Mesas de sinuca e sanduíche de filé marcam os 86 anos de casa em BH
O filho e os netos do fundador do Bilhares Brunswick continuam a usar a mesma chapa para preparar o carro-chefe da casa
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Com 86 anos de história, o Bilhares Brunswick, fundado por Francisco de Souza, firmou-se como um espaço de descompressão e lazer na capital mineira. O estabelecimento, que ficou no Centro de BH até 1977 – quando contava com 17 mesas de sinuca –, está, desde então, no Bairro Cruzeiro, Região Centro-Sul, agora com sete mesas.
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Depois de Francisco, seu filho José Mário Thompson Couto assumiu a casa. Desde 1991, Rafael Pazzini, neto do fundador e filho de José, está no dia a dia do estabelecimento. Ele chegou a sair de cena entre 2014 e 2022, assumindo um outro negócio, mas, desde que retornou à liderança, não largou mais.
Matheus Pazzini, seu filho mais velho, já está gerenciando a casa à noite. A filha caçula, Isabela Pazzini, apesar de estar na faculdade de direito, trabalha no administrativo durante o dia.
Assim como Phillip, do Café Bahia, Rafael destaca a Lei Seca como marco significativo no movimento da casa. “Antes, as pessoas saíam da Telemig (que funcionava no alto da Afonso Pena), faziam o happy hour para esperar o trânsito ‘desafogar’ e ficavam aqui entre 17h e 20h. Hoje, as pessoas saem do serviço e fazem o happy hour a dois quarteirões de casa.”
Impacto do digital
A era digital em que vivemos também mudou muitas coisas no Bilhares Brunswick. Antes dos smartphones, o trabalho no bar ia muito além de servir os clientes, de acordo com o atual proprietário. “Antes, a gente trabalhava como psicólogo. O cliente fica esperando sua vez de jogar conversando com a gente. A nossa relação com a clientela era mais pessoal”, aponta Rafael.
Ainda em relação ao universo digital, ele diz enxergar a influência da internet no funcionamento da casa. “Às vezes, o salão está cheio, mas vejo que as pessoas olham no Google o horário de fechamento da casa e começam a ir embora. Antes era mais flexível, a gente ia de acordo com o movimento”, diz, destacando como os celulares quase “mandam” no comportamento de muita gente.
O reinado do filé
O carro-chefe da casa sempre foi o sanduíche de filé. A versão completa vai com queijo, orégano, cebola, tomate e ovo e custa R$ 29. “Ele é feito na mesma chapa do meu avô. Meu pai sempre me falou que ela que dava um sabor especial”, conta Rafael.
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O professor de história da UFMG José Newton Meneses, à frente do grupo de pesquisa “Tutu – História da alimentação e das práticas alimentares”, reflete acerca do consumo de carne bovina em BH.
“Antes, o consumo de carnes na capital mineira era baseado em aves e porcos, animais criados nos quintais. O açougue, de modo geral, em diversas regiões do mundo, é um marco importante no abastecimento urbano. A carne bovina atinge esse status de uma carne de consumo urbano. O abate do boi e seus cortes, inclusive, vão ganhar validação social”, explica, em relação à primeira metade do século 20.
Uma espécie de negação da vida interiorana também pode aqui ser associada à popularidade das carnes bovinas. O pesquisador destaca, inclusive, a proibição, na década de 1950, da criação de animais como aves e porcos nos quintais das casas belo-horizontinas por parte da Vigilância Sanitária.
O apreço pelo filé-mignon, parte magra do boi considerada “nobre” até os dias atuais, ultrapassou o campo da alimentação. “O filé passou a ser uma expressão metafórica. Usamos ele para nos referir a coisas boas, se tornou uma metáfora do que é bom”, acrescenta.
Serviço
Bilhares Brunswick
- Avenida Afonso Pena, 4172, Cruzeiro
- (31) 3213-7200
- Segunda a terça, das 10h à 00h30
- Quarta e quinta, das 10h à 1h
- Sexta e sábado, das 10h às 3h
- Domingo, das 10h à 00h
- @brunsbh.sinuca
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino