EM MINAS

‘Os hospitais regionais vão transformar a saúde’, garante Fábio Baccheretti

Ao EM Minas, da TV Alterosa, o secretário de Saúde de Minas Gerais falou sobre o futuro dos hospitais no estado e na capital mineira

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“Os hospitais regionais vão transformar a saúde”, afirmou o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti. O chefe da pasta se refere à implantação de cinco novos hospitais no estado, promessa que se alastra há mais de uma década e foi renovada pelo governador Romeu Zema (Novo) na campanha para reeleição em 2022. Em entrevista ao programa ‘EM Minas’ desse sábado (4/10), o secretário de Saúde comentou sobre o andamento das obras e as expectativas para as novas estruturas. 

Com o objetivo de desafogar o sistema de saúde e ampliar o atendimento especializado no interior do estado, foram retomadas as construções de cinco hospitais nas cidades de Teófilo Otoni, Vale do Mucuri; Divinópolis, Centro-Oeste; Sete Lagoas, Região Central do estado; Governador Valadares, no Vale do Rio Doce; Conselheiro Lafaiete, Região Central. A princípio, estava previsto um hospital regional em Juiz de Fora, na Zona da Mata, mas com a justificativa de inviabilidade da construção, o valor será destinado para outros aparelhos da saúde.

De acordo com o Governo de Minas, com os cinco hospitais regionais, serão cerca de 1.100 novos leitos, com investimento de cerca de R$ 350 milhões nas obras de construção. Os valores destinados aos hospitais são originados de recursos do Tesouro Estadual e do Acordo Judicial de Brumadinho, referente ao rompimento da barragem em 2019. Ao EM Minas, Baccheretti comentou sobre as conclusões das obras, que estão atrasadas em relação aos prazos iniciais. 

Confira a seguir os principais trechos da entrevista. O conteúdo também está disponível no canal do Portal Uai no YouTube.   

Foram 7 anos como médico do SUS. Você tem um trabalho de carreira na saúde em Minas Gerais, foi presidente da Fhemig, presidente do Hospital Júlia Kubitschek. Essa sua trajetória foi importante para hoje você estar à frente da Secretaria de Saúde do Estado?

Sem dúvida o que eu sou hoje como gestor, meu olhar de entender a ponta, fez toda diferença. Essa minha vivência faz toda diferença, especialmente com a equipe que eu tenho, muito capacitada. Essa forma de trabalho surte um efeito positivo.

Qual é o grande desafio hoje da Secretaria de Saúde do nosso estado?

Em 4 anos e meio, os desafios foram mudando. Nós fomos vencendo também algumas etapas. Começou na pandemia. Eu entrei em março de 2021, ali era a pandemia, era o nosso desafio. Depois vieram as cirurgias eletivas, que sem dúvida nenhuma, o Opera Mais transformou. Hoje nós estamos batendo recordes de cirurgias eletivas, mais de 1 milhão por ano. Então cirurgias eletivas já foi um desafio vencido. 

Hoje, eu acho que o desafio que nós temos é atender mais rapidamente os pacientes de urgência e emergência no nosso estado, especialmente as fraturas. São um problema hoje os acidentes de moto, acidentes de carro em grandes centros urbanos e nas estradas, e muitas vezes os pacientes demoram a conseguir [atendimento].

Então esse é o próximo desafio que nós estamos atacando agora, certamente será o último grande legado que deixaremos com os hospitais regionais e o novo hospital da Fhemig aqui em Belo Horizonte. Mas no somatório, é poder atender mais rapidamente e resolver os problemas da urgência e emergência do nosso estado.

O fechamento do Hospital Maria Amélia Lins, com a divisão dessas cirurgias ortopédicas nas outras unidades, inclusive na região metropolitana, em Sabará. Isso também tem sido um desafio? Como fazer para que as pessoas sejam atendidas, para que a espera não seja grande? Existe um planejamento?

Existe. Mudar do que sempre foi feito sempre é muito difícil. Temos vários interesses, desde o sindicato, mas também o senso comum. E nós sempre fomos inquietos. A gente acha que a Fhemig pode fazer mais pela população. Então, o Hospital Maria Amélia Lins, a nossa ideia é que o primeiro tempo cirúrgico no [Hospital] João XXIII seja ampliado, ou seja, a gente possa tratar no João XXIII do início ao fim uma fratura que chega lá.

