Com a proximidade da Páscoa, as prateleiras dos supermercados e das lojas são tomadas por ovos e mimos de chocolate. Popular, na versão amarga traz mais benefícios para a saúde, se consumido da forma correta, graças a alguns componentes, como polifenóis, ele tem ação antioxidante, e anti-inflamatória.

Em um novo estudo, divulgado recentemente na revista ACS Food Science & Technology, pesquisadores do Instituto Walter e Eliza Hall, na Austrália, sugerem que incluir pré e probióticos no doce pode deixá-lo mais saudável. Mas os aromatizantes presentes na composição interferem nas suas propriedades, como umidade e o teor de proteína do produto.


Os probióticos — encontrados em alimentos fermentados como iogurte, melhoram o microbioma intestinal, modulando o equilíbrio de bactérias. Eles também podem aliviar problemas digestivos e reduzir a inflamação. Essas culturas precisam de alimentos e proteção para sobreviver no ambiente intestinal, então, prebióticos são adicionados a produtos.

Pela popularidade do chocolate, os cientistas testaram várias combinações de pré e probióticos nesse doce. Para facilitar a criação dessa receita saudável, Smriti Gaur e Shubhi Singh, líderes da pesquisa, exploraram prebióticos que não precisavam de um processamento extensivo — milho e mel — em chocolate fortificado com probióticos.

Maiores consumidores: Os países que mais consomem chocolate no mundo são a Alemanha, Suíça e Bélgica, com até 11 kg por pessoa a cada ano! Divulgação
Campeão de vendas: Surpresa! A época do ano em que mais se vende chocolate não é a Páscoa, mas sim o Dia dos Namorados. freepik
Esqueça a geladeira: A forma ideal de guardar chocolate é em um lugar fresco e seco; nunca deve ser colocado na geladeira! O chocolate pode ficar esbranquiçado devido à migração da gordura do cacau para a superfície e isso pode afetar seu sabor original. Towfiqu barbhuiya Unsplash
Vicia sim: A ciência já comprovou que o chocolate é muito viciante. Isso por conta da serotonina, que relaxa o corpo e traz uma sensação de satisfação. Para melhorar o sabor, alguns fabricantes de chocolate ainda adicionam café... Kaffee Meister Unsplash
Não é chocolate: Adorado por alguns e odiado por muitos, o chocolate branco na verdade não é considerado chocolate. Isso porque ele contém apenas manteiga de cacau, açúcar e leite, ou seja, não leva cacau em sua receita. wikimedia creative commons
Dá-lhe cafeína: Cada grão de cacau contém aproximadamente 0,2% de cafeína. Para se ter uma ideia, uma barra de chocolate de 100 g tem cerca de 80 grãos de cacau! Divulgação
Muitos tipos: O chocolate escuro, que precisa ter pelo menos 35% de sólidos de cacau, é considerado o mais saudável. Se a porcentagem de cacau chegar a 70%, os benefícios para a saúde aumentam, como a redução do risco de doenças cardíacas. Divulgação
Bom ou ruim: A qualidade de uma barra de chocolate varia de acordo com a origem e processo dos grãos de cacau. A forma como eles são fermentados e torrados é um que diferencia um chocolate ótimo de um "mais ou menos". Divulgação
A competição costuma impactar o preço e a disponibilidade do cacau, especialmente quando há variação na demanda por chocolate e cosméticos. flickr Irene Scott/AusAID
Chocolate ou remédio: A indústria do chocolate e a indústria de cosméticos competem pelo cacau. O fruto tem substâncias que são boas para a pele e é usado em cremes hidratantes, sabonetes, máscaras faciais e produtos para o cabelo. pexels Sora Shimazaki
Por aqui também existem fábricas de processamento que transformam os grãos em produtos como pasta de cacau, manteiga de cacau e chocolate. wikimedia commons Graham Crumb
Brasil produz e fabrica: O Brasil não é um dos maiores produtores de cacau, mas o país tem uma história antiga de cultivo do fruto, principalmente na região amazÎnica e no sul da Bahia. Etty Fidele Unsplash
Cultivar cacau é diferente de fazer chocolate: Os países que mais processam cacau são os Países Baixos, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e Suíça. Eles têm um papel crucial, pois são os responsáveis por transformar o fruto em chocolate. Divulgação
A fabricante suíça Cailler foi quem criou o primeiro chocolate ao leite, em 1875, adicionando leite em pó à preparação. Reprodução do site fuipraeuropa.com.br/2013/11/10/chocolates-suicos-visita-a-maison-cailler-nestle/
A qualidade dos ingredientes e o clamor nacional tornaram o chocolate suíço um dos mais populares do mundo. Lisa Weinstein Unsplash
Os suíços não foram os primeiros europeus a fazer chocolate, mas foram os primeiros a adicionar leite, criando o chocolate como conhecemos hoje. Reprodução do site 99destinos.com.vc/delicias-na-suica-visitando-a-fabrica-da-nestle-maison-cailler-e-a-fabrica-do-queijo-gruyere/
Quando o chocolate chegou à Europa no século 16, era considerado uma bebida muito luxuosa e era consumido principalmente pelas classes mais altas. pexels R. Fera
Antes era só bebida: As antigas civilizações mesoamericanas (maias e astecas) apreciavam muito o cacau e, a partir dele, preparavam uma bebida chamada "xocoatl" ou "chocolatl", que tinha um significado sagrado e era usado em rituais e cerimônias. Rachael Gorjestani Unsplash
Depois de colhidas, as vagens de cacau são abertas e as sementes (ou amêndoas de cacau) são retiradas para fermentar. wikimedia commons R-chu-R
O processo: O cacau, assim como o vinho, passa por fermentação antes de virar chocolate. Essa etapa é essencial porque influencia muito o sabor e a qualidade do produto. Kristiana Pinne Unsplash
Sombra e água fresca: O lugar ideal para o crescimento do cacau é a floresta, não uma lavoura. Normalmente, as árvores são plantadas debaixo de árvores maiores, que fornecem a sombra necessária para seu desenvolvimento. Kristiana Pinne Unsplash
Os primeiros frutos do cacau foram encontrados em sítios arqueológicos no Equador, na região amazônica, há mais de 5 mil anos. Apesar disso, hoje em dia cerca de 2/3 da produção está na Costa do Marfim, na África. freepik
Onde tudo começou: O fruto do cacau tem sua origem na Amazônia, em lugares como Brasil, Peru e outros países da América do Sul. Jeser Andrade Arango por Pixabay
É muito difícil encontrar alguém que não gosta de chocolate, até porque é possível experimentá-lo em barra, bombom, sorvete, milk-shake, calda de bolo...Veja curiosidades "deliciosas" sobre esse alimento tão famoso: Divulgação

