Aspartame pode alterar microbiota intestinal e afetar tumores cerebrais, diz estudo
O adoçante tem sido extensivamente estudado devido ao seu potencial efeito sobre a saúde humana, sendo classificado como "possivelmente carcinogênico" pela OMS
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Siga noO aspartame, adoçante artificial amplamente utilizado como substituto do açúcar em alimentos e bebidas, pode ter impacto significativo na microbiota intestinal e na progressão do glioblastoma (GBM), um câncer cerebral maligno e extremamente agressivo.
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Este adoçante tem sido extensivamente estudado devido ao seu potencial efeito sobre a saúde humana, sendo classificado como "possivelmente carcinogênico" pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um estudo recente, publicado na revista científica Scientific Reports, utilizou um modelo experimental com camundongos submetidos a uma dieta contendo aspartame.
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Os resultados demonstraram que, embora a dieta não tenha afetado significativamente o crescimento tumoral, a substância estimulou mudanças importantes na expressão gênica e na regulação epigenética (especificamente na N6-metiladenosina) nos tumores de GBM. O estudo também identificou uma diminuição na abundância de bactérias da família Rikenellaceae, que está associada aos níveis de ácidos graxos voláteis e a diversas condições metabólicas relacionadas à saúde.
Em outras palavras, o aspartame induziu mudanças profundas e complexas na expressão gênica e nos padrões de metilação m6A nos tumores. A pesquisa especula que a microbiota intestinal pode influenciar a progressão tumoral por meio do eixo intestino-cérebro. Como afirmaram os pesquisadores: "Nossa análise integrativa ofereceu novas perspectivas sobre a complexa interação entre a ingestão alimentar de aspartame, a microbiota intestinal e a biologia tumoral".
Em nota, a Associação Internacional de Adoçantes (ISA) afirmou que o estudo é "limitado realizado com camundongos e com baixo poder estatístico". Dessa forma, "os resultados devem ser considerados preliminares e não podem ser diretamente aplicados a seres humanos."
A associação também pontua que a suposição de que o aspartame teria efeito direto sobre a microbiota intestinal como uma limitação do estudo. "O aspartame é rapidamente metabolizado no intestino delgado em seus componentes — fenilalanina, ácido aspártico e uma pequena quantidade de metanol — e, portanto, não chega intacto ao cólon, onde se concentra a maioria dos microrganismos intestinais. Vale destacar que os próprios autores reconhecem não ter investigado os metabólitos do aspartame, o que coloca em dúvida a plausibilidade biológica de uma interação direta entre o aspartame e a microbiota."
Paralelamente, outra pesquisa recente, também publicada na Scientific Reports, investigou o impacto do adoçante artificial na saúde, focando especificamente na ligação molecular entre o aspartame e o acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. A pesquisa sugere que o aspartame pode contribuir para lesões cerebrais isquêmicas através de interações multi-alvo, possivelmente modulando o tônus vascular, o equilíbrio da coagulação e a neuroinflamação.
Dessa forma, o aspartame apresenta riscos neurotóxicos relacionados aos seus metabólitos: fenilalanina, ácido aspártico e metanol. O estudo utilizou uma abordagem sistemática para fornecer insights preliminares sobre os mecanismos potenciais da neurotoxicidade do aspartame. No entanto, ainda carece de validação adicional em modelos animais e estudos clínicos em larga escala.
Embora o aspartame seja amplamente utilizado na indústria alimentícia em produtos diet, existem debates contínuos sobre sua segurança. A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) o classificou como "possivelmente carcinogênico para humanos" (Grupo 2B), enquanto o Comitê Conjunto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares confirmou a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de 0 a 40 miligramas por quilograma de peso corporal.
A OMS indicou, em 2023, que adoçantes artificiais não nutritivos não devem ser usados para perda e manutenção do peso corporal. Especialistas consultados pela Folha na época afirmaram que não é necessário interromper o uso dos produtos, indicados principalmente para pessoas com diabetes, mas é importante consultar um profissional da área, como nutricionista, para receber orientações adequadas.
Abaixo nota da ABIAD
"A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) acompanha com atenção as recentes reportagens que relacionam o consumo de aspartame a possíveis alterações na microbiota intestinal e ao risco de desenvolvimento de tumores cerebrais, a partir de novos estudos experimentais realizados em modelos animais. O estudo divulgado foi realizado em camundongos e tem poder estatístico limitado, cujos resultados devem ser considerados preliminares e não podem ser diretamente transponíveis para humanos.
A ABIAD reafirma sua confiança no papel da ciência como base para a formulação de políticas públicas e orientações ao consumidor. Contudo, comunicar potenciais riscos com base em estudos experimentais isolados — que não refletem o consumo habitual de adoçantes em humanos — pode gerar interpretações equivocadas e alarmismo. A avaliação de segurança deve considerar o conjunto de evidências acumuladas e a real exposição da população, como fazem os órgãos reguladores internacionais. O aspartame é um dos aditivos alimentares mais estudados do mundo.
Sua segurança tem sido amplamente avaliada por autoridades regulatórias internacionais independentes, como a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), a Food and Drug Administration (FDA), além do Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e da Organização Mundial da Saúde (JECFA/FAO/OMS). Em sua revisão mais recente, em 2023, a JECFA1 reafirmou que o aspartame é seguro para consumo humano nas condições em que é utilizado, mantendo a Ingestão Diária Aceitável (IDA) em 40 mg/kg de peso corporal por dia.
Além disso, A hipótese de que o aspartame impacta negativamente a microbiota intestinal não se sustenta. O adoçante é rapidamente absorvido no intestino delgado e não chega ao cólon de forma intacta, o que torna improvável qualquer efeito direto sobre os microrganismos intestinais. O próprio estudo mencionado reconhece que não investigou os metabólitos do aspartame, o que limita suas conclusões.
Portanto, a ABIAD reforça que o consumo de adoçantes autorizados, dentro dos limites estabelecidos por agências reguladoras nacionais, como a ANVISA, e internacionais, como EFSA2 e FDA continuam sendo uma ferramenta válida e segura para pessoas que necessitam de alternativas ao açúcar, como indivíduos com diabetes3 ou que buscam controlar o peso corporal. A disseminação de informações descontextualizadas pode causar insegurança desnecessária em consumidores que fazem uso consciente desses produtos como parte de uma alimentação equilibrada.
A associação permanece à disposição para contribuir com o debate público sobre o tema, com base em evidências científicas atualizadas e compromisso com a transparência."