Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves, prestou depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais, nesta quarta-feira (19/11), sobre as circunstâncias da morte da filha e o preconceito que ela sofria por ser uma mulher trans. Alice, de 33 anos, foi agredida no dia 23 de outubro no Bairro Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e morreu em 9 de novembro por complicações dos ferimentos sofridos, conforme relatado pelo pai.
Leia Mais
Em depoimento, Edson deu detalhes sobre a vida com a filha, com quem morava. Ele afirmou que Alice não teve uma vida fácil, “pois era muito insultada em vários lugares por onde passasse, tanto na faculdade quanto no transporte público”. Edson disse que a filha batalhou para concluir a faculdade de estética e cosmética e já havia sofrido agressões em outras circunstâncias.
- 'Transexual não tem direito de viver em paz?', desabafa pai de mulher morta
- Caso Alice: "A lei vai se encarregar dessas pessoas", diz pai
O pai de Alice relatou que ela sofria preconceito de motoristas de táxi ou de transporte por aplicativo e, por isso, “sempre lhe dava dinheiro em espécie e transferia dinheiro para a conta dela, no intuito de evitar que ela passasse por mais dificuldades quando saía de casa”.
Dia da agressão
Na madrugada do último dia 23, Alice foi brutalmente agredida no Bairro Savassi, em BH. De acordo com investigações em andamento da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o ataque teria sido motivado por uma conta de R$ 22 não paga pela vítima, que teria consumido bebida em uma tradicional pastelaria, localizada próxima à Avenida Getúlio Vargas. No entanto, os investigadores da corporação acreditam que o crime também possa ter caráter transfóbico.
Em depoimento, Edson contou que Alice estava com um certo receio de sair no dia. O pai da jovem relatou ainda que a filha gostava de frequentar a região da Savassi pela facilidade de conseguir transporte para voltar para casa e “por ser frequentada pelo público LGBT, ela se sentia mais confortável na região”.
No dia da agressão, o pai de Alice afirmou que viu que a filha estava machucada na madrugada, quando ela já havia chegado em casa e estava deitada. Edson relatou que ela perdeu cerca de 13 quilos desde o dia 26 de outubro, três dias depois das agressões, até o dia da morte dela.
À PCMG, Edson relatou que, “em decorrência do estado físico da filha, ele priorizou cuidar da saúde dela e somente tiveram tempo de registrar a ocorrência no Decrin no dia 5 de novembro”. Antes do registro, ele afirmou que fez uma denúncia por meio do 181.
Sobre a descrição dos agressores dadas à polícia por Alice, Edson disse em depoimento que acredita que a filha “se sentiu muito temerosa em revelar as características físicas reais dos autores”, pois ela os conhecia por ser frequentadora de bares da Savassi, onde os suspeitos trabalham. Edson também relatou que estava com medo e se sentiu sozinho. Ele se diz temeroso e inseguro pelo fato de o caso ter tido uma grande repercussão e os suspeitos ainda não terem sido presos.
A PCMG confirmou que os dois principais suspeitos de terem cometido as agressões são funcionários da pastelaria onde Alice havia consumido na noite do crime. Até o fechamento desta reportagem, eles ainda não haviam sido presos.
Morte
Após a agressão sofrida, Alice perdeu a consciência e foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Em um primeiro momento, ela foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento Centro-Sul. Dez dias depois, em 2 de novembro, foi levada de ambulância para o Pronto Atendimento do Hospital da Unimed, em Contagem, na região metropolitana. Na unidade de saúde, exames de imagem apontaram fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo.
Em 8 de novembro, os médicos diagnosticaram uma perfuração no intestino, possivelmente causada por uma das costelas quebradas ou, segundo suspeita do pai da vítima, Edson Alves Pereira, agravada pelo uso de anti-inflamatórios após a agressão. Com o diagnóstico, Alice foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas não resistiu à infecção generalizada e morreu.
Manifestação
Ao Estado de Minas, a irmã de Alice, Gabrielle Martins informou que uma manifestação para pedir justiça será realizada no próximo domingo (23/11), quando completa um mês desde a agressão sofrida. O movimento vai ocorrer às 14h em frente ao estabelecimento onde os suspeitos de agredirem Alice trabalham, na Rua Sergipe com Avenida do Contorno, no Bairro Savassi, Região Centro-Sul de BH.