O Hospital Júlia Kubitschek se somou a este processo. Nunca foram feitas cirurgias ortopédicas lá no Barreiro, uma região populosa, 350.000 habitantes moram ali. Então temos um hospital ortopédico para fazer lá. E Sabará depende exclusivamente de Belo Horizonte. Até Lagoa Santa, que está um pouco mais distante. A gente está levando para esses blocos ociosos para que o Hospital Maria Amélia Lins possa fazer 500 novas cirurgias.

O Tribunal de Contas nos pediu algumas etapas, estamos cumprindo e, dessa maneira, sairemos de 250 cirurgias do Hospital Maria Amélia Lins para 1.000 cirurgias, porque nós absorvemos essa demanda, ampliamos a demanda dos nossos próprios hospitais.

Agora falando um pouquinho sobre os hospitais regionais. Em 2019, parece que eram seis hospitais regionais com obras paradas. A gente tem Juiz de Fora, Governador Valadares, Divinópolis, Sete Lagoas, Teófilo Otoni e Conselheiro Lafaiete. A Secretaria de Saúde também está trabalhando para colocar esses hospitais regionais em funcionamento? 

A obra é super importante, mas fazer aquele hospital funcionar é um desafio ainda maior. Em Teófilo Otoni, teremos o Instituto Mário Penna que venceu, já estamos em tratativas finais. Provavelmente no início do ano [2026] já teremos os primeiros pacientes. E lá, dos hospitais regionais, será o maior deles, mais de 420 leitos, vai revolucionar a região do Jequitinhonha e Mucuri, o Nordeste Mineiro. E Divinópolis, com o Hospital Universitário vinculado à Universidade Federal de São João del Rei, que não tem um campus próprio. Então é uma parceria com o Governo Federal que vai fazer muito efeito. Mas ainda no começo do ano que vem, Sete Lagoas, Governador Valadares e, por último, Conselheiro Lafaiete. Estes hospitais vão transformar a saúde dessas regiões, sem dúvida nenhuma.

A dengue é uma preocupação ainda do estado? 

Como temos três sorotipos circulando ao mesmo tempo: tipo 1, tipo 2 e tipo 3, nós temos uma chance maior de mais uma epidemia no próximo ano. É sempre bom dizer: nós sempre nos preparamos para o pior. Se não vier o pior, é que surtiram um efeito positivo as nossas ações de forma premeditada. Lançamos o nosso plano de enfrentamento de arboviroses já em setembro. 

E tem o Vigidrone, que é um projeto com drones para vigiar. É uma ação crucial?

É uma ação crucial e inovadora. Minas é o único estado que fez isso em todo o seu território. E o drone tem duas ações muito importantes: a primeira, ele mapeia e fala para o agente de endemias onde tem um foco possível para que ele faça uma visita assertiva. Ele avisa: "Olha, pode ir lá, ou ali tem um entulho naquele terreno". E, por fim, além dele avisar e mapear o risco, ele mira e acerta uma pastilha de larvicida. Então, se ele achar locais de difícil acesso, ele pode já jogar o larvicida, ou em lugares onde não têm nenhum morador, uma casa abandonada, alguém que esteja viajando. Está surtindo, neste ano, um efeito positivo, a gente espera para o próximo ano da mesma maneira.

Minas Gerais é uma referência no Brasil? 

Virou uma referência. O novo manual de arbovirose do Governo Federal fala de inovações. E nós, Minas Gerais, somos um estado que será analisado e pesquisado com os efeitos dos drones e certamente vai virar uma política nacional.

E sobre a vacinação, tem os vacimóveis, tem a ida nas escolas, isso também tem surtido efeito? Como está a questão da vacinação no estado?

Está melhorando muito. Já vencemos a queda desde 2016, onde vimos uma queda progressiva, que se intensificou com a pandemia. Vencemos já o papel das fake news, da desinformação na época de vacinação da Covid. Hoje estamos muito mais próximos de 2016 do que estávamos alguns anos atrás. Tirando a vacina de varicela, que é uma falta do insumo internacional, estamos batendo recordes de vacinação acima de 90%. Os vacimóveis e a vacinação nas escolas fazem toda a diferença.

A febre maculosa é uma preocupação?

É uma preocupação anualmente. Não é um surto, ela sempre acontece. Mas febre maculosa significa que temos o carrapato estrela, que pode contaminar e, por isso, temos que orientar, nessa época de seca, pessoas que estão em áreas rurais.

E a Casa de Saúde Padre Eustáquio? Como está?

