Nossa história, nosso patrimônio

Igreja Santa Rita, cartão-postal do Serro, volta às cores originais

Portas e janelas do templo do final do século 18 surpreendem visitantes com o verde colonial descoberto sob camadas da tinta amarelo-ocre

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Estou no Serro, antiga Vila do Príncipe, e, a exemplo de visitantes de todos os cantos que chegam à tricentenária cidade do Vale do Jequitinhonha, subo a escadaria de pedras para ver de perto a Igreja Santa Rita, localizada ao final de 57 degraus. Já percorri esse caminho muitas vezes, ao longo de anos, mas desta vez meu interesse é diferente: ver as “nova velha” cor do templo erguido no início do século 18 e tombado em 1938, assim como toda a cidade, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O cenário junta o sagrado ao turismo, o cotidiano dos moradores à bela paisagem, o tempo que se foi ao atual. Dois meninos soltam pipa, aproveitando o vento a favor; um homem parece descansar de um dia de passeio; uma mulher vem lentamente, apoiada numa bengala; e eu, embevecido e curioso, contemplo as cores originais que voltaram às portas de janelas deste cartão-postal da cidade.

Na restauração do templo, fechado até o fim das obras, a equipe responsável pela condução do projeto, sob supervisão do Iphan, descobriu a cor primitiva das portas e janelas – verde colonial e não amarelo-ocre. Tudo de acordo com o objetivo do trabalho, que é resgatar a originalidade do bem cultural e desfazer intervenções feitas de forma equivocada em outras épocas. Assim, durante prospecções, foi encontrada a camada primitiva de portas e janelas da igreja, trazendo de volta o verde colonial. Importante destacar que marcos, molduras e estruturas vão continuar vermelhos. Para orientar a comunidade, ações de educação patrimonial são realizadas pela Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio que, juntamente com o Iphan, acompanha a obra.

De acordo com a Superintendência do Iphan em Minas, a obra de restauro da Igreja Santa Rita e dos elementos artísticos integrados deverá terminar no fim do ano que vem. A verba provém da autarquia federal (R$ 4,7 milhões), a partir do Novo PAC. O serviço inclui recuperação estrutural, alvenarias, rebocos, pintura cobertura, esquadrias, pisos, forros, instalações elétricas e elementos artísticos.

HISTÓRIA

Inicialmente chamada Capela Santa Rita, a Igreja Santa Rita foi construída no século 18. Não se sabe de quem foi a autoria do projeto ou quem teriam sido os artistas e artífices responsáveis pela obra, mas são encontrados documentos com datas próximas da década de 1780, descrevendo a sede provisória da ordem terceira do Carmo.

Mais uma informação da equipe do Iphan: "Sabemos que a capela sofreu várias modificações e reformas, tanto interna como externamente. Não há registros das primeiras reformas ocorridas, contudo, conta-se que provavelmente a capelinha tenha sofrido alterações internas quanto externas e que hoje só restam vestígios". Entre 1997 e 2002, foram realizadas obras de reparos que contemplaram cobertura, piso, pintura, forro e instalações elétricas.

A história do Serro remonta a 1702, quando teve início o Arraial do Ribeirão das Minas de Santo Antônio do Bom Retiro do Serro do Frio, com as primeiras minerações de ouro na região. Ali, vários ranchos foram erguidos nas proximidades dos córregos, formando os arraiais de Baixo e de Cima, que se desenvolveram e, juntos, deram origem ao povoado do Serro Frio. A denominação é atribuída aos índios tupi-guarani e advém da palavra Ivituruí: ivi (vento), turi (morro) e huí (frio).

A exploração desordenada da primeira década do século 18 levou à criação do cargo de superintendente das minas de ouro da região. E, devido ao seu crescimento, o arraial foi elevado a vila, em 1714, recebendo o nome de Vila do Príncipe. Mais tarde, mineradores descobriram lavras de diamante. Para defender os interesses portugueses, foi criada, seis anos depois, a grande comarca do Serro Frio, que passa a ser a maior comarca das Minas, e cuja sede era a Vila do Príncipe.

PREFEITURA DE DIAMANTINA/DIVULGAÇÃO

SINALIZAÇÃO VALORIZA O PATRIMÔNIO...

Nove localidades brasileiras reconhecidas como Patrimônio Cultural Mundial, incluindo as mineiras Ouro Preto, Diamantina (foto) e Pampulha, em Belo Horizonte, estão incluídas na primeira etapa do Projeto Sinalização Turística, com totens e placas padronizadas seguindo as orientações do Manual Brasileiro de Sinalização Turística do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e do Guia de Sinalização do Patrimônio Mundial da Unesco (agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). À frente da iniciativa, está a Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial (OCBPM). O objetivo é orientar o turista por meio de uma experiência mais dinâmica e reafirmar o compromisso da Organização com a preservação do patrimônio cultural brasileiro e o turismo sustentável como vetor de desenvolvimento. A novidade está presente ainda em Salvador (BA), São Miguel das Missões (RS), São Cristóvão (SE), Goiás (GO), Olinda (PE) e no Parque Nacional da Serra da Capivara (PI).

