
O prefeito de S�o Paulo, Bruno Covas (PSDB), vem travando uma luta contra o c�ncer desde o fim de 2019, quando a doen�a foi diagnosticada. Foi constatado um c�ncer na c�rdia, regi�o localizada na transi��o entre o est�mago e o es�fago, chamado adenocarcinoma.
Al�m desse tumor, o prefeito apresentou tamb�m pequenas les�es no f�gado e nos g�nglios linf�ticos, devido ao processo de met�stase, quando as c�lulas cancerosas viajam atrav�s da corrente sangu�nea ou dos vasos linf�ticos para outras �reas do corpo, fora da regi�o de origem do c�ncer.
O tratamento inicial proposto foi baseado em quimioterapia e os m�dicos tamb�m recorreram, depois, � imunoterapia. Com o avan�o metast�tico, que agora acomete o f�gado e o sistema linf�tico, recentemente novos focos do tumor foram encontrados nos ossos.
Nesta segunda-feira, o quadro cl�nico de Bruno Covas teve complica��es e ele precisou ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI) e entubado, depois da ocorr�ncia de um sangramento no est�mago, detectado em um exame de endoscopia. Ele j� deixou a UTI, mas segue em observa��o. Bruno Covas est� licenciado do cargo na prefeitura desde o in�cio da semana.
Os c�nceres de es�fago e est�mago s�o classificados em dois tipos: o adenocarcinoma (caso de Bruno Covas), muito ligado a fatores de risco como refluxo, obesidade, sedentarismo e consumo de alimentos industrializados, e o carcinoma escamoso, para o qual as causas partem principalmente de tabagismo e etilismo. � o que explica a m�dica oncologista do Grupo Oncocl�nicas, Carolina Martins Vieira.
O nome adenocarcinoma significa que o tumor vem de gl�ndulas que est�o localizadas nos pulm�es, nos intestinos, no est�mago ou no p�ncreas, por exemplo. Para a detec��o da doen�a, s�o realizados exames de laborat�rio, endoscopia e bi�psia, neste �tlimo procedimento a retirada de um fragmento da regi�o afetada pelo tumor. Os exames s�o sempre direcionados a um patologista, que responde pelo diagn�stico final.
Como a doen�a � mais comum em pessoas em idade avan�ada, Carolina Vieira explica que, quando aparece nos mais jovens, � tamb�m indicada uma investiga��o acerca de causas gen�ticas.
"Na faixa et�ria de Bruno Covas, a doen�a n�o � t�o comum. Provavelmente ele fez essa investiga��o de hereditariedade do c�ncer. O problema � que foi diagnosticado na fase 4, quando j� havia met�stase", diz a m�dica, lembrando que a detec��o do problema no caso de Bruno Covas aconteceu por acaso, quando foi tratar uma trombose.
Os sintomas podem ser confundidos com refluxo, azia, indigest�o, perda de peso, saciedade precoce e at� hemorragia digestiva. Em est�gio inicial, o principal tratamento � o cir�rgico, para extra��o do tumor, que pode ou n�o ser complementado com quimioterapia, e � uma medida curativa. Quando a doen�a � localmente avan�ada, com o tumor maior, por�m sem met�stase, s�o geralmente feitas combina��es de tratamentos quimioter�picos mais intensivos e procedimento cir�rgico.
"Quando j� existe a met�stase, o tratamento se baseia em quimioterapia e/ou imunoterapia, com intuito paliativo, muito mais para minimizar sintomas e prolongar a sobrevida do paciente", explicita Carolina Vieira.
O sangramento que levou o prefeito � interna��o de agora aconteceu devido a uma �lcera em cima do tumor original, explica a m�dica. A endoscopia, propriamente, al�m de ter servido ao diagn�stico, tem o objetivo de tentar cessar a hemorragia e Bruno foi logo depois levado � UTI, a fim de sua estabiliza��o cl�nica. Somente ap�s essa estabiliza��o ser�o avaliados os pr�ximos passos no tratamento oncol�gico.
"O c�ncer do Bruno tem um comportamento biol�gico agressivo, e sua piora est� ligada a esse fato. Apesar do tratamento moderno, a doen�a j� evolu�a com sinais de piora, o que � agravado por ser uma regi�o muito vascularizada, o que aumenta o risco de sangramento", esclarece Carolina.
O tipo de c�ncer semelhante ao do prefeito muitas vezes � assintom�tico e acomete, em grande parte, idosos. Como � um problema silencioso, muitas vezes � descoberto quando exames s�o realizados por motivos diferentes ou em avalia��es m�dicas ligadas a refluxo g�strico, esofagite ou a sintomas provocados por met�stase.
O tratamento varia conforme a evolu��o da doen�a, o est�gio em que se encontra. Quando o c�ncer j� est� disseminado pelo corpo, � sist�mico, e o enfrentamento n�o se dirige apenas aos pontos vis�veis, mas ao organismo como um todo. Cirurgia � recomendada em momentos iniciais da doen�a.
Geralmente, a linha terap�utica parte de associa��es de subst�ncias quimioter�picas, radioterapia, anticorpos monoclonais e combina��es de quimioterapia com imunoterapia.
Cada doen�a � �nica e de comportamento biol�gico distinto. O �xito no combate ao desequil�brio est� ligado � fase da doen�a, de quanto o indiv�duo responde ao tratamento e acesso do paciente aos melhores tratamentos.
A predisposi��o gen�tica que pode gerar o aparecimento desse tumor � observada em apenas 10% dos casos. O motivo central para o desenvolvimento do c�ncer no aparelho digestivo parece ser uma muta��o celular do pr�prio corpo associada a fatores de risco, como tabagismo, refluxo, obesidade e a presen�a da bact�ria H. pylori, causadora de �lceras e gastrite. O tipo do tumor que acomete Bruno Covas n�o est� entre os cinco com mais ocorr�ncias no Brasil, e tamb�m n�o � raro.
Segundo o Instituto Nacional de C�ncer (Inca), tumores no sistema digestivo s�o recorrentes entre os brasileiros. Mais de 11 mil pessoas s�o diagnosticadas no pa�s com c�ncer de es�fago todos os anos e 8,7 mil delas morrem em decorr�ncia do dist�rbio. Para o c�ncer de est�mago, s�o 21 mil casos e 15 mil mortes anualmente.
"�s vezes, os tumores metast�ticos s�o diagnosticados durante os exames realizados para o diagn�stico do c�ncer prim�rio, como aconteceu no caso do prefeito. Outras vezes, as met�stases s�o encontradas ap�s o t�rmino do tratamento. Tipos de c�ncer diferentes tendem a se espalhar para locais diferentes, mas os locais mais comuns incluem os ossos, f�gado (no caso descrito), c�rebro e pulm�es", diz a oncologista.