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Estado de Minas Novo canga�o

Investiga��o e t�tica: os bastidores da a��o contra o novo canga�o em MG

Fontes policiais contam ao EM como foi preparada a opera��o que abortou ataque a bancos em Varginha, no Sul de Minas, e d�o um panorama dos confrontos


07/11/2021 04:00 - atualizado 07/11/2021 08:16
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arsenal em poder dos suspeitos
Parte do arsenal em poder dos suspeitos apreendido nos s�tios que foram alvos da opera��o policial (foto: Pol�cia Civil/Divulga��o )

O sol nascia no domingo passado quando rajadas de fuzis autom�ticos come�aram a ser disparadas de uma das ch�caras do Vale do Rio Verde, em Varginha, no Sul de Minas, em dire��o � rua de terra. Naquele momento, grupos t�ticos da Pol�cia Militar de Minas Gerais (PMMG) e da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) acabavam de cercar a propriedade.

Os policiais foram detectados do segundo andar do sobrado, a partir de uma janela e de uma varanda de tijolos vazados, por sentinelas de uma violenta quadrilha especializada em subjugar cidades para roubar bancos. Na troca de tiros, muros de placas de concreto entre os policiais e o sobrado ficaram rapidamente salpicados de perfura��es de proj�teis.

Por�m, a conten��o por disparos dos sentinelas contra o avan�o policial n�o contava que, posicionados contra o sol nascente que os cegava e do alto do barranco oposto ao sobrado, outro grupo de atiradores das duas for�as especiais de seguran�a p�blica responderia ao fogo.

 

Tudo que aparecia na varanda ou nas janelas se tornou alvo de salvas de tiros, enquanto policiais em solo arrombavam o port�o de metal da garagem da ch�cara. Sob a cobertura dos disparos entre as �rvores do barranco, colunas de policiais avan�aram pela garagem arrombada em forma��o t�tica, cada componente da fileira apontando seu fuzil para uma dire��o, varrendo a tiros �reas de onde surgiam criminosos armados.

A entrada na casa pegou a quadrilha desprevenida, sem tempo para vestir coletes bal�sticos, lan�ar bombas ou contra-atacar organizadamente. S� nessa ch�cara, 18 criminosos morreram. Simultaneamente, a outra base dos bandidos, em s�tio na sa�da para Tr�s Pontas, tamb�m se tornou um ponto de confronto e mais oito integrantes da mesma quadrilha morrem, sem nenhum policial ser ferido.

 

As not�cias da opera��o de combate ao crime organizado, ocorrida na madrugada de 31 de outubro, nas ch�caras de Varginha, impressionam pessoas mundo afora pela pr�pria a��o policial e pelo n�vel de armamentos e equipamentos de guerra sob posse dos criminosos.

Parecia o �pice de um epis�dio de filme de a��o. Mas para os policiais militares e rodovi�rios federais que participaram do enfrentamento � gangue do chamado “novo canga�o”, foi uma amostra de como a sinergia entre for�as federais e estaduais, bem como o emprego t�tico aliado � intelig�ncia das corpora��es, pode prevenir e impedir ataques a bancos, dom�nio e terror em cidades do interior.

 

O enfrentamento ao “novo canga�o” tem causado baixas nas quadrilhas, como em 2014, quando nove morreram ap�s a��o em Itanhandu, na mesma regi�o mineira, e em 2019, ano em que 14 foram presos depois de atacar bancos em Uberaba, no Tri�ngulo.

Para mostrar detalhes dessa �ltima a��o, em Varginha, a reportagem do Estado de Minas recorreu a testemunhas dos combates e a fontes policiais, que n�o t�m autoriza��o para conceder entrevista e fazer uma reconstitui��o dos fatos.

Grupos de defesa dos direitos humanos p�em em quest�o o fato de nenhum policial ter sido ferido e pedem investiga��es para saber se n�o ocorreu, na verdade, um massacre e se pris�es n�o poderiam ter sido feitas.

 

Oficialmente, nem a PM de Minas nem a PRF se manifestaram sobre detalhes da opera��o, que terminou com 26 mortos, apreens�o de explosivos e de um arsenal de guerra que supostamente seria usado para atacar e dominar a cidade do Sul de Minas na madrugada da ter�a-feira de Finados.

