Vereador de Belo Horizonte em seu primeiro mandato, Helton Junior (PSD) recebeu a missão de ser o vice-líder da prefeitura na Câmara Municipal. Em uma legislatura com início marcado pela discussão de pautas nacionais e comportamentais em uma reprodução do embate entre esquerda e direita no cenário federal, o vereador teve seu semestre de estreia na vereança notabilizado pela crítica às pautas mais preocupadas com o debate acalorado do que com as questões importantes para a cidade.

Em entrevista ao Estado de Minas, o vereador falou sobre como a transição na prefeitura com a posse definitiva de Álvaro Damião (União Brasil) nos primeiros meses da legislatura ecoou no Legislativo e quais as prioridades do ano, caso da discussão da tarifa zero nos ônibus da capital. Helton também tratou sobre a perda de espaço do PSD na prefeitura após o falecimento do correligionário e prefeito reeleito Fuad Noman e as pretensões do partido em Minas Gerais.

O senhor é vice-líder do governo. A prefeitura de Belo Horizonte teve um início conturbado com a questão do Fuad e a posse de Damião em abril. Poderia fazer um balanço da relação entre a Câmara e a prefeitura ao longo dos meses de 2025?

No começo do ano, houve muita instabilidade devido à situação de saúde do prefeito Fuad, dificultando o avanço da agenda política. Mas, após a posse do prefeito Damião, conseguimos uma agenda mais concreta e que está avançando bem. O fato de o prefeito ter sido vereador ajuda muito, pois ele entende bem o legislativo e as pautas. A relação entre Câmara e prefeitura tem melhorado cada dia mais, o que é importante para o avanço de agendas relevantes para a cidade.

E como está a relação entre os vereadores? A Câmara assumiu a nova legislatura com muitos embates entre a extrema direita e a esquerda

A relação interna tem duas dimensões. A primeira é a ideológica, que essa assim está muito calorosa, os debates eles têm sido cada vez mais frequentes, principalmente da bancada mais conservadora e da bancada mais progressista, porque são os lados com mais vereadores também. São muitos e têm agendas muito diversas. Quando a discussão é feita em temas federais e estaduais, raramente há um consenso.

Mas na dimensão republicana e institucional, a relação é super positiva. Embora os vereadores nem sempre concordem um com o outro, eles se respeitam e sabem que todos ali foram eleitos e têm legitimidade para fazer o seu trabalho.

As questões nacionais, principalmente temas comportamentais, ainda dominam o debate na Câmara. Isso tem atrasado a tramitação de outras propostas?

Na minha humilde opinião, não ajuda. Porque quando a gente começa a discutir demais agendas que não são do do foro de Belo Horizonte, a gente perde tempo com questões que não necessariamente são os vereadores que vão resolver. Por exemplo, recentemente nós tivemos o tarifaço do Trump, que é uma questão de destaque na mídia e repercussão nacional e que hora ou outra aparece como debate em Belo Horizonte. Nós temos também questões simbólicas de moções que às vezes são votadas e que de novo consomem o tempo da pauta. E aí há o uso de um tempo que poderia ser destinado com discussões mais prestigiadas pela população, que são mais importantes para para ordem do dia.

A prefeitura já orientou a base a evitar esse tipo de discussão?

A prefeitura não tem orientação específica para não trabalhar certas pautas. O executivo tem adotado uma conduta, que acho muito correta, de não entrar em disputas ideológicas. O prefeito tem uma agenda propositiva e respeita a independência entre executivo e legislativo.  Em questões ideológicas ou fora do âmbito municipal, a prefeitura libera a base, e cada vereador vota como entender.

Falando sobre o Barreiro, sua campanha foi bastante focada no Bairro Lindéia. Quais os próximos projetos do seu mandato para essa região?

Na campanha, a gente colocou um um lema que era 'colocar o Lindeia de volta no mapa'. E a gente já tem feito isso com a simples presença. Só por ter um vereador da região, é latente o quanto as pautas conseguem avançar em termos de visitas técnicas, de presença do Executivo próximo à região, em termos de entregas reais que estão saindo para a região do Barreiro e principalmente o Lindéia.

Já temos a perspectiva de iniciar a reforma da Praça Maria Tertuliana, que é histórica na região. Um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) será construído na região do Itaipu, uma área de altíssima vulnerabilidade social. Pedimos e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) realizou um estudo que apontou a necessidade de um equipamento de assistência social na região do Lindéia e PUC, e já tivemos resposta positiva da secretária.  Além disso, parte significativa das minhas emendas impositivas será destinada ao Lindéia.

O senhor já falou sobre sua relação com o curso de Gestão Pública da UFMG. Como avalia a importância dessa relação acadêmica para o seu mandato?

A maior crítica que tenho à universidade é que muito do conhecimento produzido não chega às pessoas. Porque quando o que é produzido na universidade chega ao poder público, a gente consegue escalar os ganhos. É diferente de o conhecimento chegar apenas a uma questão privada, que tem uma perspectiva financeira, econômica.