...E FACILITA A VIDA DO VISITANTE

“Tudo foi construído com muito cuidado para garantir placas de sinalização padronizadas, resistentes, acessíveis e, acima de tudo, informativas – sem tirar o brilho dos monumentos e paisagens que tanto nos orgulham”, diz o presidente da OCBPM, Mário Nascimento. Foram meses de “trabalho intenso” para que cada um dos nove sítios do Patrimônio Mundial Cultural no Brasil ganhasse sinalização à altura da sua importância histórica e cultural. Nascimento defende a criação das Rotas do Patrimônio Mundial do Brasil: “Uma pesquisa mostrou, na ordem de escolha dos destinos, que 75% dos turistas preferem o Patrimônio Mundial dos países”. O projeto Sinalização Turística do Patrimônio Mundial, realização da OCBPM, tem patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Vale, e conta com apoio institucional do Iphan, da Unesco e dos municípios envolvidos.

ARQUIVO EM

PAREDE DA MEMÓRIA

Belo Horizonte tem canteiro de obras em várias regiões, com muitas das intervenções conduzidas para se evitarem os sérios alagamentos durante as tempestades de verão. Quem trafega pelas avenidas Vilarinho, Cristiano Machado, Tereza Cristina e demais vias públicas de grande movimento conhece o “drama” que tira a tranquilidade de qualquer um. Agora, vamos voltar quase oito décadas no tempo com a foto publicada aqui. No Centro da capital, a administração municipal fazia o alargamento da Avenida Santos Dumont – de olho na Copa do Mundo de 1950, de triste memória para os brasileiros. O monte de terra fica onde tem hoje estação do Move.

URBANES PARQUES/DIVULGAÇÃO

GRUTA DO MAQUINÉ

Novidade no Museu da Gruta do Maquiné, em Cordisburgo. Ele passará por obras que vão transformar o espaço em centro ainda mais completo de preservação científica, cultural e turística. Localizado dentro do complexo da gruta, o museu guarda a memória das pesquisas do naturalista dinamarquês Peter W. Lund (1801-1880), considerado o pai da paleontologia no Brasil. As intervenções vão contemplar melhorias estruturais e estéticas, incluindo reformas elétrica, hidráulica e visual. Nova exposição permanente também estará disponível aos visitantes, com curiosidades sobre a gruta, informações sobre dr. Lund, referências à obra do escritor Guimarães Rosa (1908-1967, natural de Cordisburgo) e destaque para a flora e fauna regionais. A iniciativa tem patrocínio da Ecovias Norte Minas, via Lei de Incentivo à Cultura, em parceria com a Urbanes Parques e a Excult.

Jackson Romanelli/EM/D.A Press - 1/4/2009

HOMENAGEM A DOM SERAFIM

Reverência à memória de dom Serafim Fernandes de Araújo (1924-2019), ex-arcebispo de BH. O prefeito Álvaro Damião sancionou lei que denomina Praça Cardeal Dom Serafim o espaço público antes chamado Praça da Federação. Fica no encontro das ruas Coração Eucarístico de Jesus e Dom Joaquim Silvério, no Bairro Coração Eucarístico. A iniciativa partiu da PUC Minas juntamente com o vereador Pedro Patrus. Dom Serafim foi o segundo reitor da então Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG), de 1960 a 1981. O processo de adoção pela PUC Minas da praça está em andamento na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

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MEDALHAS PARA ESTUDANTES 

Seis alunos da rede estadual de ensino de Minas brilharam, conquistando medalhas, na 17ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Erika Victoria, Hebert Luan e Lucas Guilherme, da Escola Estadual Carvalho Brito, em Sabará, e Camille Lopes, Dante Bichelene e Maria Eduarda Coelho, da Escola Estadual Assis Chateaubriand, em BH, chegaram à grande final. Eles foram selecionados entre mais de 220 mil competidores de todo o país. As equipes contaram com a orientação da professora Karina Rezende, que atua nas duas escolas e já havia levado a Escola Estadual Carvalho Brito à semifinal em 2024, além da coorientação da professora Fabrize Pousa, da Escola Estadual Assis Chateaubriand.