Cinco tipos


Os pesquisadores criaram cinco tipos de chocolates. O primeiro foi feito somente com ingredientes básicos, incluindo manteiga de cacau, cacau em pó e leite em pó. Quatro amostras diferentes de teste simbiótico também continham prebióticos (obtidos a partir do milho e do mel), um probiótico — Lactobacillus acidophilus La-14 ou Lactobacillus rhamnosus GG — e um aditivo de sabor, que poderia ser canela ou laranja.

Quando a equipe avaliou as diferentes propriedades das amostras de chocolate, descobriu que os níveis de gordura, que influenciam a textura e a sensação na boca, eram consistentes entre todos os cinco exemplares. No entanto, houve diferenças bastante expressivas.

Os aromatizantes modificaram algumas características. Aqueles com toques de laranja diminuíram o pH, aumentaram a umidade e melhoraram os níveis de proteína em comparação com todas as outras amostras. Os quatro produtos simbióticos apresentaram níveis mais altos de antioxidantes do que o doce comum, sem pre e probióticos.

Os alimentos modificados tinham menos estalo — que avalia a crocância e a secura — em comparação ao controle, sugerindo que os ingredientes adicionais perturbaram a estrutura do chocolate. As contagens microbianas totais das amostras dos doces simbióticos diminuíram durante o armazenamento, mas os micróbios probióticos ainda estavam viáveis após 125 dias de armazenamento. Esse período é maior do que outros pesquisadores relataram ao usar diferentes bactérias e prebióticos em experimentos semelhantes.

Os cientistas expuseram os chocolates modificados a condições gastrointestinais simuladas, os probióticos nas amostras mantiveram viabilidade substancial por mais de 5 horas. "Pessoalmente, nós gostamos mais dos chocolates com sabor de laranja, em que as vibrantes notas cítricas complementavam o rico cacau, e ele tinha uma textura um pouco mais macia que fazia cada mordida parecer mais luxuosa", sublinhou Gaur.

Vantagens


Gabriel Moliterne, nutricionista especialista em nutrição clínica, avaliação, epidemiologia e intervenção do Hospital Albert Sabin, em São Paulo, ressaltou vantagens dos chocolates amargos, com alto teor de cacau. "Eles contêm flavonoides, compostos com propriedades cardioprotetoras, anti-inflamatórias e antitrombóticas. Pode ajudar a diminuir a pressão arterial. Além de auxiliar na memória e na função cognitiva."

Segundo Jamilly Drago, endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, o chocolate, principalmente 70%, o cacau, é também um excelente antioxidante. "Ele aumenta a saciedade do doce, melhora a cognição e tem um pouco de cafeína, então ele tem essa melhora da cognição, do alerta e deixar a pessoa com mais energia. O produto 70% cacau está presente em vários tipos de dieta e no acompanhamento de algumas patologias."

No entanto, Moliterne alerta para o consumo errado. "O alto teor calórico facilita o ganho de peso. Além disso, o consumo excessivo pode causar alguns desconfortos, como diarreia ou dor abdominal. Devido ao conteúdo de cafeína e teobromina, o consumo de chocolate antes de dormir interfere no sono, causando insônia ou prejudicando a qualidade do descanso."

"No futuro, estamos animados para explorar benefícios adicionais à saúde desses chocolates enquanto investigamos minuciosamente seus perfis sensoriais e nutricionais, com o objetivo de criar uma guloseima ainda mais saudável e agradável", finalizou Gaur.

Mais estudos


"Se futuramente esse chocolate simbiótico provar realmente ser saudável, haverá um ponto positivo para a indústria de alimentos. Mas esse estudo precisa ser feito em um período mais longo, é necessário para confirmar tudo isso durante um tempo. Então, a adição do probiótico no chocolate não garante automaticamente que vai se tornar um alimento saudável. Outros fatores como o teor de açúcar e processamento também influenciam no impacto da saúde. Esse estudo abre caminho para futuras pesquisas. Tem que aprofundar mais o conhecimento sobre os alimentos simbióticos e sua eficácia na saúde intestinal." Carla Bispo, nutricionista clínica, em Brasília

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