O cenário é encantador, esculpido pela própria natureza ao longo de milhões de anos, com imensas grutas e cavernas, um rio subterrâneo de 21 quilômetros, abrigando a maior estalactite do mundo – a “perna da bailarina”, com 28 metros de altura, o equivalente a um prédio de nove andares. Reúne uma infinidade de pinturas rupestres, com sinais da presença humana há mais de 12 mil anos.

Tudo isso compõe a beleza do conjunto de 114 sítios arqueológicos do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, situado entre os municípios de Januária (MG), Itacarambi (MG) e São João das Missões (MG), na região Norte do estado, que domingo (13/07) conquistou o reconhecimento universal, com o título de Patrimônio Natural da Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A votação que aprovou a concessão do título internacional ao acervo de grutas, cavernas e pinturas rupestres do Cânion do Rio Peruaçu ocorreu em Paris, durante a 47ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em decisão unânime.

O tesouro do Vale do Peruaçu ficou “escondido” até 1975, quando foi “descoberto” por um grupo de espeleólogos que percorria a região.

A busca da importante chancela ao acervo natural envolveu uma luta de 27 anos, desde que a candidatura foi apresentada pela primeira vez, em 1998. O comitê que votou, por unanimidade, pelo reconhecimento do importante patrimônio natural em Paris foi composto por representantes de 22 nações e avaliou as propostas de busca do título de patrimônio natural e cultural de 32 países de todos os continentes.

Minas Gerais já era o estado brasileiro com maior quantidade (quatro) de títulos de patrimônio cultural da humanidade conferidos pela Unesco: os Centros Históricos de Ouro Preto e de Diamantina, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, o Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte.

Como reconhecimento do Cânion do Peruaçu, o estado tem o seu primeiro título de patrimônio natural. Agora, o Brasil passa a contar com 24 bens titulados pela Unesco, sendo 15 como patrimônio cultural e nove como patrimônio natural.

O Vale do Peruaçu se soma a locais igualmente icônicos reconhecidos no Brasil, como as ilhas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas, o Pantanal mato-grossense, o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – que tinha recebido a titulação por último, em julho de 2024. 

Patrimônio único no mundo

A conquista junto à Unesco foi comemorada pelos governos estadual e federal e por ambientalistas e espeleólogos. “Essa conquista é um orgulho imenso para o nosso estado. Estive no Peruaçu e vi de perto a grandiosidade desse lugar. Agora, o mundo inteiro reconhece essa maravilha, que vai atrair ainda mais turistas”, comemorou o governador Romeu Zema (Novo), em mensagem nas redes sociais.

O Governo do Estado promoveu no domingo um evento na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, para marcar o recebimento do título, com projeção de imagens e frases sobre o Vale do Peruaçu nos prédios que integram o Circuito Liberdade.

“O reconhecimento da Unesco aumenta a visibilidade local, coloca nosso estado em um novo patamar e fortalece ainda mais a oferta de experiências e empreendimentos turísticos na região”, avalia o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas Gerais, Marcelo de Souza e Silva.

O Peruaçu é uma riqueza de Minas Gerais, uma riqueza do Brasil que agora o mundo inteiro vai poder conhecer melhor ainda. É um tesouro escondido que agora tem as luzes do mundo. Tenho certeza que toda a região vai se beneficiar desse processo e parabéns aos mineiros”, destacou Bernardo Issa de Souza, do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática. Como um dos representantes do governo brasileiro, ele acompanhou todo o processo de análise e votação da candidatura do Cânion do Rio Peruaçu na sede da Unesco, em Paris, de onde falou ao Estado de Minas.

Ele lembra que também foi avaliado pelo comitê da Unesco outro critério que foi a formação dos sítios arqueológicos – “a maneira como aquilo foi formado, é a única (formação rochosa) no mundo. A bacia inteira que sofreu esse processo de carstificação, quer dizer, as pedras calcárias foram se dissolvendo lentamente, no passar dos anos – primeiro, inclusive, o cânion - aquilo que se formou por debaixo da terra. Depois, de algum momento, aquilo se abriu e formaram as clarabóias”, relatou.

Na proposta apresentada à Unesco, foi destacado que o cânion do Peruaçu alcança 38.003 hectares do Parque Nacional, “abriga o exemplo mais notável de carstificação de um sistema fluvial até agora reconhecido e documentado no mundo, o que inclui um rio subterrâneo de 21 quilômetros de extensão. Trechos colapsados ao longo de seu curso subterrâneo revelam o rio em cerca de seis pontos. Essas seções desabrigadas formam impressionantes cânions com até 200 metros de profundidade”.

Um dos pontos destacados na proposta da candidatura analisada pela Unesco é que o Cânion do Peruaçu se apresenta como “um exemplo excepcional e representativo de diferentes estágios da história da Terra, incluindo o registro da vida e dos processos geológicos no desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos importantes”.

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