Contraste com Integração

No templo mais moderno da Serra da Piedade, o brutalismo se caracteriza pela imponência, ausência de adornos, forma pesada e geométrica e concreto bruto aparente, informa a arquiteta Daniela Duarte de Freitas Oliveira, da Arquidiocese de BH, à qual o santuário está vinculado. “Toda a estrutura é em concreto aparente, e a cobertura com telhas de cobre.”

Com apenas um pilar, o interior da basílica abriga três espaços. Na parte central, fica o local de celebração. De frente para o altar, há, do lado direito, área para banheiros e outra para as pessoas se abrigarem. Já do lado esquerdo, a entrada principal e o batistério. “Tudo se integra à natureza, nada compete com o entorno ou sobressai à ermida”, diz a arquiteta, em referência à vizinha capela do século 18, a menor basílica do mundo, onde está a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).

Também da prancheta de Alcides Áquila da Rocha Miranda saíram os projetos do restaurante, da casa dos peregrinos e da lanchonete-loja, todos em áreas mais baixas em relação à ermida, chamada de “magnífica arquitetura divina” pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). 

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ASSIM NA TELA COMO NA SERRA

 

Vencedor do Oscar 2025 nas categorias melhor ator, para Adrien Brody, melhor fotografia e melhor trilha sonora original, “O Brutalista” conta a história de László Tóth, arquiteto judeu da Hungria que emigra para os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em busca de vida nova, oportunidades, futuro. No início, nada são flores, até ele trabalhar no megaprojeto de construção de um prédio no estilo brutalista, o mesmo seguido na Igreja das Romarias, na Serra da Piedade, em Minas Gerais. A inspiração para o filme teria partido da edificação em concreto de um mosteiro beneditino, a Abadia de Saint John (foto acima), no estado de Minnesota, nos EUA.

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EM PAZ NAS ALTURAS

Considerado um dos principais pontos turísticos de Minas, com visita anual de cerca de 500 mil pessoas, o complexo cultural, histórico, natural e paisagístico da Serra da Piedade sempre atraiu a atenção da psicóloga Flávia Linhares, de Caeté. Ela gosta especialmente da Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, a Igreja das Romarias. “Sempre venho aqui, sinto paz, tranquilidade. Devido ao concreto, muitos dizem que ela tem uma ‘frieza’, mas, pelo contrário, me sinto acolhida. Quanto à ermida, é mesmo a ‘magnífica arquitetura divina’”, destacou Flávia ao lado da mãe, Maria da Conceição Linhares, de 79 anos.

Com 2.040 metros quadrados, a edificação brutalista teve como engenheiro responsável José de Miranda Tepedino (1929-1994), e participação importante, como uma referência para Alcides Áquila, que trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do arquiteto e professor belo-horizontino Ivo Porto de Menezes (1928-2024).

 

Segundo Daniela Oliveira, houve, em 1989, a instalação dos murais de cerâmica fosca que revestem as paredes com temas bíblicos, abordados nos evangelhos de Lucas, e executados pelo artista plástico Cláudio Pastro. Nove anos depois, foi entronizada a imagem de Nossa Senhora da Piedade, obra do artista plástico Léo Santana.

Um abraço natural

Nas fotos externas mostradas nesta reportagem, feitas com drone, é possível ver a integração da basílica com a paisagem, sem grandes contrastes. Os tons da rocha e da construção se harmonizam. Vindo de Três Marias, na Região Central, o empresário Bruno Vieira Bicalho, na companhia da esposa Edilaine e da filha Luiz Helena, gostou do que viu, certo de que cada monumento tem sua beleza. “Trata-se de um templo muito bem construído”, afirmou.

Então, vale voltar no tempo para entender mais sobre a importância dos dois templos católicos existentes no topo do maciço. Em 2017, ano da comemoração dos 250 anos de peregrinação à Serra da Piedade, veio de Roma o reconhecimento maior para a ermida do século 18 e a igreja de 1974. O papa Francisco elevou ambas à condição de basílica, conforme anunciou, em 18 de novembro de 2017, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

A ermida passou a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. “A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”, disse dom Walmor, na época. Tombada pelo estado, Iphan e município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP).

O MIRANTE DA FÉ

Se os monges beneditinos retratados no filme “O brutalista” esperam mais visibilidade para o mosteiro norte-americano que inspirou o longa, com sérios problemas na estrutura, as duas basílicas da Serra da Piedade, a milhares de quilômetros, primam pelo cuidado. E têm uma vista espetacular, oferecendo um vasto panorama da Grande BH aos visitantes.

 

A qualquer momento, no alto, impossível não admirar a paisagem marcada pelas montanhas, rios, casario e estradas. A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, de acordo com a tradição oral, depois da aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. No momento, a menina teria recuperado a fala.

