Após colocar a tornozeleira eletrônica cumprindo determinação do SFT que autorizou uma operação da Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que foi humilhado e que não há provas de que ele estaria ligado a uma tentativa de golpe de Estado. A declaração ocorreu em uma entrevista coletiva em Brasília, na manhã desta sexta-feira (18/7).
A operação foi autorizada por Moraes no âmbito da Petição 14129, cujo sigilo foi derrubado nesta sexta. Entre as medidas cautelares impostas ao ex-presidente estão o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de uso de redes sociais, recolhimento domiciliar noturno e restrições de contato com diplomatas e aliados.
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A PF apreendeu itens, como pen drive e celular do ex-presidente, bem como US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie. Também foi encontrada uma cópia impressa da petição da plataforma Rumble contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, nos EUA — parte de uma disputa judicial envolvendo remoção de conteúdo online.
“Meus advogados tomaram conhecimento do inquérito que gerou as [medidas] cautelares, aquele que meu filho está respondendo por estar nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro. Estou restrito à Brasília, com tornozeleira. Fizeram a busca e prisão em casa, pegaram R$ 7 mil e aproximadamente US$ 14 mil, tudo devidamente com origem. Então, no momento, é o novo inquérito. Eu estou também dentro dele. O inquérito do golpe é um inquérito político. Nada de concreto existe ali”, começou.
Ele afirmou que não tem qualquer ligação com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e que nem faria sentido ocorrer um golpe de Estado naquele domingo. “A própria Polícia Federal não me botou no 8 de Janeiro. O PGR foi além do que viu no inquérito, me botou no 8 de Janeiro, mas não tem prova de nada. Um golpe num domingo, um golpe sem sem Forças Armadas, sem armas, um golpe realmente de festim. Agora, o julgamento, eu espero que seja técnico e não político”, declarou.
Bolsonaro negou que tinha intenção de fugir do país ou pedir refúgio em alguma embaixada. “No mais, nunca pensei em sair do Brasil, nunca pensei em ir para embaixada. Mas as cautelares são em função disso. Eu não posso me aproximar de embaixada, eu tenho horário para ficar na rua e, no meu entender, o objetivo [da operação] é a minha suprema humilhação”, defendeu.
Taxas de Trump
Depois, Bolsonaro afirmou que se colocou à disposição para resolver o impasse econômico entre Brasil e Estados Unidos e que só em solo norte-americano poderia se proteger. “E nossa sobrevida econômica, como é que tá? Cada vez mais se afastando de países de primeiro mundo. Poxa, vai sufocando a gente, né? A minha defesa é ali. Meu filho está nos Estados Unidos, exatamente por democracia, por liberdade”, apontou.
Questionado se vai respeitar a decisão do STF, ele disse que não poderia responder. “Por cinco vezes o presidente dos Estados Unidos citou o meu nome. Eu me coloquei à disposição [para negociar]. Em 2019, o Trump era presidente e queria impor uma tarifa no aço e alumínio. Eu resolvi, não foi tarifado. O mundo todo está com tarifas, só o Brasil não tá negociando”, apontou.
Pen drive e dólares
Bolsonaro disse que não fazia ideia do conteúdo do pen drive encontrado no banheiro da casa dele. Já sobre os dólares apreendidos, ele explicou que sempre manteve dinheiro em espécie em casa. “Tem mais ou menos US$ 14 mil. Era para tudo. Poxa, eu sempre tive US$ 10 mil em casa, pô. Tudo com o recibo do Banco do Brasil”, garantiu.
Depois ele volta a negar que tinha intenção de deixar o país, mesmo que ache que “sair do Brasil é a coisa mais fácil”, e que nunca conversou com ninguém sobre o assunto. Nada me coloca num plano golpista que não existiu, nem os outros. Eu acho um exagero. Eu sou um ex-presidente da República, tenho 70 anos de idade. Suprema humilhação. É a quarta busca e a prisão em cima de mim”, acusou.
Sobre a minuta do golpe, Bolsonaro apontou que se tratava de um pedido de Estado de sítio, um instrumento para dar ao Presidente da República poderes excepcionais e temporários num período de crise. “O que foi falado foi estado de sítio. O que é Estado de sítio? Você convoca os conselhos da República e da Defesa, depois manda esse projeto para o Congresso decidir se você pode ou não assinar o decreto”, explicou.
Perseguição
Questionado se algum passo foi dado, Bolsonaro disse que a repórter queria “criminalizar um pensamento”. Ainda dizendo que está sendo perseguido, ele disse que teme que o filho Eduardo volte ao Brasil e tenha “problemas”.
“Não tenho a menor dúvida que é perseguição. Que provas tem contra mim? Você já deve ter visto a peça do PGR. Não tem nada. São só suposições. Quando se fala o criminal, você tem que ter algo concreto Eu não me reuni com marginal no Morro do Alemão, como Lula fez”, acusou.
Bolsonaro também foi questionado sobre possíveis tentativas de articular com os Estados Unidos contra a democracia brasileira. “Você acha que o parlamento americano ia fazer alguma coisa contra a democracia brasileira? Pelo amor de Deus. Ele não tá lá no parlamento da Venezuela, nem do Brasil”, disse, insinuando que o atual governo não respeita a democracia.
Durante a entrevista, ele negou que tinha interesse em viajar para os Estados Unidos para encontrar o filho, mas que queria fazê-lo para dialogar com Trump, em meio ao tarifaço. “Se me der o passaporte, se o governo tiver interesse, eu converso, eu busco uma audiência com o presidente do Estados Unidos. Agora, hoje em dia, o Lula não conversa com o Trump”, apontou.
Falando sobre Eduardo, Bolsonaro disse que ele poderia ser preso por 12 meses, e que, por isso, ele procurou os EUA. “Ele tá junto ao parlamento americano. Estados Unidos é o país que projege a democracia e liberdade. Não tem cabimento”, defendeu.
Falando sobre tarifaço, ele negou que tenha qualquer ligação. “A iniciativa do tarifaço, da tarifa de 50%, foi do presidente dos Estados Unidos. Eu tenho bom relacionamento com o parlamento americano, tenho bom relacionamento com gente da Casa Branca. Em 2019, não teve tarifa no aço, nem no alumínio. Porque eu conversava com o presidente Trump. Se eu fosse presidente, seria algo parecido com a Argentina, onde 80% dos produtos têm tarifa zero”, declarou.
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Perguntando sobre os próximos passos, ele disse apenas que ia para a sede nacional do PL e que cancelou um almoço com embaixadores. “Eu tenho mais contato com o embaixador do que o próprio ministro das Relações Exteriores”, pontuou.