Júlio Moreira

O Enola Gay foi o bombardeiro B-29 Superfortress da Força Aérea dos Estados Unidos responsável por lançar a primeira bomba atômica usada em combate, sobre Hiroshima, às 8h15 da manhã de 6 de agosto de 1945. Batizada com o nome da mãe do piloto, o então tenente-coronel Paul Tibbets, a aeronave foi construída pela Boeing e fazia parte do 509º Grupo Composto, unidade secreta baseada na ilha de Tinian, no Pacífico, criada exclusivamente para realizar missões nucleares do Projeto Manhattan.

O avião media 30 metros de comprimento, tinha 43 metros de envergadura e era capaz de atingir velocidades superiores a 570 km/h. Para a missão, o Enola Gay foi modificado com a remoção de blindagens e armamentos desnecessários, a fim de reduzir peso e permitir o transporte da bomba “Little Boy”, com cerca de 4 toneladas e 3 metros de comprimento, carregando aproximadamente 64 kg de urânio-235.

A tripulação contava com 12 homens, incluindo o copiloto Robert Lewis; o bombardeador Thomas Ferebee, responsável por acionar o lançamento da bomba; o navegador Theodore Van Kirk; o técnico de armamento Morris Jeppson; e Jacob Beser, o único técnico presente tanto na missão de Hiroshima quanto na de Nagasaki, três dias depois.

A explosão da bomba sobre Hiroshima, a cerca de 600 metros de altitude, causou uma devastação imediata. Estima-se que cerca de 70 mil pessoas tenham morrido instantaneamente, e dezenas de milhares nos meses seguintes, por envenenamento radioativo e queimaduras.

Por que a aeronave não foi atingida

Logo após o lançamento da bomba, o Enola Gay executou uma manobra previamente planejada: virou bruscamente 155 graus e acelerou em alta velocidade para se afastar da zona da explosão. A manobra foi calculada para permitir que o avião estivesse a cerca de 18 km de distância horizontal e mais de 9.000 metros de altitude no momento da detonação. Essa distância foi suficiente para escapar da onda de choque e da radiação térmica direta, embora os tripulantes tenham sentido a força do impacto alguns segundos depois.

Paul Tibbets relatou que, mesmo com a distância, a luz da explosão era tão intensa que ele pôde ver os ossos de sua mão no manche, como em um raio-X. O copiloto Robert Lewis escreveu no seu diário: “Meu Deus, o que fizemos?”.

O Enola Gay retornou ileso à base em Tinian após aproximadamente 12 horas de voo. Depois da guerra, a aeronave foi retirada de serviço e armazenada parcialmente desmontada por décadas. Em meio a pressões de veteranos e historiadores, passou por um processo de restauração que durou 20 anos. Desde 2003, está em exibição permanente no Steven F. Udvar-Hazy Center, anexo do Smithsonian National Air and Space Museum, próximo a Washington, D.C.

A exposição do avião causou forte controvérsia. Enquanto alguns veteranos o consideram símbolo da vitória e do fim da guerra, hibakusha (sobreviventes da bomba) e ativistas pela paz o veem como um lembrete doloroso da destruição causada por armas nucleares. Em exposições anteriores, o museu foi alvo de protestos por não apresentar de forma equilibrada os impactos humanos do bombardeios nucleares. Em exposições anteriores, o museu foi alvo de protestos por não apresentar de forma equilibrada os impactos humanos do bombardeio .

Três rostos por trás da bomba

Quem fez

J. ROBERT OPPENHEIMER Físico teórico e diretor científico do Projeto Manhattan, Oppenheimer liderou a equipe que desenvolveu a primeira bomba atômica nos laboratórios de Los Alamos, no Novo México. Ele ficou profundamente marcado pelo impacto de sua criação. Ao assistir ao teste bem-sucedido da bomba, em julho de 1945, citou uma frase do texto hindu Bhagavad Gita: “Agora me tornei a morte, o destruidor de mundos.”

Quem autorizou

HARRY S. TRUMAN Presidente dos Estados Unidos à época, Truman assumiu o cargo em abril de 1945 e recebeu os detalhes do projeto atômico pouco depois. Diante da recusa do Japão em se render, mesmo após a derrota da Alemanha, Truman autorizou o uso da bomba com o argumento de encerrar a guerra o mais rápido possível. “A bomba foi usada para encurtar a agonia da guerra e salvar a vida de milhares de jovens americanos.”

Quem lançou

PAUL TIBBETS Tenente-coronel da Força Aérea dos EUA, Paul Tibbets foi o piloto do Enola Gay, o bombardeiro B-29 que lançou a bomba “Little Boy” sobre Hiroshima às 8h15 da manhã. Anos depois, ele reafirmou que não se arrependia da missão. “Tenho a consciência tranquila. Foi algo necessário. Nós cumprimos uma missão.”

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