EM INVESTIGAÇÃO

MG: idosos que comeram ‘falsa couve’ tóxica continuam internados

Pacientes de 60 e 64 anos estão em tratamento na Santa Casa de Patrocínio. O mais novo está grave e em coma induzido, o mais velho está estável

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Dois idosos que foram internados por intoxicação depois de comer Nicotiana glauca, uma planta tóxica conhecida como “falsa couve”, em Patrocínio, na Região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, continuam hospitalizados. Os dois estão recebendo tratamento na Santa Casa da cidade desde a última quarta-feira (8/10). Um deles, de 60 anos, está em estado grave e respirando por aparelhos. O outro, de 64 anos, está estável, mas segue na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital. Claviana Nunes da Silva, de 37 anos, morreu. 

No dia que a família foi internada, o Corpo de Bombeiros informou que quatro pessoas consumiram a planta conhecida popularmente como “fumo-bravo” e apresentaram sintomas de intoxicação. O vegetal foi encontrado nas proximidades da cozinha da residência, reforçando a hipótese de erro na identificação da planta durante o preparo da refeição. 

Segundo os bombeiros, todos haviam ingerido a planta confundida com couve no almoço. Uma criança de 2 anos também foi internada. Ela não ingeriu a planta, mas ficou em observação médica.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Patrocínio, na tarde desta terça-feira (14/10), o paciente de 60 anos está grave e permanece em coma induzido, respirando por aparelho. Já o paciente de 64 anos está estável, mas segue internado na UTI para controle da pressão arterial. 

Ainda segundo o Executivo municipal, a secretaria, por meio da Vigilância Sanitária e Epidemiológica, tem acompanhado o caso desde o início da ocorrência. Amostras de alimentos e materiais biológicos foram coletadas e encaminhadas para análise laboratorial, com objetivo de identificar o agente causador da intoxicação. 

“O município reforça que todas as medidas preventivas e de investigação continuam em andamento, e novas informações serão divulgadas assim que confirmadas pelos órgãos competentes”, afirmou a Prefeitura de Patrocínio.

Óbito 

Cinco dias depois que a família foi internada, a Secretaria de Saúde de Patrocínio informou que Claviana Nunes da Silva, morreu na noite dessa segunda-feira (14/10). No dia que eles confundiram a planta com couve a mulher, teve uma piora súbita e entrou em parada cardiorrespiratória (PCR). De acordo com o Corpo de Bombeiros, foi necessário realizar manobras de reanimação e a vítima foi levada ao Pronto-Socorro Municipal, onde teve o quadro revertido. 

Claviana foi sepultada nesta terça-feira (14/10), no Cemitério Municipal de Guimarânia, a 28 quilômetros de distância de Patrocínio. O velório aconteceu por volta das 9h, na Funerária do Baiano. Ela deixou dois filhos e o marido. 

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que está instaurado procedimento policial para apurar as circunstâncias do possível envenenamento. Segundo a corporação, os levantamentos preliminares indicam a possibilidade de envenenamento acidental, ocorrido durante o preparo do almoço, quando a planta foi confundida com couve.

O que é a Nicotiana glauca?

A Nicotiana glauca é uma planta da mesma família do tabaco, originária do norte e nordeste da Argentina e da Bolívia. Atualmente, está naturalizada em várias regiões do sul da América Tropical, Estados Unidos, México, Austrália, Caribe e em áreas secas do Velho Mundo. No Brasil, ocorre de forma cultivada ou ruderal, em ambientes secos ou úmidos, principalmente em quintais, beiras de estrada e áreas rurais.

A planta é considerada invasora, por se dispersar rapidamente e alterar ecossistemas naturais, ameaçando a biodiversidade nativa. É conhecida por diferentes nomes populares: “falsa couve”, “charuteira”, “couve-do-mato” e “erva-de-charuto”. A confusão com a couve comum aumenta o risco de intoxicação.

Quais os sintomas de intoxicação?

  • Náuseas e vômitos logo após a ingestão

  • Tontura e sudorese intensa

  • Taquicardia seguida de queda brusca da frequência cardíaca

  • Fraqueza muscular e dificuldade para respirar

  • Perda de consciência e parada cardíaca

O que fazer em caso de intoxicação?

Ao perceber sintomas após a ingestão de plantas desconhecidas, é fundamental procurar atendimento médico imediato, levando, se possível, uma amostra da planta para facilitar a identificação. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Patrocínio para mais informações sobre o estado de saúde das vítimas e aguarda posicionamento.

Por que a planta é tóxica?

A Nicotiana glauca contém alcaloides piridínicos, como anabasina, nicotina, anatabina e nornicotina, que agem sobre o sistema nervoso e afetam funções vitais como batimentos cardíacos, respiração e controle muscular. Alguns desses metabólitos podem levar à paralisia respiratória e até à morte.

Segundo o professor de química farmacêutica da PUC Minas, Guilherme Rocha, a planta produz metabólitos primários, necessários para fotossíntese e sustentação, e metabólitos secundários, que atuam na defesa contra predadores ou atração de polinizadores. Esses metabólitos secundários, como os alcaloides, podem ser extremamente tóxicos e interferir diretamente no metabolismo do corpo humano.

Ele também ressalta que, dependendo da quantidade ingerida, da concentração do alcaloide e do peso da pessoa, mesmo pequenas doses podem ser letais. Ao contrário de alguns alimentos, o cozimento ou refogado não destrói os alcaloides, mantendo a planta perigosa mesmo após o preparo. Além disso, a Nicotiana glauca é muito comum em áreas rurais no Brasil e já causou confusões graves com a couve, incluindo mortes documentadas.

A intoxicação pela Nicotiana glauca ocorre em duas fases: inicialmente, os alcaloides causam uma superestimulação dos músculos e órgãos, levando a taquicardia, hipertensão, náusea, tontura e sudorese intensa. Em seguida, os receptores nervosos entram em fadiga, provocando queda brusca da frequência cardíaca, paralisia muscular e respiratória e, em casos graves, parada cardíaca.

A falsa couve pode ser facilmente confundida com a couve comum, mas algumas características ajudam a diferenciá-la. Ao contrário da couve, que cresce de forma mais rasteira, a Nicotiana glauca desenvolve-se como um pequeno arbusto. Além disso, apresenta flores amarelas e partes com fluorescência, características ausentes na couve tradicional. Para garantir a identificação correta, é recomendado que a planta seja examinada por um biólogo ou especialista em farmacognosia.

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Casos de intoxicação por Nicotiana glauca já ocorreram no Brasil. Em 2012, em Santa Luzia (MG), um homem morreu e quatro familiares ficaram internados após comerem a planta refogada, confundindo-a com couve. Em 2018, em Pio IX (PI), seis pessoas, incluindo duas crianças, foram hospitalizadas depois de ingerirem suco com folhas da planta; todas receberam alta.

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