Promover a própria imagem e divulgar as atividades do mandato se tornou, na última década, a principal prioridade da bancada mineira na Câmara dos Deputados, e também seu maior gasto. Em 2024, as despesas com comunicação somaram R$ 7,7 milhões, o equivalente a 30,2% de toda a cota parlamentar, mais que o dobro do registrado em 2015, quando a rubrica representava 18,9% dos gastos (R$ 3,7 milhões). A mudança reflete uma reconfiguração no uso dos recursos públicos: despesas operacionais, como passagens e consultorias, cederam espaço à autopromoção.

 

No mesmo período, os investimentos em publicidade nas redes sociais dispararam. Levantamento feito pelo Estado de Minas a partir das prestações de contas dos parlamentares mostra que o gasto com anúncios patrocinados em redes sociais (Facebook e Instagram) cresceu de forma acelerada. Em 2017, os deputados mineiros destinaram menos de R$ 6 mil a esse tipo de despesa. Em 2024, o valor superou R$ 309 mil, um aumento superior a 5.000%. Neste ano, os parlamentares já desembolsaram R$ 219 mil até setembro, o que indica a manutenção da tendência de alta. A expansão acompanha o esforço dos parlamentares para ampliar alcance e engajamento em plataformas digitais, que hoje funcionam como vitrine da atuação parlamentar.

 

Os valores se referem à Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), benefício que cobre as despesas ligadas ao mandato, como passagens aéreas, aluguel de veículos e contas de telefone. O montante disponível para cada parlamentar varia conforme o estado de origem do deputado.

Para os representantes de Minas Gerais, o limite mensal é de R$ 41.886,51. Os gastos podem ser feitos de duas formas: por débito automático, como na compra de passagens, ou por reembolso. Nesse caso, o parlamentar tem até três meses para apresentar as notas fiscais. Por isso, os valores de 2025 ainda podem mudar.

 

O salto nas despesas com divulgação começou em 2020, primeiro ano da pandemia. Em 2019, a rubrica respondia por 19,7% da cota dos deputados mineiros, cerca de R$ 3,5 milhões. No ano seguinte, chegou a 27,1% (R$ 4,4 milhões) e já despontava entre as principais prioridades orçamentárias, embora as passagens aéreas ainda liderassem os gastos.

A virada definitiva veio em 2021, quando a divulgação (R$ 5,1 milhões) superou pela primeira vez as passagens (R$ 3,7 milhões). Desde então, apenas em 2022, ano eleitoral, o total ficou abaixo de R$ 5 milhões. A partir de 2023, a comunicação se consolidou como o principal destino da cota parlamentar.

Anúncios nas redes sociais

O investimento em anúncios no Facebook e Instagram também acompanhou o avanço das despesas com divulgação. Nos últimos oito anos, os gastos dos deputados mineiros com anúncios em redes sociais cresceram de forma exponencial. Em 2017, o total gasto com anúncios pagos foi de apenas R$ 5,9 mil. Desde então, a escalada tem sido contínua: em 2020, o valor saltou para R$ 194,6 mil; em 2021, chegou a R$ 278,4 mil; e, em 2024, alcançou R$ 309,5 mil, o maior patamar da série histórica. Apenas entre 2019 e 2024, o crescimento foi de mais de 130%, refletindo a consolidação das redes sociais como eixo central da comunicação política.

O serviço é registrado no portal da Câmara dos Deputados sob o nome empresarial da plataforma no Brasil, “Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”. As campanhas de anúncios no Facebook podem ser veiculadas em todos os canais do grupo Meta, o que inclui o Instagram e outras plataformas pertencentes ao conglomerado de mídia social.
Com isso, os deputados recorrem cada vez mais a impulsionamentos de publicações para ampliar o alcance de discursos, pronunciamentos e agendas, numa dinâmica que mescla prestação de contas e autopromoção.

Passagens aéreas

As passagens aéreas, que durante anos lideraram o ranking de despesas dos deputados mineiros, perderam peso no orçamento da cota parlamentar. Entre 2015 e 2018, os gastos com bilhetes de avião representavam cerca de um quarto dos recursos pagos pela Câmara, superando os R$ 5,6 milhões em 2018. A partir de 2019, porém, a curva começou a cair de forma consistente. O montante recuou para R$ 4,2 milhões naquele ano e, mesmo com oscilações, não voltou a alcançar os patamares anteriores.

 
 
 
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Em 2020, ano marcado por restrições de deslocamento devido à pandemia, o total ainda chegou a R$ 5,2 milhões, mas o volume despencou nos anos seguintes. Desde então, a tendência de queda se consolidou: foram R$ 3,6 milhões em 2021, R$ 5,3 milhões em 2022, ano de período eleitoral, e R$ 4,3 milhões em 2024. Neste ano, até setembro, as despesas somam R$ 2,6 milhões, equivalentes a 14,6% da cota total, o menor percentual da série histórica.

Outras despesas

As despesas com manutenção de escritório seguem estáveis ao longo da última década, com tendência de leve crescimento. Em 2015, os reembolsos somaram R$ 2,6 milhões (13,1% da cota), subindo gradualmente para R$ 3,0 milhões em 2017 (13,5%) e R$ 2,9 milhões em 2018 (13,9%). Nos últimos anos, os valores se aproximaram de R$ 4 milhões, alcançando R$ 4,9 milhões em 2024 (19,3%). Em 2025, até setembro, os gastos já somam R$ 3,5 milhões, ou 19,8% da cota.

O aluguel de veículos também se mantém entre os principais gastos. Em 2015, os deputados mineiros registraram R$ 2,5 milhões (13%), valor que subiu para R$ 3,2 milhões em 2017 (14,3%) e R$ 3 milhões em 2018 (14,2%). Desde 2023, os custos se mantêm em torno de R$ 4 milhões, chegando a R$ 4,5 milhões em 2024 (17,6%) e R$ 4,1 milhões em 2025 (18,1%).

Na mesma linha, os gastos com combustíveis registram variações moderadas, mas sem grandes alterações estruturais. Em 2015, R$ 1,8 milhão (9,2% da cota), mantendo-se próximos de 9% até 2018. Com pequenas oscilações nos anos seguintes, em 2025 chegam a R$ 2 milhões (11,1%).

Por outro lado, rubricas tradicionais praticamente desapareceram da planilha de gastos. As despesas com consultorias e pesquisas, que chegaram a representar mais de 8% da cota em 2016, perderam protagonismo a partir de 2023. O mesmo ocorreu com telefonia, que chegou a responder por 7% do total em 2015, mas sumiu do mapa de despesas desde 2018.

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