesse prato infantil”, explica o gestor da casa, Rafael Simões.
O restaurante aposta em atividades especiais para entreter os pequenos. Enquanto comem, eles podem se divertir com o jogo americano para colorir e gizes para levar para a casa.
Aos fins de semana, a casa recebe, em seu jardim, um carrinho de gelatos (sorvetes italianos), que se torna um atrativo a mais para a criançada. “A gente quer proporcionar uma experiência para toda a família”, diz.
Rafael ressalta a curiosidade e a interação das crianças. “No balcão em frente à nossa cozinha, que é aberta, sempre tem crianças querendo espiar um pouco do que acontece lá dentro. Elas conversam com o chef, agradecem pelo prato…”, completa o gestor.
Batata sorriso
Se tem um lugar em BH que certamente é amado por todas as crianças, é o Eddie Fine Burgers, com cinco unidades espalhadas pela Região Centro-Sul da capital mineira. Com 23 anos de história, a hamburgueria no estilo retrô diner americano, com sofás vermelhos, chão quadriculado e garçons com aventais e chapéus, transporta os clientes para outra realidade.
O tempo passou, a estética da casa mudou, mas os sanduíches permaneceram na boca – literalmente – dos belo-horizontinos. Um dos hambúrgueres que nunca esteve fora do cardápio é o Kid 's Cheeseburger (R$ 42), versão menor do clássico pão, carne e queijo, acompanhada de batata sorriso (que pode ser trocada pela palito).
“Acho que essa batata foi um grande diferencial para o sucesso deste sanduíche. Não me lembro de outros lugares que trabalhavam com ela nessa época [início da casa, há mais de 20 anos]”, conta a sócia Renata Rossi.
Outro item de sucesso inegável é o milkshake, disponível em sete sabores. “Acredito que o que o tornou tão reconhecido foi o modo como é servido, direto do recipiente que vai na máquina para a taça do cliente, e por conta da qualidade dos ingredientes. O nosso sorvete, por exemplo, é feito na casa, sem gordura hidrogenada adicionada e sem conservantes”, informa.
Para a família toda
Como explica Renata, o Eddie sempre foi um lugar para a família toda. “É muito bacana vermos hoje avós trazendo seus netos. Aqui não é um restaurante em que os pais vêm sem os filhos normalmente”. Isso, aliado ao fato de ser – quase – impossível conhecer uma criança que não goste de hambúrguer, tornou o espaço um sucesso entre gerações de crianças e adolescentes que não abrem mão desse produto clássico de BH.
No mês de crianças, a Casa Amarela, sede da hamburgueria no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul, recebe uma exposição da Raquel Bolinho, conhecida pelas pinturas de bolinho espalhadas pela cidade. Nesse mesmo período, as crianças vão poder levar para casa um livro de colorir com ilustrações da artista na compra de um Kid’s Cheeseburger.
Como se não bastasse, o Eddie ainda lançou uma bebida especial para o mês que celebra o público infantil: uma soda italiana com sabor tutti-frutti e framboesa (R$ 15).
Aprendizado na mesa
Ir ao restaurante com uma criança pode parecer uma tarefa desafiadora para muitos pais. A psicóloga com mestrado em neurociência, Nathália Dornelas, explica, no entanto, que esse ambiente pode ser extremamente importante na formação dos pequenos.
“Vejo que, às vezes, as pessoas acabam negligenciando essa convivência simples, uma habilidade que é, por exemplo, saber a esperar a comida chegar ou o adulto falar. Quando a criança tem que ficar na mesa, ela vai ter uma possibilidade de modular seu comportamento, ver como os pais conversam com os garçons, o que os adultos comem, como comem etc.”
O celular ou o tablet, que são aliados para muita gente na hora de ir para o restaurante com crianças, pode prejudicar o desenvolvimento delas. “Você não responde a uma tela. É muito importante que a criança converse com o garçom, lide com essa outra pessoa, com a vergonha, se comunique com alguém de fora”, explica a psicóloga.
Nathália diz, ainda, que o momento de tédio em uma mesa pode ser valioso. “O tédio é uma etapa necessária. Sem ele não desenvolvemos esse repertório de observar o ambiente, de esperar. Com ele, a criança aprende a brincar sozinha, a protestar, a usar recursos para, justamente, acabar com o tédio”, completa a especialista.
Paladar infantil?
Muito além da batata frita, do nuggets e de alimentos pobres nutricionalmente, o público infantil vêm mostrando que têm paladar para acompanhar os adultos nos restaurantes. No Kei, restaurante com unidades no Bairro Lourdes, na Região Centro-Sul de BH, e no Vila da Serra, em Nova Lima, os pequenos comem o mesmo que os adultos, apenas em tamanho reduzido.
A casa trabalha com o combinado infantil (R$ 55), que vem com 12 mini peças: dois sushis de salmão; dois sushis de atum; dois sushis de skin de salmão (pele frita); dois sushis de kani (carne de peixe processada); e quatro makis philadelphia (peça com arroz, cream cheese e salmão enrolados em alga nori).
“Esse combinado existe há cerca de três anos, pois temos muitos clientes que são crianças”, conta Luiza Lamounier, filha de Érica Lamounier, proprietária e fundadora do Kei.
Ela conta que a escolha pelo kani para compor o prato se dá principalmente pela textura e o mesmo ocorre com o skin. “Acho que, para crianças que estão começando na culinária japonesa, é interessante provar essas peças, têm texturas mais parecidas com o que estamos acostumados”. As outras peças do combinado são clássicos da casa e da cozinha japonesa.
Combo especial
Na próxima semana (entre os dias 12 e 18), o Kei vai servir um combo especial para a criançada. A novidade inclui mini harumaki (rolinho primavera) de frango, mini porção de frango empanado e um combinado com 14 peças: dois sushis de salmão; dois sushis de atum; cinco hot philadelphia (empanados); e cinco makis de salmão, arroz e cream cheese. O menu completo será vendido a R$ 90.
Só muda o tamanho
“Acho que é muito importante levar as crianças para conhecer essa culinária diferente. Queremos que seja prazeroso para eles e para os pais”, conta Luiza, que diz acreditar que os pequenos aproveitam o tempo lá por a cozinha japonesa ser mais “descontraída”, sem pratos individuais.
Por isso mesmo, a proposta da casa é apresentar os mesmos pratos que os adultos comem (apostando nos clássicos) em versão reduzida para as crianças.
Nova geração
Hoje, Luiza leva seus dois filhos, João, de três anos, e Rafael Lamounier, de um ano e meio, para visitar o restaurante. Antes, era ela quem circulava entre as mesas e hashis dos restaurantes japoneses de sua mãe (que já teve outras duas casas).
“Agora que tenho filhos, fico observando os pratos infantis. Penso que eles deveriam ser, justamente, saudáveis, mas em todos os lugares o que vejo é fritura, batata frita, macarrão puro… Itens sem graça e sem valor nutricional nenhum”, desabafa.
Por ter sido apresentado à culinária japonesa antes mesmo de fazer dois anos, João, filho mais velho de Luiza, já se mostra um apaixonado pela gastronomia. “Meu favorito é o sushi de atum”, conta o pequeno, que degusta as peças com apenas uma gota de shoyu, assim como se faz no Japão.
A paixão de João são os crus, aqueles que são mais “difíceis de agradar”, segundo muita gente. Além do sabor, qualquer peça feita pelo sushiman do restaurante, Jucimar Santana, conhecido como Gringo , tende a agradar mais o filho de Luiza, que diz ter aprendido a montar sushis com o profissional, seu “xodó” na casa.
Alimentos diferentes
A psicóloga e mestre em neurociência Nathália Dornelas destaca a importância de os pais apresentarem e oferecerem diferentes alimentos para a criança. “Muitas vezes a criança nem experimenta uma comida nova. O ‘paladar infantil’, expressão que usamos de forma pejorativa, tem que avançar. A infância tem que sair do paladar infantil”.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
Anote a receita: molho pomodoro do D’Artagnan
Ingredientes
- 6kg de tomate bem maduro, sem olho, pele e sementes;
- 1 lata de tomate pelado;
- 1 xícara de azeite extravirgem;
- ¼ xícara de alho processado;
- 4 cebolas médias raladas;
- 1 xícara de cenoura ralada;
- 4 talos de aipo com as folhas e amarrados;
- 4 molhos de manjericão;
- Pimenta-do-reino branca (quanto baste;
- Sal (quanto baste);
- 2 molhos de orégano fresco (amarrados junto com o manjericão).
Modo de fazer
- Refogue a cebola em um pouco de azeite até ficar transparente e sem ardor.
- Coloque o alho e também deixe dourar para ficar suave
- Acrescente o aipo e a cenoura, refogando até ficarem macios.
- Junte o tomate fresco e deixe até ferver, por cerca de 30 minutos.
- Depois, adicione o tomate pelado, os molhos de orégano e manjericão amarrados e um pouco de sal (quanto baste).
- Deixe ferver e reduzir, mexendo de vez em quando, por cerca de três horas em fogo médio.
- Prove o tempero, adicione duas colheres de sopa de manteiga e pimenta-do-reino branca moída na hora.
- Depois de pronto, retire os galhos amarrados e guarde ainda quente em vasilhas bem lavadas e limpas com álcool.
- Deixe esfriar e guarde na geladeira.
- O molho pomodoro do D’Artagnan é servido com o tagliatelle em um dos pratos infantis.
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