O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia contra dez dos 32 agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) que atuaram no caso que ficou conhecido como “Chacina de Varginha”, em 2021, na cidade do Sul de Minas. 

A operação deixou 26 pessoas mortas. A princípio, os agentes disseram que houve uma troca de tiros com criminosos que fariam parte do “Novo Cangaço”, modalidade de crime conhecida pela alta violência e roubos a bancos. As investigações da Polícia Federal (PF) apontaram que os bandidos foram surpreendidos pela operação e não estavam armados no momento. A troca de tiros, defendida pelos agentes, teria sido forjada. 

Em nota, o MPF informou que os agentes foram denunciados pela prática de cinco homicídios e por fraude processual, já que a cena do crime foi modificada deliberadamente.

“Mediante criteriosa análise das provas produzidas pela Polícia Federal e diretamente pelo MPF, após o relatório final, entendeu-se que as demais mortes ocorreram em contexto de legítima defesa, com o intuito de neutralizar o início do ataque de organização criminosa  especializada em ‘Domínio de Cidades’, que era iminente. O processo segue sob sigilo judicial.”

A reportagem entrou em contato com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), mas não obteve retorno até o momento. 


O crime


A ação ocorreu em duas chácaras, nas quais a quadrilha estava reunida em dois grupos para planejar e partir para ataques a agências bancárias no sul de Minas Gerais, segundo a PRF. A polícia apresentou um farto armamento apreendido, incluindo fuzis, escopetas, granadas, explosivos, coletes à prova de bala e até uma metralhadora calibre .50.

Os criminosos foram surpreendidos pelos policiais, que chegaram atirando no local. No primeiro imóvel, 18 foram mortos. Já no segundo, oito. Nenhum policial ficou ferido.

Ainda segundo o inquérito, para alterar a cena, os corpos ensanguentados foram arrastados sob o argumento de que deveriam ser socorridos, vestígios foram retirados dos locais originais ou “misturados a elementos deliberadamente introduzidos na cena”, roupas e objetos foram “espalhados por todos os cômodos por cima das marcas de arrastamento”, colchões foram transferidos “de um ambiente para outro”, carros e armamentos foram retirados dos locais onde se encontravam.

O exame pericial indicou que, em uma das chácaras, os policiais dispararam pelo menos 216 vezes, contra oito efetuados pelos suspeitos de integrar a quadrilha – contudo, há armas que não foram entregues para exames.

Algumas das lesões encontradas nas vítimas são características de defesa pessoal, principalmente nos braços e nas pernas. A PF apontou que não houve resistência ou injusta agressão contra os policiais por parte do grupo.

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Dos 26 mortos, oito eram mineiros de Uberaba, cidade que em 2019 foi dominada pelos criminosos do Novo Cangaço, que espalharam explosivos pelas ruas, usaram pessoas como escudos humanos presas a veículos e transformaram as esquinas em campos de batalha, matando uma mulher de 21 anos e ferindo duas.

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