Vazamentos de água podem ser comuns no dia a dia da população, mas podem causar grandes problemas. Quando o problema ocorre em um cano, o prejuízo pode ser de até um litro desperdiçado por hora, 720 litros perdidos em um mês. A situação é agravada quando os escapes não são observados a olho nu, chamados de vazamentos ocultos. Eles ocorrem embaixo do solo e, embora a quantidade de água dissipada seja menor, têm potencial para se tornar uma grande complicação. Somente em 2024, foram identificados pela Copasa 3.400 vazamentos ocultos. Até maio deste ano, foram identificados 1.300 escapes.
Para tentar conter o problema, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), desenvolve um trabalho diferenciado, que depende não só da tecnologia, mas, também ou principalmente do ouvido humano. Isso por que a detecção do problema é feita por meio de equipamentos de escuta.
De acordo com a gerente da Regional Belo Horizonte Sul Copasa, Simone Neves, a topografia de Belo Horizonte é o fator mais relevante na localização dos vazamentos. Regiões mais baixas tendem a ter uma maior concentração de vazamentos devido à necessidade de maior pressão na rede para abastecer áreas mais altas. Como não há uma regional ou bairro específico com maior incidência de vazamentos, o trabalho é realizado igualmente em toda a cidade, assim como nos municípios que compreendem a Região Metropolitana.
A detecção antecipada de vazamentos ocultos diminui o tempo em que ele permanece sem reparo, principalmente porque ele não é visível e está abaixo do pavimento. Isso antecipa a correção do vazamento e reduz os transtornos causados à população. Além disso, evita que vazamentos menores se tornem maiores, gerando uma perda de água ainda maior.
“Este é um investimento a mais que a Copasa faz para poder antecipar a correção desses vazamentos, então a gente diminui o tempo que esse vazamento está lá, principalmente porque ele não aflorou ainda. As nossas redes de água estão instaladas normalmente no passeio, então, a equipe vai percorrendo a rede com um aparelho que a gente chama de haste de escuta, que tem um fone ligado nessa haste. A gente instala em alguns hidrômetros o correlacionador de ruído. Com esses equipamentos, a pessoa que está operando o aparelho consegue perceber um ruído diferente, notando o vazamento”, explica Simone.
Embora os vazamentos ocultos sejam de menor porte, com menor potencial de perda de água, trata-se de um problema que precisa ser identificado. Em um dia de varredura, que passa por quase um bairro inteiro, a depender de sua extensão, a equipe responsável pela detecção encontra sete a 10 fugas de água.
Atualmente, o time é composto por funcionários da Consórcio Servcom, empresa contratada pela Copasa, que tem um treinamento prévio da própria empresa. A tecnologia e os equipamentos utilizados também são fornecidas pela Servcom, que tem um contrato com a companhia desde 2022.
Como funciona?
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A equipe traça uma malha da rede de abastecimento do bairro e região e se divide pelas ruas em duplas, a procura de ruídos no solo. Cada um com uma haste de escuta busca por ruídos no solo. “Caso haja algum ruído de água, a gente desliga o hidrômetro, verifica de novo para ver se ainda persiste o ruído. Caso persista o ruído, a gente faz um furo (no chão) para fazer a sondagem e ver se realmente existe um vazamento ali”, explica o auxiliar de saneamento Paulo Vinicius Dias da Silva.
Com o olhar treinado, os auxiliares já sabem quais locais têm mais probabilidade de ter um escapamento, mas eles percorrem por todas as ruas, observando todos os imóveis, comerciais ou residenciais. Os vazamentos são mais identificados em áreas mais altas da cidade, mas também são encontrados nos pontos mais baixos, reforçando a necessidade de passar um “pente fino” durante a ação.
Como o trabalho depende da identificação de ruídos, veículos e outras coisas que emitem barulhos podem dificultar o trabalho e apresentar interferência na escuta. Nesses casos, a equipe recorre ao geofone eletrônico, aparelho que converte o som do vazamento em sinais eletrônicos amplificados, ouvidos através de um fone de ouvido. Por fim, eles quebram o solo para inserir a haste de escuta. Se ela sair molhada ou úmida, há chance de ter um vazamento. Ao ser confirmado o vazamento, a equipe marca o local com spray para que a equipe de manutenção de água faça o reparo.
A reportagem acompanhou uma varredura de identificação de vazamentos no dia 11 passado, sexta-feira, durante cerca de 45 minutos. Dois vazamentos ocultos foram encontrados. Mesmo com a medição dentro dos parâmetros, o técnico deve seguir investigando. “A pressão da água está dentro do padrão, na medida do possível da rede, já que a água passa direto da rua. Não pode ser da caixa, tem que ser direto do relógio para observar a real pressão que está passando aqui na rua”, diz Arthur Moraes de Andrade, também auxiliar de saneamento, que utiliza o manômetro.
Quando a pressão está abaixo do esperado, pode haver um vazamento. No entanto, eles não medem a pressão de todas as casas, sendo necessário apenas uma por rua, e mudando de acordo com a região. Conforme eles recolhem as informações, eles anotam em planilhas e também em um aplicativo próprio da empresa.
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