Por que o Café Bahia e outros bares de BH tem 'café' no nome
Trabalhadores da construção de BH ajudaram a modelar o cardápio do Café Bahia, pedindo comida para completar a marmita
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A segunda edição da série especial “Um Século de Sabores” conta a história de estabelecimentos com mais de 70 anos em Belo Horizonte. Seja servindo salgados, sanduíches, porções variadas, limonada ou doces, essas casas estão na memória coletiva dos belo-horizontinos e servem como álbum vivo de recordações.
Um dos “cafés” mais antigos da cidade, fundado em 1937 por José Inácio dos Santos, é o Café Bahia. A casa, que antes ficava na rua de mesmo nome, no Centro da cidade, está localizada, desde 1970, na Rua dos Tupis, no mesmo bairro.
O legado do fundador foi perpetuado por gerações. O filho, Ronaldo Lúcio dos Santos, praticamente cresceu no bar e, ainda adolescente, se viu no comando da casa. Por lá, aliás, ficou cerca de 50 anos, até que seu filho, Phillip Santos, passou a chefiar a operação, em 2018.
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Do café da manhã ao happy hour
Desde a fundação até o momento atual, muita coisa mudou. O cardápio, por exemplo, foi completamente remodelado. Hoje, a casa serve refeições do dia (R$ 22,90) – na quarta, por exemplo, tem sobrecoxa com quiabo, arroz, feijão e angu –, o “Mexidinho do Bahia”, com ovo frito, couve e bolinho de carne (R$ 25,90), e alguns salgados. O grande sucesso é o bolinho de carne que acompanha o mexido, mas também pode ser comprado avulso (R$ 12,90).
“Hoje, a gente basicamente tem o movimento do café da manhã, do almoço e do happy hour. O bolinho é o item que sai a qualquer hora do dia”, conta Phillip.
Ronaldo lembra que trabalhadores da construção de BH ajudaram a modelar a casa. “Chegavam para o meu pai e falavam ‘ô seu João, minha mulher deixou minha marmita vazia, você tem um arroz?’”.
Por causa dessa demanda, ele passou a fazer arroz, molho com tomates já muito maduros que ganhava no Mercado Central e linguiça. Essa combinação, que ficou muito famosa no Café Palhares, abriu as portas para os outros pratos e salgados da casa. Hoje não é mais servida.
Mudanças no Centro
Ao longo dos anos, a cidade sofreu muitas alterações e o Centro, sem dúvidas, foi uma das áreas que mais se transformou com o passar dos anos. A pandemia foi um momento marcante nesse sentido, já que esvaziou muitos escritórios da região e, consequentemente, diminuiu de forma significativa o fluxo de pessoas.
Phillip reforça que o Café Bahia e o Centro como um todo sempre foram lugares sobretudo de passagem. “As pessoas vinham ao Centro resolver questões e passavam aqui para almoçar ou lanchar. Hoje, a gente já vê uma mudança. É claro que muitas pessoas ainda fazem isso, mas várias burocracias já podem ser resolvidas de forma remota, e isso impacta no movimento.”
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Hora para fechar
Os hábitos dos belo-horizontinos também mudaram ao longo dos anos. Assim como o Café Bahia, diversas outras casas costumavam ficar abertas madrugada afora. “Me lembro de clientes que viraram a noite aqui dentro”, conta Ronaldo. Hoje, o café fecha todos os dias em que abre às 23h.
A Lei nº 11705, de 19 de junho de 2008, mais conhecida como Lei Seca, que proíbe a condução de veículos após a ingestão de álcool, também tem relação com uma mudança de comportamento do público, como comenta Phillip.
“As pessoas ficaram mais conscientes. Passaram a fazer um happy hour depois do trabalho em endereços perto de suas casas, para onde conseguem ir a pé.” Por isso mesmo, hoje, grande parte da clientela noturna é formada por vizinhos do bairro.
BH dos cafés
O Café Bahia faz parte do grupo dos cafés mais longevos de Belo Horizonte. Aliás, é impossível não se lembrar do Café Nice (1939) e do Café Palhares (1938), também localizados no Centro da cidade.
Apesar de levarem “café” no nome, esses estabelecimentos não são nada do que conhecemos como cafeterias. No Café Palhares, por exemplo, o carro-chefe é o KAOL (que se parece com o que era servido no Café Bahia), prato com arroz, linguiça, molho de tomate, farofa, couve e torresmo. Pode ser acompanhado de chope ou cachaça (como tradicionalmente se fazia).
“Quando a gente pensa em cafés, principalmente na primeira metade do século 20, observa que o café no Brasil ganha um sentido muito parecido com aquele que vinha se desenhando em um cenário europeu, de café-bar, café-restaurante, café-confeitaria, um lugar onde se pode comer algo rápido, beber, conversar, ler jornal. No início do século 20, essa nomenclatura ‘café’ cumpriu uma grande variedade de serviços, de refeições rápidas, bebidas, doces, salgados e, inclusive, café”, explica a historiadora da alimentação, Carolina Figueira.
Serviço
Café Bahia
- Rua dos Tupis, 369, Centro
- (31) 98302-2514
- Segunda, das 10h às 22h; de terça a sábado, das 10h às 23h
- @cafebahia1937
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino