O governador Romeu Zema (Novo), pré-candidato à Presidência da República em 2026, voltou a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a política externa do governo federal. Em vídeo publicado nas redes sociais, na manhã desta quarta-feira (6/8), Zema afirmou que Lula está “com a popularidade despencando em queda livre” e teria adotado uma estratégia para recuperar apoio popular, escolhendo como alvo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A declaração ocorre em meio ao debate sobre o chamado “tarifaço” imposto pelo líder norte-americano, diante do qual Lula tem adotado o discurso de reciprocidade nas relações comerciais.
No vídeo, Zema também volta a associar as irregularidades nas aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ao petista, omitindo que as fraudes têm origem desde 2019, ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL), aliado político do mineiro.
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“Agora esquece, o escândalo do INSS é dez vezes maior do que tudo aquilo [mensalão e petrolão]. Noventa bilhões roubados dos aposentados. E foi aí que nasceu o plano. Criaram um inimigo externo grande o suficiente para desviar o foco da corrupção e do desastre que Lula vem causando ao Brasil”, disse.
Segundo ele, o governo federal “começou a provocar os Estados Unidos, cutucou o presidente Trump, se meteu com a imprensa americana e ainda teve a Janja chamando quem negocia com os americanos de ‘vira-lata’”.
Apesar das críticas de Zema, na última quarta-feira (30), o presidente Lula afirmou que governo brasileiro encara com seriedade a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros, mas ressaltou que isso não significa adotar uma postura submissa diante das medidas norte-americanas.
De acordo com o presidente Lula, o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará ser tratado como um país inferior. Ele reconheceu o peso econômico, tecnológico e militar dos Estados Unidos, mas afirmou que essa força inspira preocupação e não temor.
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O presidente Donald Trump anunciou no início de julho a decisão de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o país norte-americano. Ele justifica a decisão pelo tratamento dado pelo governo brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro e por considerar a relação comercial entre os dois países "desequilibrada".
O decreto foi oficializado por Trump na semana passada e passa a valer a partir de hoje. O decreto trouxe quase 700 exceções, o que livrou da taxação segmentos como o aeronáutico, o energético e parte do agronegócio. Itens como carne bovina, café e frutas, no entanto, devem sofrer impactos significativos.
Brics
O governador também voltou a criticar a aproximação de Lula com o Brics, bloco formado por 11 países, incluindo Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã e Egito. Para Zema, o grupo é composto “só por ditaduras e países autoritários” e a adesão plena do Brasil teria rompido a “parceria histórica com os Estados Unidos”.
“Lula se enfiou de vez nos Brics. Rússia, China, Irã, só ditaduras e países autoritários. Provocou, provocou e provocou. Resultado? As relações com os Estados Unidos foram pro buraco. ‘Ah, mas não dava pra prever’, você pode estar pensando. Dava sim. Isso é política internacional básica. Lula sabia que esse caminho romperia a nossa parceria histórica com os Estados Unidos. E foi exatamente o que aconteceu. Agora me responde: você entendeu o plano?”, questionou.
Recentemente, Zema já havia defendido a saída do Brasil do Brics, argumentando que o bloco não tem relação cultural com o país e classificando-o como “um bloco ideológico recheado de ditaduras”.
Apesar das críticas, os países do Brics são importantes parceiros comerciais de Minas Gerais e do Brasil. A China, que nos últimos anos tem buscado fortalecer o grupo, foi o destino de 33,7% das exportações mineiras no primeiro semestre deste ano, segundo relatório da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedese). Entre janeiro e junho, Minas exportou US$ 7,3 bilhões para o país asiático, principalmente minério de ferro (US$ 4,1 bilhões), soja (US$ 1,6 bilhão) e ferroligas (US$ 444 milhões).
A China também liderou as importações mineiras, respondendo por 25,8% das compras do estado no período. Além disso, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) negocia um empréstimo de US$ 200 milhões com o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), ligado ao Brics e presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O recurso, articulado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) junto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), será destinado a projetos em pequenos e médios municípios.
As declarações de Zema reforçam a escalada de críticas que o governador vem direcionando ao governo federal, sobretudo em temas de economia e política internacional. O movimento integra a estratégia dele para consolidar a imagem de antagonista à gestão petista. Como mostrou levantamento exclusivo do Estado de Minas, o governador tem elevado o tom contra Lula, aproximando-se de pautas bolsonaristas e intensificando sua agenda ideológica.
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Com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador mineiro quer se posicionar como alternativa para o bolsonarismo nas eleições de 2026.