A família de Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos morto com um tiro enquanto trabalhava no bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte (MG), pede orações. Nesta segunda-feira (18/8), completa-se uma semana do assassinato. 

Nas redes sociais, a família pede uma corrente de oração a ser realizada a partir das 9 horas. “Cada um em seu lugar, em silêncio ou voz alta, vamos juntos rezar o Pai Nosso como um clamor por justiça. Que nossa fé seja ponte, que nossa oração seja força, que a justiça e verdade prevaleça”, afirma o comunicado.

A família também pede o compartilhamento da hashtag #justicaporlaudemir e do comunicado com quem possa se juntar a "esse gesto de amor e esperança".

Laudemir vestiu o uniforme laranja de gari pela última vez na segunda-feira (11/08), quando saiu para trabalhar. Ele foi morto por um tiro no abdômen pelo suspeito Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, depois de uma briga de trânsito. 

Na terça-feira (12/08), familiares e amigos se despediram de Laudemir durante o velório realizado em uma Igreja Quadrangular, no bairro Nova Contagem, em Contagem (MG), na Região Metropolitana da capital mineira. “Estamos em choque e com muita, muita revolta. Estamos sem chão!”, lamentou Jéssica França, de 25 anos, enteada de Laudemir. “Ele era uma pessoa muito trabalhadora, honesta, carinhosa e protetora, cuidava muito da gente", completou. Laudemir deixou também uma filha de 15 anos. Segundo a irmã, ela também está muito abalada.

A motorista Eledias Aparecida Rodrigues, que dirigia o caminhão de coleta de lixo no momento em que o assassinato aconteceu, disse em depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), que a vítima comemorava a conquista da guarda da filha no dia do crime. 

Como foi o momento do crime?

A equipe de limpeza estava na Rua Modestina de Souza, no bairro Vista Alegre, quando Eledias percebeu que uma fila de carros se formava atrás dela e decidiu manobrar o caminhão para a direita e permitir a passagem dos veículos, entre eles um BYD conduzido pelo empresário Renê da Silva.

Segundo o depoimento de Eleidas, ela e os outros garis disseram ao suspeito “vem, vem, pode vim (sic)”, orientando que havia espaço suficiente para ele passar com o carro. Logo depois, Renê pegou uma arma e apontou para a motorista, ameaçando atirar. O gari Tiago Rodrigues então se posicionou entre o empresário e a colega, questionando: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”.

Renê conseguiu passar sem esbarrar no caminhão e parou cerca de três metros à frente. Desceu do carro com a arma em punho, apontou para os trabalhadores, disparou e atingiu Laudemir no abdômen. Conforme os registros, o tiro acertou o lado direito das costelas e saiu pelo esquerdo. Ele deu entrada no Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morreu momentos depois por hemorragia interna. No local do crime, foi recolhido um projétil intacto de munição calibre .380. 

Laudemir cobria cobria licença de colega machucado

De acordo com o processo criminal, Eledias Aparecida Rodrigues, motorista do caminhão, disse em depoimento que Laudemir trabalha na rota que atende o bairro Serra, região Centro-Sul da capital. O gari substituía um colega que estava machucado quando ocorreu a discussão que levou ao crime.

Ela também contou que saiu da garagem da empresa sozinha e se encontrou com o gari na regional localizada no bairro Salgado Filho às 8h15 e foram juntos até o Vista Alegre, onde se reuniram com os outros três colegas e iniciaram o trabalho por volta de 8h40. 

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Durante o trajeto, Laudemir contou a Eledias que já trabalhava na empresa há dez anos e que tinha acabado de conseguir a guarda da filha de 10 anos. Ela relatou que o gari estava preocupado em chegar em casa antes das 18h pois haveria uma visita do conselho tutelar para vistoriar a nova casa da menina. 

Quem é o suspeito?

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, atuava como vice-presidente de uma empresa de alimentos, mas foi desligado no dia seguinte à repercussão do crime. Ele é casado com uma delegada da Polícia Civil e possui formação em Administração e Marketing pela PUC-Rio e Universidade Estácio de Sá. Também é detentor de dois MBAs: um em Gestão de Projetos, pelo Ibmec, e outro em Bens de Varejo e Consumo, pela USP.

Em seu perfil do Instagram, que foi desativado poucas horas após a prisão, ele se descrevia, em inglês, como "cristão, esposo, pai e patriota".

No próprio perfil profissional, se define como “líder, com boa capacidade de comunicação e motivação de equipes diretas e indiretas, com prática no acompanhamento e desenvolvimento de profissionais”. Ele ainda se apresenta como um profissional com “excelente capacidade de negociação e de construir relacionamento por meio de engajamento, resolução de problemas e comunicação eficaz”.

Renê foi preso pela PMMG no estacionamento de uma academia na Avenida Raja Gabaglia, horas depois do crime. Procurada pela reportagem, a PM informou que a prisão se deu por meio de informações de uma testemunha, que lembrou de parte da placa no carro e pela consulta de câmeras de segurança, cujas imagens capturaram outros caracteres da placa e mostraram que o carro era um BYD Song Plus.

De acordo com informações do boletim de ocorrência, ao ser abordado entrando na academia o suspeito disse à polícia que "não participou do episódio, que sua esposa é delegada da Polícia Civil de Minas Gerais, e que o veículo abordado estaria em nome da servidora." Ainda segundo o registro policial, ele informou que "a policial teria uma arma de fogo do mesmo calibre da que foi utilizada no homicídio".

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