É um complexo hospitalar. Aquele é o maior legado hospitalar que deixaremos. Vamos pegar quatro hospitais antigos, com mais de 90 anos, a maior parte deles inconformes, cheios de problemas, para fazer o hospital mais moderno do Brasil. Com ressonância, com oncopediatria, teremos serviço novo, leucemias, cirurgias pediátricas, novo laboratório central e teremos apartamentos do SUS. Lá teremos 130 apartamentos e o primeiro hospital preparado para pandemias. Ele pode dobrar o número de leitos de uma hora para outra. Ou seja, estamos entregando, aprendendo com a pandemia, um hospital de 2,3 bilhões de reais de investimento. 

Para o acesso da população ao hospital na Região Oeste, tem um planejamento?

Isso será discutido. A área hospitalar é muito fácil no deslocamento dos profissionais de saúde que moram por ali, boa parte deles. Mas a demanda geralmente vem de transferência por ambulâncias e boa parte da região metropolitana. Lá temos a linha 1 do metrô e a linha 2 que será instalada ali. Temos a Avenida Amazonas e a Via Expressa. Teremos um fluxo muito facilitado. E o município já sabe da necessidade de melhorias viárias no entorno da Gameleira. Mas vejo só pontos positivos, teremos aí um novo complexo hospitalar em Belo Horizonte, o mais moderno do Brasil.

Minas Gerais está com mais de 5.000 unidades básicas de saúde para atender esses 853 municípios. É um número suficiente para a quantidade de cidades e para a população que a gente tem no estado?

Nós temos um objetivo de ter 100% de cobertura. Estamos em 97%. Estamos quase lá. Então, em número de unidades básicas de saúde, falta muito pouco. Nós estamos neste momento, junto com os municípios, construindo mais de 300 novas UBS. Parte para ampliação, para chegar aos 100%. A outra parte para melhorar: temos UBS sem acessibilidade, alugadas. Então, temos uma cobertura ótima, mas a gente tá com o objetivo de 100% e vamos chegar lá.

O Hospital João XXIII é uma referência no setor de queimados em Minas Gerais. Esse atendimento evoluiu bastante de 2019 para cá?

É isso. Faz parte da minha vivência como presidente da Fhemig. Eu lembro que eu ficava lá sempre tendo que absorver o estado inteiro de queimados. O João XXIII tem uma limitação física e até médios queimados poderiam ser tratados no interior. É o que fizemos. Nós criamos a nossa rede de queimados. Hoje temos 16 hospitais do interior aptos a abrir atendimento de queimados. E o João XXIII vai ficar com os grandes queimados, politraumatizados associados, que só lá têm condições de tratar. Interiorizamos esse tratamento, perto de casa é melhor para o paciente, para os familiares, para a recuperação. E, especialmente, a gente utiliza melhor o nosso leito aqui em Belo Horizonte.

E a hemodiálise para o paciente que precisa em Minas? Também houve um avanço na infraestrutura?

Teve um paciente nos emocionou muito no dia da abertura da hemodiálise em Minas Novas. Ele fazia em Diamantina, era da zona rural. Ele demorava cerca de cinco horas para chegar, fazia quatro horas de sessão, esperava todos acabarem, e mais quatro ou cinco horas para voltar. Gastava cerca de 17 horas, três vezes por semana: terça, quinta e sábado. Um desgaste enorme.

A partir do momento em que levamos para Minas Novas, ele falou que poderia realizar um sonho: voltar a tomar um suco na feira com a filha. E agora estamos levando para diversos municípios mineiros a hemodiálise para que a gente consiga dar mais qualidade de vida.

Lembrando que estamos crescendo nos transplantes. O transplante, passamos pelo Setembro Verde, é a forma definitiva de sair da hemodiálise. Estamos investindo no controle, na humanização da hemodiálise, e também aumentando o transplante para tirar essas pessoas desse processo desgastante.

O setor de transplantes em Minas Gerais ainda continua sendo onde está concentrado o maior número de transplantes feitos?

Temos MG Transplante, a maior parte fica em Belo Horizonte. Voltamos a fazer transplante de pulmão no Hospital das Clínicas, mas estamos crescendo no interior para córnea e rim, interiorizando boa parte. Nosso problema hoje é a taxa de doação de órgãos, de conversão em doação. Metade dos familiares e amigos dos potenciais doadores nega a doação. É importante dizer para cada um que nos escuta: fale com sua família, fale com seu amigo que você é doador de órgãos. Uma pessoa é capaz de salvar cinco vidas. Se aumentarmos a taxa de conversão de doação, sem dúvida a nossa fila seria menor ainda, especialmente de córnea e rim, que são as maiores filas do estado.

