Projeção da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), aponta que o número de notificações anuais de câncer de esôfago na população mundial pode saltar dos atuais 511 mil para 922 mil em 2050, um aumento de 80%. O cenário é considerado alarmante, visto que a doença é diagnosticada em fases mais avançadas – realidade de quatro a cada dez casos.
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O oncologista Alexandre Chiari explica que, assim como outros tipos de tumores, o de esôfago ocorre quando as células da região sofrem alterações no DNA, se multiplicam de forma descontrolada, o que corrobora para o aparecimento de células malignas. “No caso específico do câncer de esôfago, as evidências associam o surgimento da doença à irritação crônica deste órgão, a partir de causas como tabagismo, obesidade, etilismo e hábito de consumir bebidas líquidas em altas temperaturas”. Outro fator de risco que integra a equipe médica da Cetus Oncologia - clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem - é a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), retorno involuntário e repetitivo do conteúdo do estômago para o esôfago.
Ainda de acordo com Alexandre, no início, a doença é assintomática, o que explica o fato de muitos diagnósticos serem tardios, e à medida em que ela vai se expandindo, o paciente tem disfagia, dor para engolir. “Isso acontece pois como o esôfago é um tubo muscular, localizado entre a traqueia e a coluna vertebral e que conecta a garganta ao estômago, logo é o canal por onde a comida passa. Em caso de câncer na região, esse processo de deglutição, obviamente, fica mais doloroso”, explica acrescentando que nas situações de doença avançada, a dor aparece até na ingestão de líquidos. “A consequência desse problema é a perda de peso, já que o paciente pode começar a evitar alimentos, como forma de fugir do incômodo”, completa.
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Alexandre destaca que aqueles com suspeita de câncer de esôfago e que apresentam sintomas como disfagia seguida de perda de peso, por exemplo, serão submetidos a uma endoscopia digestiva alta, exame que por meio do endoscópio - tubo fino com microcâmera em sua extremidade – consegue visualizar a parede do esôfago, estômago e duodeno. Caso sejam encontrados tumores, são feitas várias biópsias da lesão no momento da endoscopia – as chamadas biópsias endoscópicas - para se chegar ao diagnóstico definitivo.
Em seguida, o médico fará o estadiamento, ou seja, vai verificar por meio de exames complementares qual é a extensão da enfermidade: se está localizada apenas no esôfago, quando a probabilidade de cura pode ser maior; se já se espalhou pelos linfonodos regionais ou para órgãos adjacentes. “Nessa etapa são feitos procedimentos como tomografia computadorizada de tórax e abdômen superior. Em algumas situações o PET-CT, capaz de detectar tumores em todos os lugares do corpo, também é solicitado”, explica.
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Tratamento e prevenção
Alexandre afirma que o tratamento do câncer de esôfago é multidisciplinar. Isso porque a doença, mesmo em estágios iniciais, é potencialmente sistêmica, ou seja, se espalha para outros órgãos com facilidade. “Em estágios muito iniciais, apenas a cirurgia, com a remoção total ou parcial do tumor, basta. Os estágios II e III, por sua vez, demandam tratamento combinado com quimioterapia associada à radioterapia e cirurgia, o que na oncologia chamamos de trimodalidade de tratamento.”
Quanto às probabilidades de cura, o oncologista reafirma que, infelizmente, elas são pequenas. Porém, com o avanço dos estudos sobre a imunoterapia – que trouxe uma mudança de paradigma no tratamento – o tempo de vida dos pacientes tem aumentado estatisticamente, com melhora da qualidade de vida.
Sobre a prevenção, o médico é taxativo: segundo ele, é muito fácil saber como evitar o tumor quando se conhece os fatores de risco. “Por isso é fundamental eliminar o tabagismo, diminuir ou cessar o etilismo, evitar bebidas muito quentes, além da prática regular de atividade física, essencial para manter o Índice de Massa Corporal (IMC) nos níveis adequados. Já para aqueles com refluxo gastroesofágico, recomenda-se buscar a ajuda de um gastroenterologista para tratar o problema de forma medicamentosa ou por meio de cirurgia em algumas situações”.
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