O advogado da família do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, pediu o bloqueio dos bens do principal suspeito de cometer o crime e de sua esposa. A medida ainda não foi determinada pela Justiça, mas, segundo o representante legal, é uma maneira de garantir que os familiares da vítima sejam reparados pelos danos materiais e morais do homicídio.
O gari trabalhava na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte, na segunda-feira (11/8), quando foi atingido por um disparo de arma de fogo. O principal suspeito do crime foi identificado como Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, marido de uma delegada da Polícia Civil de Minas Gerais.
Em entrevista ao Estado de Minas, Tiago Lenoir explicou que a reparação não foi aprovada em juízo, mas é um direito da família. Segundo o advogado, caso fique constatado durante o curso da investigação e do processo criminal que houve participação de outras pessoas, estas também poderão ser responsabilizadas na vara cível e, portanto, poderão ser incluídas no pedido de danos morais e materiais. Por isso o pedido de bloqueio de bens da delegada Ana Paula Balbino Nogueira, mulher do suspeito. “Isso está previsto tanto no código civil, quanto no código penal”.
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A morte de Laudemir continua gerando comoção nas redes sociais e entre seus colegas. De acordo com as testemunhas do crime, o gari fazia parte de uma outra equipe que trabalhava na Região da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Há nove anos na empresa, o funcionário foi realocado de rota após outro funcionário ter um imprevisto.
Eledias Aparecida Rodrigues, a motorista do caminhão, contou que saiu da garagem da empresa sozinha e se encontrou com o gari na regional localizada no bairro Salgado Filho, na Região Oeste da capital, às 8h15 e foram juntos até o Vista Alegre, onde se reuniram com os outros três colegas e iniciaram o trabalho por volta de 8h40.
Durante o trajeto, Laudemir contou à colega que tinha acabado de conseguir a guarda da filha, de 15 anos. Ela relatou que o gari estava preocupado em chegar em casa antes das 18h pois haveria uma visita do conselho tutelar para vistoriar a nova casa da menina. O expediente deveria ter se encerrado por volta das 17h30, a tempo para a visita.
Revolta
Durante o sepultamento de Laudemir, a mulher do gari Liliane França da Silva descreveu o marido como um homem trabalhador que amava a família. Ela contou que Laudemir levantava todos os dias de madrugada para ir trabalhar. “Todos os dias de manhã ele saía falando que queria voltar. E dessa vez ele não voltou para casa. O ‘Lau’ não voltou ontem [na segunda-feira] para casa”, lamentou.
Segundo o advogado Lenoir, a família está estarrecida com o homicídio. Ele relata que além da esposa, das enteadas e da filha, a vítima também ajudava a mãe. “Ninguém espera a morte de um ente querido, ainda mais uma morte assim de uma maneira tão banal [...] A vida de cada pessoa dá um livro e a dele não é diferente, uma vida que se foi de forma tão ridícula e agora o que nos cabe é que o judiciário dê uma resposta a esse tipo de desinteligência que beira o absurdo, que é o ato praticado por quem tirou a vida dele”, afirmou.
Como foi o crime?
O prestador de serviços da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalhava junto com outras quatro pessoas na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de dez carros pudessem passar. O último carro, modelo BYD da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.
Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta afirmou que enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar e, apontando para ela, disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.
Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima. Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, mas morreu na unidade de saúde.
Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação é possível ver o carro que seria do investigado virando na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo então para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via. Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega que segura sua cabeça.
O que acontece com a esposa do suspeito?
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Logo após ser abordado por uma equipe da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) o suspeito afirmou que sua mulher é delegada
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Desde os fatos, Ana Paula Balbino Nogueira, identificada como a esposa do suspeito de homicídio continua trabalhando
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A delegada foi ouvida pela Corregedoria da corporação onde trabalha
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As armas de serviço e pessoal foram apreendidas e estão sendo analisadas nos inquéritos administrativos e criminal
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A PCMG afirma que, até o momento, não há informações que incluem a delegada no homicídio do gari
Como foi feita a identificação do suspeito?
Renê foi identificado pelos policiais militares a partir de números parciais da placa do carro que dirigia repassados pela motorista do caminhão e imagens de câmera de segurança. Em depoimento a mulher afirmou que depois que Laudemir foi atingido ela tentou conferir a identificação do BYD pelo retrovisor, mas conseguiu ver que só conseguiu ver que a placa tinha uma letra J e os números 77. Já no boletim de ocorrência, consta que os policiais perceberam, em gravações, que a chapa começava com SJ. Assim, durante a procura pelo suspeito do crime, os policiais fizeram buscas no sistema e descobriram a combinação de números e letras.
Em seu depoimento na Central de Audiência de Custódia, o investigado alegou que o carro flagrado no local do crime não era dele. Ele justificou dizendo que seu veículo é híbrido - ou seja, tem motores elétricos e a combustão - e o da imagem mostrada a ele na abordagem policial se tratava de um modelo, da mesma marca, totalmente elétrico. O empresário também alegou que o carro registrado nas imagens apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele.
O boletim de ocorrência também informou que o carro flagrado na cena do crime era um BYD Song Plus na cor cinza, modelo que a esposa do investigado, uma delegada da PCMG, tem registro em seu nome.