“Por quest�es estrat�gicas, a Pol�cia Militar de Minas Gerais n�o fornece informa��es relacionadas ao Servi�o de Intelig�ncia”, informou a corpora��o.

 

A��O NO SUL DE MINAS
Confira o esquema t�tico da opera��o em  Varginha
 

Cronologia

 

30 de agosto 

Integrantes da quadrilha atacam dois bancos e subjugam Ara�atuba (SP), fazendo ref�ns de escudos humanos

 

Setembro 

 

» Atividades de alguns dos suspeitos rastreadas pela Pol�cia Federal em negocia��es com quadrilhas de Uberaba. A Pol�cia Rodovi�ria Federal � acionada e as duas corpora��es iniciam monitoramentos

 

» Identificado que o alvo seria uma cidade do Sul de Minas. PMMG contatada para a��o conjunta e o Batalh�o de Opera��es Policiais Especiais (Bope) � mobilizado, podendo ser enviado a qualquer munic�pio em poucas horas em caso de necessidade

 

Outubro

 

» Grupo volta a se movimentar. O 24º Batalh�o da PMMG, em Varginha, recebe informa��es de movimenta��es de comboios de carros estranhos entre duas ch�caras

 

» For�as policiais da PMMG e PRF monitoram as ch�caras e tra�am estrat�gias de a��o para neutralizar a quadrilha fortemente armada e capaz de subjugar as for�as de seguran�a da cidade.

 

» A Pol�cia identifica a rota de fuga ao seguir dois comparsas at� Muzambinho, onde uma carreta disfar�ada abrigaria a quadrilha depois dos roubos. Ap�s o ve�culo ser estacionado e deixado na cidade foi poss�vel determinar que os ataques seriam na madrugada de 2 de novembro, feriado de Finados

 

» Na madrugada do dia 31, cerca de 50 policiais das for�as especiais da PMMG, Bope e PRF iniciam cerco �s ch�caras e s�o recebidos a tiros pelos sentinelas, segundo as for�as de seguran�a. A rea��o � imediata, os im�veis s�o invadidos e 26 suspeitos acabam mortos. Nenhum policial se feriu. Vasto material b�lico � recolhido

Esquema t�tico

 

» Um dos grupos t�ticos de elite das pol�cias Militar e Federal Rodovi�ria se posiciona no alto de um barranco, de frente para a ch�cara. Outro grupo vem pela rua de frente

 

» Sentinelas no segundo andar do sobrado da ch�cara percebem os policiais na rua e disparam rajadas de fuzis para cont�-los

 

» Policiais no solo se abrigam atr�s do muro, enquanto os agentes no barranco disparam para neutralizar os sentinelas

 

» O grupo no solo aproveita a cobertura dos disparos do barranco e arromba o port�o da ch�cara, invadindo a propriedade em fileira t�tica, com componentes varrendo todas as dire��es e eliminando amea�as que aparecem

 

» Os policiais do cerco invadem e eliminam todos os criminosos 

 

Prepara��o come�ou em agosto

 

Fontes policiais ouvidas pelo Estado de Minas indicaram que a opera��o que teve seu desfecho em 31 de outubro em Varginha come�ou bem antes, ap�s uma a��o de integrantes da quadrilha, em Ara�atuba (SP), em 30 de agosto.

Na ocasi�o, o grupo atacou com explosivos duas ag�ncias banc�rias, espalhou explosivos pela cidade e usou ref�ns como escudo humano, amarrando-os sobre o cap� de carros. Tr�s morreram, sendo dois assaltantes

Dias depois, a Pol�cia Federal detectou contatos de suspeitos de integrar esse grupo com quadrilhas do entorno de Uberaba envolvidas em roubos de carros e controladores da chamada “Rota caipira”, percurso que escoa drogas da Bol�via por Mato Grosso, S�o Paulo e Minas Gerais.

 

Essas informa��es foram compartilhadas com a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF), uma vez que suspeitos circulavam pelas rodovias BR-262, BR-381 e outras estradas que as conectam. N�o se tinha certeza do alvo, mas seria no Sul de Minas. A Pol�cia Militar foi contatada e deixou de prontid�o seu grupo de elite, o Batalh�o de Opera��es Policiais Especiais (Bope).