Como a IA pode auxiliar a Secretaria de Saúde? Tem algum plano ou projeto para ampliar a saúde por meio do digital?

Temos. Essa é, de fato, a maior transformação silenciosa do SUS. Silenciosa porque não é um grande hospital, não é um grande posto de saúde. É a organização de todo o arcabouço que faz o SUS funcionar. Temos a Rede Mineira de Dados em Saúde, a RMDS, que está sendo construída. Todos os dados de um usuário do SUS, mesmo indo ao setor privado, vão se concentrar como antigamente seria um prontuário único. Não é um prontuário, é informação para que a gente possa acessar. Se você foi a um hospital particular, clínica privada ou atendeu no SUS, todo o seu percurso será acessado numa nova consulta. Saberemos por onde você passou e quais exames fez. Isso reduz o custo de repetir exames e facilita a tomada de decisão. 

Por exemplo, garantir que uma mamografia alterada seja proativamente reconhecida e já marcada a etapa de biópsia, sem precisar voltar ao posto de saúde para tentar passar para a nova etapa, faz isso de forma automática. A IA faz parte desse processo. É uma organização de todo esse fluxo. Estamos fazendo um grande investimento milionário que certamente vai mudar a forma de interagir com o usuário e garantindo um princípio fundamental do SUS: a integralidade. Garantir do início ao fim, no momento oportuno, cada etapa entre consulta, exame e tratamento nós vamos garantir forma rápida utilizando tecnologia.

Já tem um prazo para ter essa unificação das informações?

A expectativa é 2026. Estamos trabalhando nisso há três anos. Já temos teleconsultoria, utilização de ferramentas de telessaúde, que já está acontecendo, são 130.000 teleconsultas que podemos utilizar no estado. Todas as regiões remotas que não têm acesso a um especialista conseguem um médico para discutir com outro médico aqui do Hospital das Clínicas em Belo Horizonte, ou na UFMG ou Feluma e tomar a decisão. E nós temos bons indicadores, apenas 17% das teleconsultorias geraram consulta presencial. Outros 83% foram resolvidos sem o paciente se deslocar, com taxa de aprovação próxima de 90%. Ou seja, já temos o que está acontecendo hoje e temos um grande projeto.

Tem uma demanda muito grande no hospital João Paulo II. Existe algum plano para melhorar tanto para os pacientes quanto para os funcionários? Tem um anexo que ainda está em obras. Qual é a situação do planejamento?

O João Paulo II é o nosso hospital estadual pediátrico, Ele vai se juntar ao Hospital Padre Eustáquio, onde será uma grande referência. Hoje, o João Paulo II não faz cirurgias pediátricas. O Hospital Alberto Cavalcanti não trata criança pediátrica, é pediatria oncológica. O João Paulo II trata pediatria, mas não trata oncologia. Quando juntarmos os dois hospitais, a oncopediatria será tratada no SUS.

Até lá, que é 2029, 2030, vamos terminar aquele prédio em anexo. O recurso é garantido, já está na fase final dos projetos complementares, e não vamos deixar de investir. Até lá precisamos melhorar o João Paulo II, como estamos fazendo. Depois, quando o João Paulo II for para o novo hospital, Padre Eustáquio, o João XXIII vai incorporar aquele prédio para ampliar. Então, todo recurso investido é bom para agora e para o futuro.

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Qual é o seu maior orgulho dessa média de 4 anos à frente da saúde do nosso estado?

Nós estamos conseguindo levar saúde de qualidade para os 853 municípios. Dia após dia cuidamos melhor do paciente, gerando qualidade de vida, de forma empática. O paciente hoje, para pegar um medicamento, não precisa sair de casa para longe; ele consegue medicamento perto de casa. Temos Samu em todo o estado, que antes não existia em algumas regiões. A rede hospitalar no interior está fazendo cirurgias eletivas, a vacinação está crescendo. Levar saúde de qualidade para cada cantinho mineiro, e não fica concentrado apenas na capital ou grandes centros, isso demonstra um olhar coletivo de saúde. Fico muito orgulhoso de, junto com minha equipe, poder transformar a saúde de forma conjunta nos 853 municípios.

 *Com informações de Sílvia Pires e Vinícius Prates

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