O gatinho Prapor (apelido comum para "subtenente") tornou-se um símbolo poderoso da resiliência em meio à guerra da Ucrânia. Ele foi resgatado por soldados da 13ª Brigada Kahrtia, que usaram um robô terrestre não tripulado, o mesmo usado para transportar suprimentos e evacuar feridos, depois de o felino passar meses nas trincheiras.
A decisão de evacuar Prapor veio após ele sofrer uma concussão e demonstrar sinais claros de estresse com os bombardeios constantes. O soldado Zhuk, que coordenou o resgate, relatou que os militares garantiam a alimentação do gato, "às vezes, eles não tinham comida suficiente para si mesmos, mas ainda assim alimentavam o gato."
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Agora, Prapor passa por reabilitação e deve ser adotado pelos soldados. "Ele merece receber o status de combatente. Passou muitos meses na linha de frente e merece ser elogiado e recompensado", brincou um oficial, destacando que essa missão de resgate de uma única vida inocente é apenas uma pequena parte de uma batalha muito maior: a de salvar os milhares de animais abandonados ou feridos em meio ao conflito.
A história de Prapor é apenas um vislumbre da imensa rede de resgate e reabilitação de animais que se formou na Ucrânia, onde civis e militares arriscam a vida diariamente para salvar companheiros de quatro patas presos na zona de conflito.
Abrigo e centro de terapia
Enquanto o gatinho militar se recupera, na devastada cidade de Kharkiv, centenas de felinos resgatados encontram refúgio no abrigo "Pequeno Príncipe". Mais do que um lar temporário, o local, supervisionado pelo Animal Rescue Kharkiv, se tornou um centro de ajuda mútua: os gatos ajudam as pessoas, e as pessoas ajudam os gatos.
No abrigo, que também resgata peixes de aquário e outros animais, cerca de 90% dos gatos são animais de estimação abandonados ou assustados por explosões. Eles reagem a dias de terror com medo e depressão, muitos se recusando a comer ou beber.
"Vemos como a interação com as pessoas as ajuda a se recuperar, a reconquistar a confiança e a redescobrir a vontade de viver", explicou Yaryna Vintoniuk, representante da organização, à agência de notícias EFE.
O vínculo é tão profundo que até os gatos ajudam uns aos outros. É o caso de Nastia, que chegou com parte do crânio destruída por uma explosão. Após ser salva pela veterinária Diana Galilova, Nastia se tornou uma cuidadora, consolando e abraçando outro gato que perdeu as duas patas dianteiras.
Vintoniuk, que perdeu um tio na linha de frente, é um dos voluntários no abrigo. Ele definiu o trabalho como uma "batalha para preservar nossa humanidade".
De estudante a heroína animal
Krystina viralizou resgatando animais em meio ao conflito
Ainda mais perto do perigo, uma mulher identificada apenas como Krystina personifica a bravura civil. Ex-estudante de arquitetura, ela dedica sua vida a salvar animais, transformando uma propriedade danificada em Podilsk no abrigo Under the Sun.
O trabalho de Krystina não se limita a receber animais. Ela realiza missões de resgate que a levam diretamente a zonas de guerra ativas. Enquanto bombardeios destroem casas e vilas, ela continua a se dirigir às áreas evacuadas ou sob ataque para salvar os animais deixados para trás.
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No abrigo, ela e uma pequena equipe de voluntários cuidam de cães traumatizados, garantindo que sejam esterilizados, vacinados e tratados. O desafio, porém, é constante. Como em todos os abrigos na Ucrânia, a escassez de ração é crítica, forçando-a a improvisar mingaus que mal resistem ao calor.
Como funciona o resgate animal na guerra?
- Gatos representam a maior parte dos animais acolhidos, muitos chegando estressados e deprimidos.
- Muitos gatos levam dias para sair dos cantos, recusando-se a comer e beber devido ao trauma das explosões. Exigem tempo, atenção e carinho para recuperar a confiança.
- Devido aos ataques contínuos, a adoção em cidades como Kharkiv é complexa, exigindo apoio internacional.
- Cães chegam com ferimentos graves, como a cadela resgatada pelo veterinário Jakub Kotowicz com uma bala alojada na coluna.
- Abrigos como o Animal Rescue Kharkiv resgatam cerca de 7.000 animais por ano. Já a UAnimals evacuou mais de 3.800 animais domésticos e selvagens, além de reconstruir abrigos. A PETA Alemanha resgatou mais de 300 animais em semanas no início do conflito. O veterinário Jakub Kotowicz (Fundação ADA) resgatou mais de 200 animais na fronteira polonesa em uma única ação.
- O apoio financeiro de organizações europeias e internacionais é vital para manter os abrigos funcionando e garantir a adoção no exterior
- Os resgates em "corredores humanitários" são extremamente perigosos, com relatos de bombardeios desrespeitando o cessar-fogo.
- Houve esforços internacionais (como os da WildLife Foundation) para resgatar leões, tigres e outros grandes felinos de zoológicos privados e cativeiros abandonados nas zonas de guerra (ex: Kharkiv e Sumy). Cinco leões, por exemplo, foram resgatados e levados para o Reino Unido após viverem em condições precárias.
- O Feldman Ecopark (Kharkiv) anunciou a possível necessidade de sacrificar mais de 6.800 animais no início da guerra devido à falta de logística e aos constantes ataques russos que mataram cerca de 100 bichos no local.
- O transporte e realojamento de animais selvagens exigem milhões de quilômetros de viagem, financiamento e coordenação internacional.