 

Vigiados de perto, os suspeitos voltaram a se movimentar mais nitidamente em meados de outubro. Menos de uma semana depois, o comando do 24ª Batalh�o da PM recebeu informa��es de que comboios de ve�culos se deslocavam de forma suspeita entre ch�caras alugadas, sem que nenhum evento ocorresse. PM, Bope e PRF se organizaram imediatamente.

A regi�o das duas ch�caras foi mapeada, fotografada por aeronaves e estudada nas pranchetas t�ticas.

 

Os suspeitos foram monitorados. Dois deles deixaram o s�tio e se dirigiram a Muzambinho, munic�pio a 140 quil�metros de Varginha. L�, posicionaram uma carreta e a estacionaram pr�ximo a um posto.

Supostamente, era o ve�culo de fuga, com esconderijo no basculante, disfar�ado de carregamento de entulho, em local preparado com colch�es, travesseiros, �gua e alimentos. A pol�cia soube que o ataque criminoso s� ocorreria na madrugada do feriado de Finados, o que permitiu que agisse antes.

 

Estrat�gia


“O estranhamento pelo fato de todos os criminosos terem sido eliminados ao reagir e nenhum policial ter se ferido se deve ao trabalho bem-feito da PMMG e da PRF. Antes, os criminosos tinham o fator surpresa, o mapeamento dos seus alvos, estrat�gias de evas�o e a covardia de executar inocentes, sabendo que a pol�cia vai sempre ter como prioridade a seguran�a do cidad�o. Agora, foram quase 50 policiais s� na a��o direta, o que proporcionou superioridade num�rica. Houve prepara��o estrat�gica, estudo, organiza��o, somado a isso a t�tica, a experi�ncia, a excel�ncia dos grupos especiais, o fator surpresa e o mais importante: Deus”, disse fonte policial ouvida pelo EM.

 

Ao fim da a��o, foram apreendidos um fuzil calibre .50, dois 7.62 e 14 de 5.56. Tr�s espingardas calibre .12, tr�s pistolas .380 e tr�s pistolas 9mm, sendo uma com kit para disparo de rajadas e dois kits que transformam os armamentos de m�o em submetralhadoras.

Com esse armamento estavam 60 muni��es .50, 2.916 de 5.56, 991 de 7.62, 470 de 9 mm, 163 de .380, 123 de .12, 130 de .44, 206 de .25 e 116 carregadores. A quadrilha dispunha de 40kg de explosivos, 22 capas de coletes, 12 cal�as t�ticas, 10 blusas t�ticas, um capacete bal�stico, cinco balaclavas, seis chap�us t�ticos, 12 pares de coletes bal�sticos, seis pares de joelheiras, 12 gal�es de gasolina de 18 litros, quatro gal�es de diesel de 100 litros, sete radiocomunicadores, sete canetas laser, um martelete e tr�s lanternas.

 

INVESTIGA��ES


Ap�s a a��o, v�rios �rg�os de defesa dos direitos humanos do Minist�rio P�blico, da Assembleia Legislativa de MG pediram investiga��es para saber se ocorreram excessos e at� um poss�vel massacre. O �ltimo deles foi o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de MG, que oficiou a Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica de Minas Gerais (Sejusp), a Ouvidoria de Pol�cia e o Minist�rio P�blico Estadual, por meio da Promotoria de Controle da Atividade Policial.

 

A Sejusp enviou uma resposta em que diz causar “estranheza as coloca��es trazidas por esse Conselho, diante da realidade deste tipo de criminalidade que est� assolando o pa�s”.

Segundo a Sejusp, “ao contr�rio do que foi exposto, em nenhum momento foi exaltada a morte dos criminosos. que, certamente, entre a madrugada de 1º e 2 de novembro praticariam uma s�rie de atrocidades na cidade de Varginha caso a pol�cia n�o tivesse, atrav�s de sua intelig�ncia, levantado com anteced�ncia seu plano de dominar brutalmente o munic�pio”.

A secretaria afirma que os policiais revidaram os ataques dos criminosos e convidou os membros do conselho a acompanharem uma opera��o t�tica para entender seu funcionamento. 


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