Comissão aprova retirada de consulta popular para venda da Copasa
Relatório do deputado Gustavo Valadares, da base do governo Zema, elimina exigência de referendo popular; presidente da ALMG suspende análise em plenário
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Após mais de quatro horas de discussões e quase 300 emendas apresentadas, a Comissão Especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou nesta quarta-feira (8/10) o parecer favorável à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira a exigência de referendo popular para a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e de sua subsidiária Copanor.
O relatório, elaborado pelo deputado estadual Gustavo Valadares (PSD), integrante da base do governo Romeu Zema (Novo), recomenda a aprovação da PEC na forma do Substitutivo nº 2, que mantém o quórum qualificado de três quintos para votação, mas dispensa a consulta popular em casos de desestatização destinados ao pagamento da dívida pública ou à renegociação de passivos do Estado.
Apesar da vitória da base governista na comissão, a votação em plenário da PEC, que estava prevista inicialmente para esta semana, foi suspensa pelo presidente da ALMG, Tadeu Martins Leite (MDB). A decisão ocorre após a publicação, na noite desta terça-feira (7/10), de um decreto do presidente Lula (PT) que estende até o final de 2026 o prazo para a federalização de estatais e ativos que Minas Gerais pretende transferir ao governo federal, por meio do Programa de Pleno Pagamento das Dívidas do Estado (Propag).
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Com isso, não há urgência para votação imediata do texto em plenário, permitindo que o debate sobre referendo popular seja retomado nas próximas eleições. Segundo Tadeu, a privatização da Copasa não vai deixar de ser discutida, mas é preciso “aprofundar um pouco mais” o debate. “Até acabarmos esse estudo sobre esse novo decreto, nós não vamos (...) pautar essa PEC no plenário até finalizar toda essa discussão” , afirmou.
Tentativa de obstrução
Durante a sessão da comissão especial, dezoito deputados da oposição se revezaram nas falas tentando adiar a votação do relatório de Valadares. A estratégia incluía a apresentação de quase 300 emendas e pedidos de destaque, todos rejeitados pela base governista.
A deputada Bela Gonçalves (Psol), única titular da oposição na Comissão Especial, solicitou a votação nominal e também a retirada da pauta da PEC 24/2023 da Casa. A parlamentar argumentou que ainda há tempo para submeter qualquer proposta de federalização ou venda de estatais à consulta popular, ressaltando que o novo decreto federal permite avaliações independentes dos ativos, sem depender exclusivamente do BNDES.
“Se justificava que o referendo não pudesse acontecer este ano porque não há eleições ordinárias, mas agora há tempo suficiente para que o governo continue o debate sobre a federalização ou venda das estatais, em especial da Copasa, e submeta essas propostas a referendo popular nas próximas eleições”, disse Bella durante a sessão.
A deputada também destacou que o governo já realizou operações de federalização e transferência de ativos que, segundo ela, já equivalem a cerca de 20% do valor da dívida do Estado com a União. Valor necessário para amortizar os juros da dívida de R$ 172 bilhões de Minas com o governo federal.
O relator Gustavo Valadares, por sua vez, classificou o referendo em seu relatório como um “ônus procedimental custoso e moroso” e um “bloqueio político injustificado” à modernização administrativa, sustentando que a legitimidade democrática da medida permanece garantida pelo quórum qualificado exigido para aprovação em plenário.
O parlamentar ainda citou precedentes jurídicos, como decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que validaram a revogação de exigência semelhante de plebiscito em outros estados, incluindo o Rio Grande do Sul.
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Originalmente, a PEC, que ficou conhecida entre os críticos como “PEC do Cala Boca”, previa também a inclusão da Cemig e da Gasmig, mas um substitutivo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) restringiu o alcance apenas às companhias de saneamento.