Um mural foi grafitado nesta sexta-feira (15/8) em homenagem ao gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, assassinado com um tiro enquanto trabalhava. A arte foi feita na Rua Jequitibá, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH, local onde o gari foi morto na última segunda-feira (11/8). A ilustração é do artista Wagner Eustáquio da Cunha, mais conhecido como Wagner OCaras. 

No muro, Laudemir foi representado com o uniforme laranja que vestia quando foi morto e em cima do caminhão de coleta. De acordo com a viúva dele, Liliane França da Silva, o gari amava o ofício

Ainda no graffiti, o trabalhador foi ilustrado com asas de anjo, como se estivesse se elevando ao céu. Nas nuvens, há a escritura: “Vem meu filho, deixa o lixo humano para a Justiça recolher!”. Ao Estado de Minas, o graffiteiro Wagner OCaras disse que se inspirou em uma charge do artista Duke para fazer o mural. 

O artista, que faz graffiti há 30 anos, também afirmou que foi convidado para fazer a homenagem. “A arte ela grita”, disse. Para ele, o mural é um protesto por Justiça.

Como foi o crime?

O gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, foi morto com um tiro na barriga na manhã dessa segunda-feira (11/8), em uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte.

Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), ele trabalhava na coleta de lixo junto a outros garis quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para permitir a passagem de um carro, modelo BYD, conduzido pelo empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito de cometer o crime.

De acordo com testemunhas, Renê abaixou o vidro e gritou para a condutora que, se alguém encostasse no carro dele, mataria a pessoa. Diante da ameaça, os garis, incluindo Laudemir, pediram que o motorista se acalmasse e seguiram orientando-o a continuar o trajeto. Ainda assim, ele desceu do veículo visivelmente alterado, apontou uma arma para o grupo e disparou, atingindo Laudemir.

Testemunhas

Em seu depoimento à polícia, o também gari Evandro Marcos de Souza, de 35 anos, contou que o suspeito chegou a mirar contra a cabine do caminhão e ameaçar “dar um tiro na cara” da motorista. Ao ultrapassar o veículo, Renê teria desembarcado já com a arma em punho. Eledias confirmou a versão do colega e ainda disse à polícia que havia espaço suficiente para o carro passar sem que fosse necessário o tom agressivo.

Ao Estado de Minas, o gari Tiago Rodrigues, que presenciou o assassinato do colega, relatou que o suspeito agiu com frieza durante todo o ataque. Segundo ele, Renê não parecia estar fora de si. “Ele estava frio, sem sentimento. Não tem essa de ‘fora de si’. Assim que atirou, ele entrou no carro como se nada tivesse acontecido e foi embora”, contou.

Tiago contou que a equipe de limpeza chegou a dar passagem ao empresário, que já se aproximava de forma ameaçadora. Ele disse ter tentado apaziguar a situação, pedindo que o motorista seguisse seu caminho em paz, já que os garis apenas cumpriam o trabalho. “Naquela hora, eu gritei: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.

O gari relatou que o suspeito teria seguido com o carro, mas logo parado o veículo, descido, sacado a arma e dito: “Vocês estão duvidando de mim?”. Depois disso, Tiago disse que gritou questionando se o homem ia atirar neles, que estavam trabalhando. Em seguida, Laudemir de Souza Fernandes foi atingido por um tiro no abdômen.

A vítima foi socorrida e levado ao Hospital Santa Rita, no bairro Jardim Industrial, em Contagem, na Grande BH, mas morreu no local.

Quem é o suspeito de matar o gari?

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, é o principal suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes. Ele foi preso em flagrante no dia do crime e teve prisão convertida para preventiva na quarta-feira (13/8). 

De acordo com a decisão judicial, a prisão preventiva do réu foi necessária para garantir a ordem pública, dada a gravidade do crime é o modus operando utilizado. Isso porque, segundo a ata da audiência, o crime foi cometido "em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito"

"A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana. Tal conduta abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública", destaca o documento.

Outro agravante citado na audiência foi o fato de que Renê, mesmo diante de um contratempo, ao ter deixado o carregador cair, se abaixou para pegá-lo e reinserir na arma. A atitude, conforme a Justiça, demonstra que não foi um ato de impulso momentâneo, mas "uma decisão consciente e voluntária de usar a violência, com a finalidade de ceifar a vida alheia". Os depoimentos das testemunhas corroboram com o ponto citado na audiência.

Além disso, na ata da audiência, o juiz informa que o acusado responde pelo crime de lesão corporal grave no Estado de São Paulo, o que representa uma personalidade violenta. O "descontrole emocional e uma perigosa predisposição para o uso da violência letal como primeira resposta a contrariedades do cotidiano", escreve o magistrado.

Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, Renê se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota". O suspeito é marido da delegada de Polícia Civil Ana Paula Balbino.

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O que acontece com a esposa do suspeito?

  • Logo após ser abordado por uma equipe da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), o suspeito afirmou que sua mulher era delegada;

  • Desde os fatos, Ana Paula Balbino Nogueira, identificada como a esposa do suspeito de homicídio, continua trabalhando;

  • A delegada foi ouvida pela Corregedoria da corporação onde trabalha;

  • As armas de serviço e pessoal foram apreendidas e estão sendo analisadas nos inquéritos administrativos e criminal;

  • A PCMG afirma que, até o momento, não há informações que incluem a delegada no homicídio do gari. 

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