O episódio tocou o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Ele se converteu e decidiu dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começou a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganhou a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 

“A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de BH

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No templo mais moderno da Serra da Piedade, o brutalismo se caracteriza pela imponência, ausência de adornos, forma pesada e geométrica e concreto bruto aparente, informa a arquiteta Daniela Duarte de Freitas Oliveira, da Arquidiocese de BH, à qual o santuário está vinculado. “Toda a estrutura é em concreto aparente, e a cobertura com telhas de cobre.”

Com apenas um pilar, o interior da basílica abriga três espaços. Na parte central, fica o local de celebração. De frente para o altar, há, do lado direito, área para banheiros e outra para as pessoas se abrigarem. Já do lado esquerdo, a entrada principal e o batistério. “Tudo se integra à natureza, nada compete com o entorno ou sobressai à ermida”, diz a arquiteta, em referência à vizinha capela do século 18, a menor basílica do mundo, onde está a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).

Também da prancheta de Alcides Áquila da Rocha Miranda saíram os projetos do restaurante, da casa dos peregrinos e da lanchonete-loja, todos em áreas mais baixas em relação à ermida, chamada de “magnífica arquitetura divina” pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). 

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ASSIM NA TELA COMO NA SERRA

 

Vencedor do Oscar 2025 nas categorias melhor ator, para Adrien Brody, melhor fotografia e melhor trilha sonora original, “O Brutalista” conta a história de László Tóth, arquiteto judeu da Hungria que emigra para os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em busca de vida nova, oportunidades, futuro. No início, nada são flores, até ele trabalhar no megaprojeto de construção de um prédio no estilo brutalista, o mesmo seguido na Igreja das Romarias, na Serra da Piedade, em Minas Gerais. A inspiração para o filme teria partido da edificação em concreto de um mosteiro beneditino, a Abadia de Saint John (foto acima), no estado de Minnesota, nos EUA.

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EM PAZ NAS ALTURAS

Considerado um dos principais pontos turísticos de Minas, com visita anual de cerca de 500 mil pessoas, o complexo cultural, histórico, natural e paisagístico da Serra da Piedade sempre atraiu a atenção da psicóloga Flávia Linhares, de Caeté. Ela gosta especialmente da Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, a Igreja das Romarias. “Sempre venho aqui, sinto paz, tranquilidade. Devido ao concreto, muitos dizem que ela tem uma ‘frieza’, mas, pelo contrário, me sinto acolhida. Quanto à ermida, é mesmo a ‘magnífica arquitetura divina’”, destacou Flávia ao lado da mãe, Maria da Conceição Linhares, de 79 anos.

Com 2.040 metros quadrados, a edificação brutalista teve como engenheiro responsável José de Miranda Tepedino (1929-1994), e participação importante, como uma referência para Alcides Áquila, que trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do arquiteto e professor belo-horizontino Ivo Porto de Menezes (1928-2024).

 

Segundo Daniela Oliveira, houve, em 1989, a instalação dos murais de cerâmica fosca que revestem as paredes com temas bíblicos, abordados nos evangelhos de Lucas, e executados pelo artista plástico Cláudio Pastro. Nove anos depois, foi entronizada a imagem de Nossa Senhora da Piedade, obra do artista plástico Léo Santana.

Um abraço natural

Nas fotos externas mostradas nesta reportagem, feitas com drone, é possível ver a integração da basílica com a paisagem, sem grandes contrastes. Os tons da rocha e da construção se harmonizam. Vindo de Três Marias, na Região Central, o empresário Bruno Vieira Bicalho, na companhia da esposa Edilaine e da filha Luiz Helena, gostou do que viu, certo de que cada monumento tem sua beleza. “Trata-se de um templo muito bem construído”, afirmou.

Então, vale voltar no tempo para entender mais sobre a importância dos dois templos católicos existentes no topo do maciço. Em 2017, ano da comemoração dos 250 anos de peregrinação à Serra da Piedade, veio de Roma o reconhecimento maior para a ermida do século 18 e a igreja de 1974. O papa Francisco elevou ambas à condição de basílica, conforme anunciou, em 18 de novembro de 2017, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

A ermida passou a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. “A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”, disse dom Walmor, na época. Tombada pelo estado, Iphan e município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP).

O MIRANTE DA FÉ

Se os monges beneditinos retratados no filme “O brutalista” esperam mais visibilidade para o mosteiro norte-americano que inspirou o longa, com sérios problemas na estrutura, as duas basílicas da Serra da Piedade, a milhares de quilômetros, primam pelo cuidado. E têm uma vista espetacular, oferecendo um vasto panorama da Grande BH aos visitantes.

 

A qualquer momento, no alto, impossível não admirar a paisagem marcada pelas montanhas, rios, casario e estradas. A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, de acordo com a tradição oral, depois da aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. No momento, a menina teria recuperado a fala.

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