Por exemplo, esse estudo que a gente pediu foi conduzido pela professora Geralda, que é uma uma grande especialista, orientada por vários professores que têm uma qualidade ímpar de tratar de questões municipais e está à nossa disposição, tudo gratuitamente, feito com um rigor técnico-científico muito grande. A gente tem também trabalhado com questões de valorização da profissão para que mais gestores qualificados e com formação específica ocupem a administração pública. No começo do ano a gente fez uma indicação para a prefeitura sempre abrir vagas de gestão pública nos concursos. 

Sobre o projeto de lei (PL) da tarifa zero nos ônibus de Belo Horizonte, qual a discussão atual e o papel da prefeitura?

A tarifa zero está tramitando e eu acho que a gente já teve uma grande vitória em conseguir ter um projeto de tarifa zero que foi assinado por mais de 20 vereadores na Câmara de Belo Horizonte. Isso é histórico. Na última semana nós tivemos uma audiência muito bem prestigiada, o secretário de governo Guilherme Daltro esteve presente na audiência e é aquela questão, todo mundo quer a tarifa zero, entende que é uma política muito positiva. A dúvida é a viabilidade.

Não só a viabilidade no âmbito prático, de custear de fato um sistema de transporte que não cobre tarifa das pessoas, mas também no sentido indireto, porque com o incremento de usuários nós teríamos no caso de fazer, isso gera outros tipos de gasto, como manutenção de pavimento e uma série de outras questões que também precisam ser consideradas. Então nós estamos nessa parte da discussão, avaliar a viabilidade.

Nós tivemos um estudo apresentado pela UFMG que vai nesse intuito de demonstrar que o impacto para as empresas ele não é tão grande quanto se esperava e agora nós estamos em contato frequente com a prefeitura para entender quais os principais gargalos e analisar se é de fato possível transpô-los. Se for, acho que o projeto tem chance de avançar. 

O prefeito Damião tem sido notado por falar bastante que BH agora é cidade do "sim". A gente identifica um esforço da prefeitura de analisar, de escrutinar ali as informações e realmente verificar se é possível. Em outros momentos já era descartado de cara: ‘Não, isso é ideia de maluco, não vamos olhar isso não’. Hoje vemos uma posição de diálogo, o que para mim já é uma baita vitória.

Qual o seu papel nessa ponte entre a Câmara e a prefeitura no caso da tarifa zero?

Meu papel é de articulador, de quem faz o meio de campo.  Não acredito que ninguém está agindo de má-fé, mas existem diferentes perspectivas.  Preciso aproximar os grupos para construir uma solução. Se a viabilidade da tarifa zero total for comprometida, podemos buscar alternativas, como tarifa zero em dias específicos ou para grupos específicos, como universitários.

O PSD ficou um pouco escanteado na administração municipal após a posse de Álvaro Damião. Como está a relação do partido com a prefeitura após a morte de Fuad, que era pessedista?

O PSD atualmente está em uma perspectiva sempre muito construtiva. Estamos sob a liderança do nosso presidente, Cássio Soares, que tem feito uma condução na minha visão extraordinária, conciliar situações que muitas vezes são difíceis. E a perspectiva construtivista é a de que O PSD está aqui para ajudar.

Nós fizemos um esforço hercúleo para que o prefeito Fuad fosse eleito juntamente com com o vice Álvaro Damião, porque entendíamos que naquele momento era o mais adequado para Belo Horizonte. Passado esse momento, o contexto mudou. É do jogo, acontece, mas o PSD está aqui para somar. Elegemos três vereadores muito qualificados no Helinho da Farmácia, o Maninho Félix e eu completando o quadro.

Não há ego, não há vaidade no PSD por briga de cargo, por poder, espaço que normalmente é a tônica da política. É assim que o partido tem se colocado não só em Belo Horizonte, mas no Brasil inteiro, por isso está em gestões de esquerda e de direita.

O PSD é um partido disputado em Minas Gerais, podendo apoiar o vice-governador Mateus Simões (Novo) ou o senador Rodrigo Pacheco (PSD). Isso pode impactar a atuação do partido na Câmara?

O PSD busca gerar resultados para a população, independente da ideologia.  A nível estadual, o partido tem relação próxima com o governador Romeu Zema (Novo) e Mateus Simões, mas também tem quadros que podem disputar a eleição.  Dependerá do contexto.  O compromisso maior é com o resultado.

O senhor se vê mais alinhado à bancada de esquerda na Câmara de BH?

Eu tenho uma formação progressista. Venho do movimento estudantil, estive também na universidade atuando politicamente, mas com o tempo veio o amadurecimento político. Hoje eu enxergo a vida de outra forma e entendo que hora ou outra a gente tem que transitar pela direita e pela esquerda para produzir resultado para a população. Então, eu me considero um vereador progressista, mas de centro e que não tem problema nenhum em votar com a esquerda ou com a direita, se o projeto for bom.

Particularmente, o senhor preferiria que o PSD apoiasse Pacheco ou Simões?

Eu trabalhei um tempo na Quaest e lá a gente fazia pesquisas eleitorais para o Brasil inteiro.  Eu particularmente não gosto muito de antecipar essa questão eleitoral. Porque de novo, a gente faz uma pesquisa hoje que é uma foto de um cenário que vai mudar bastante. Nós não sabemos quem serão os candidatos, não sabemos de fato quem que vai conseguir se viabilizar internamente dentro do partido.

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