"Processo penal é prova, não disputa política", diz Barroso
Após o STF ser criticado no 7 de Setembro, presidente da Corte afirma que julgamento de Bolsonaro, a ser retomado nesta terça-feira, não tem cunho ideológico
compartilhe
Siga noUm dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ser atacado em manifestações no 7 de Setembro por causa do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, enfatizou que "processo penal é prova, não disputa política ou ideológica". Nesta terça-feira, a Primeira Turma do STF retoma a análise da ação contra o ex-chefe do Executivo e mais sete réus por tentativa de golpe de Estado.
Leia Mais
As declarações de Barroso foram em reação às acusações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que chamou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, de "ditador" e "tirano".
"Não gosto de ser comentarista do fato político do dia e estou aguardando o julgamento para me pronunciar em nome do Supremo Tribunal Federal", afirmou à imprensa. "A hora para fazê-lo é após o exame da acusação, da defesa e apresentação das provas, para se saber quem é inocente e quem é culpado. Processo penal é prova, não disputa política ou ideológica", acrescentou.
O presidente do STF também fez uma comparação com o período da ditadura militar. Ele lembrou que, no regime autoritário, não havia devido processo legal nem transparência nos julgamentos. "Tendo vivido e combatido a ditadura, nela é que não havia devido processo legal público e transparente, acompanhado pela imprensa e pela sociedade em geral. Era um mundo de sombras", destacou. "Hoje, tudo tem sido feito à luz do dia. O julgamento é um reflexo da realidade. Na vida, não adianta querer quebrar o espelho por não gostar da imagem", frisou.
Barroso estava em viagem à França e tem previsão de voltar nesta terça-feira a Brasília — dia da retomada do julgamento de Bolsonaro na Primeira Turma, da qual o ministro não faz parte.
O julgamento será retomado com o voto de Moraes. A expectativa é de que o ministro use a manhã e a tarde. Se ainda der tempo, votará o ministro Flávio Dino. Faltarão, então, os votos de Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. As sessões prosseguirão até sexta-feira. Em caso de condenações, os magistrados também têm de definir a dosimetria das penas.
A eventual prisão dos réus que forem condenados não deve ocorrer de forma automática, e só poderá ser efetivada após análise dos recursos. Mesmo assim, eles não devem ficar em presídios comuns. Oficiais do Exército têm direito à prisão especial, conforme o Código de Processo Penal (CPP). O núcleo 1 tem cinco militares do Exército, um da Marinha e dois delegados da Polícia Federal, que também podem ser beneficiados pela restrição.
A análise do processo começou na terça-feira da semana passada. No primeiro dia, Moraes leu o relatório, com o resumo do processo e provas colhidas. Em seguida, o procurador-geral da República reiterou a acusação. Na sequência, as defesas dos réus tiveram 1 hora cada uma para sustentação oral.
De acordo com denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), os réus atuaram para desacreditar o sistema eleitoral, incitar ataques a instituições democráticas e articular medidas de exceção.
Além de Bolsonaro, respondem à ação penal os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Anderson Torres; o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e o tenente-coronel Mauro Cid.
A denúncia indica que Bolsonaro tinha ciência e participação ativa em uma trama golpista para se manter no poder, mesmo após derrota nas urnas, e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também é descrito um plano de assassinato de autoridades e o apoio aos atos extremistas de 8 de janeiro como a última cartada do grupo criminoso.
Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o golpe não foi consumado apenas por falta de adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
O núcleo é acusado de cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A exceção é Ramagem, que conseguiu a suspensão da ação pelos crimes que aconteceram em 8 de janeiro de 2023, porque ele já era deputado federal. O parlamentar é réu por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.