
As revela��es foram feitas pela reportagem da Ag�ncia P�blica, que teve acesso, quase dois anos depois, ao laudo t�cnico de 449 p�ginas produzido a partir do trabalho de 20 peritos criminais.
De acordo com o descrito pela per�cia, os corpos ensanguentados foram arrastados sob o argumento de que deveriam ser socorridos, vest�gios foram retirados dos locais originais ou “misturados a elementos deliberadamente introduzidos na cena”, roupas e objetos foram “espalhados por todos os c�modos por cima das marcas de arrastamento”, colch�es foram transferidos “de um ambiente para outro”, carros e armamentos foram retirados dos locais onde se encontravam.
O exame pericial indicou que, em uma das ch�caras, os policiais dispararam pelo menos 216 vezes, contra oito efetuados pelos suspeitos de integrar a quadrilha – contudo, h� armas que n�o foram entregues para exames.
Em depoimento � PF, em junho de 2022, o policial lotado em Bras�lia no Comando de Opera��es Especializadas da PRF afirmou que “todos os infratores estavam atirando e atentando contra a vida dos policiais”.
O relato da PRF afirma que, por volta das 5h do dia 31 de outubro de 2021, uma quadrilha do chamado “Novo Canga�o” reagiu a tiros ao ser abordada por equipes da PRF e do Bope (Batalh�o de Opera��es Especiais) da PMMG. No confronto, 26 suspeitos foram mortos e nenhum policial se feriu.
A a��o ocorreu em duas ch�caras, nas quais a quadrilha estava reunida em dois grupos para planejar e partir para ataques a ag�ncias banc�rias no sul de Minas Gerais, segundo a PRF. A pol�cia apresentou um farto armamento apreendido, incluindo fuzis, escopetas, granadas, explosivos, coletes � prova de bala e at� uma metralhadora de calibre .50.
Segundo a reportagem, o inqu�rito da PF tenta esclarecer � se os agentes da PRF disseram a verdade ao afirmar que os 26 homens morreram durante uma grande troca de tiros, se a “investiga��o” que derivou para a matan�a foi conduzida de forma legal; se houve uso desproporcional da for�a e outras circunst�ncias, como a morte de um motorista da quadrilha que fora rendido pela pol�cia numa estrada em Muzambinho (MG) e depois apareceu morto na ch�cara; e a morte do caseiro Adriano Garcia, um morador de Varginha (MG) com problemas alco�licos que trabalhava h� cerca de dois anos no s�tio (na ocasi�o, alugado). Seus familiares dizem que ele n�o tinha qualquer rela��o com a quadrilha e apenas cuidava de uma das propriedades.
Os peritos tamb�m n�o localizaram perfura��o nos 12 ve�culos que deveriam estar nos s�tios. Um grupo de seis policiais rodovi�rios federais matou, cada um, tr�s suspeitos (18 ao todo). Outros quatro mataram, cada um, de um a dois. Por�m, como todos os corpos e as armas foram retirados dos locais de origem, a per�cia n�o conseguiu reconstituir onde estava e o que fazia cada um dos mortos e cada um dos policiais.
Um dos agentes da PRF disparou 38 vezes. Outro, 33 vezes. Pelo menos 21 dos 26 suspeitos foram mortos por agentes da PRF e tr�s, pelos agentes do Bope. O inqu�rito aberto pela PF para investigar as mortes n�o tem prazo para ser conclu�do.
Dos 26 mortos, oito eram mineiros de Uberaba, cidade que em 2019 foi dominada pelos criminosos do Novo Canga�o, que espalharam explosivos pelas ruas, usaram pessoas como escudos humanos presas a ve�culos e transformaram as esquinas em campos de batalha, matando uma mulher de 21 anos duas feridas.